Flor Insone

Das noites mal dormidas
nasceram flores negras
no rosto dela

Enquanto as velhas
perguntam tudo-bem
e você mente verdades

Parece não chegar o ônibus
Nem quem olhe e perceba
O que está para florescer

Crise no mundo

  dos negócios

Os prédios estão

valendo mais que

a paisagem

A poesia já não
 vale nada

  Bosch à tempos

 vende geladeira

Meu coração-alfaia

onde você ensaia

maracatu

Pássaro sem Asa

Libertei-me de tudo
E virei um pássaro
na gaiola de homem

Ode Mínima

Pequenos são,
meus prazeres.

Miopismo

Babe,
nesses dias de férias e verão
não te encontrei em lugar algum

na praia da solidão há turistas
as cervejas aumentaram de preço nos bares
e os picolés são vendidos derretidos

é provável que não estejas na cidade
que tenhas fugido do calor e dos tubarões

mas eu não enxergo as coisas assim
apesar de ser míope de pai e mãe
eu sei que você está por ai

K.O.

Tu me deu aquele soco

entre a boca e o nariz
doeu um pouco mas
logo eu comecei a te amar um pouquinho

e logo o meu amor por você aumentou

— o chute na boca do estômago
              valeu a pena! —

Quando finalmente
você me botou em coma

entendi que amor não é
coisa que se possa dosar

Verão

Do que vale o ano

 se nenhum dia se passou

Do que vale a rotação dos astros em torno do Sol

 quando não se consegue girar na própria órbita

 Somos praias que permanecem desertas
E o estio não parece tardar