segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Cantiga de Ninar

corro nu
arrastando escuridão
luzes estáticas da tua janela
no exato momento em que alcanço
o rodapé da pagina que lias
apagas o abajur
esmagas as folhas com tuas palmas
rasteira
caís
tropeças em escadarias de poças
que ao secarem não lhe trarão a superfície
doce esquecimento de perigos
profundo profundo sono

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Como incendiar Roma sem Nero?

respeite eles
os homens medíocres
os medianos
os seus valores que encontram em si
que se encerram
ali mesmo
suas conversas sobre
futebol automóveis churrasco
bicuda na pelota
farol acesso
cortes de carne
contra-filé da coxa
as tetas
o rabo
boceta
não julgais para seres inocente
respeite
como a cultura grega
que um dia ruiu pelo império bizantino
mas que sobreviveu ao império romano
vice-versa ou que se foda
não procure por você
repita comigo
não há erro
respire fundo
afine a lira rota
cultive a covardia
é fácil
aceite a violência alheia
o abuso gratuito
espetáculo romano
viu?
respeite
pois o publico ama
o corpo e sangue de cristo
o sacrifício de vossa opinião
a fraqueza dos que não julgam
de ao povo o que é de Cesar
dizia o vendedor ambulante
agrademos gregos e troianos

Barbie Boy

Te vi na esquina quando
meu olho grudou em você
no seu jeitão belo sadio forte
com um rosto de bebe
seus olhos fundo de piscina mil litros
MAIS BONITO QUE A BARBIE
dizia o corifeu a mim
amável homofobia apertada camisa branca permeável
um charme espremido em músculos inchados de veias estourada
MAIS BONITO QUE A BARBIE
digo és tesouro fotogênico escultura oca
self-made man ready-made
carapaça de molusco
modelo europeu americanizado
torneirinha, você me agrada o mundo com socos
mata-leões e heteronormatividades de primeira classe
MAIS BONITO QUE A BARBIE
um tesouro para os olhos
muito obrigado pela sua generosidade

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Praia da Solidão

Quando você bloqueou o sol e
desmanchou meu castelo de areia
não fiquei brabo admito

problema foi tua palavra nova
ter entrado em minha boca
e saído muito tarde

você costumava voltar
com conchas e animais mortos
cigarros e bobagens ditas em livros
nunca entendi

tenho acordado cedo
fugido de bike
de chinelo
conversado com deus
me alimentado de frutas

procuro outro significado

refaço o castelo com paciência
(ninguém nunca sabe o que quer)

penso em alguma anedota
enquanto você não chega

"o sal do mar é inocente
nada tem os nomes que dão aos bois
ser para quem for"