domingo, 28 de setembro de 2014

Comentários sobre 4 peças francesas


Monsieur Monde - Jean-Michael Ribes


“Um país limpo é uma cultura limpa” por isso, com sua senhora,
toma as medidas extranecessárias de quatro banhos diários
devora cigarros: chaminé em ponto de ebulição
benfeitor, mantém os agricultores do país
é um verdadeiro nacionalista!
lhe falta ainda os aplausos
o estado bélico-religioso
alastra sua própria doença
ausência de micróbios e os banhos diários!
higiênico Monsieur,
uma fronteira é uma linha invisível que delimita sua origem
a origem de toda a “imundice” que te persegue (PARANÓICO!)
Concha (sua esposa), possível insinuação castelhana
foi lhe uma aquisição, boneca murcha?
pai que trai o filho, ou o contrário?
ameaça ao ameaçador, se for possível
por favor, fique tranquilo, mostre seus documentos, 
E CALE TUA BOCA!
888

Agora Eles São Dois Neste Mundo Imenso - Enzo Cormann

Dois universos da mesma histórias

sabemos que o Primeiro fala diretamente com o Segundo
mas com que tribunal de ouvintes fala o Segundo?

o Primeiro faz o seu trabalho: averiguar
não quer respostas de garotinhas
(e para isso há suas panacéias sofisticadas de dor)
quer algo que não sabe o que é mas que PODE TER!
está sim, bem confortável no aparentemente rotineiro

o Segundo não tem nada, pelo menos é o diz
(Primeiro ainda não ouviu isto, poderia ser problema)
observa atento as ameaças que da boca saem com volúpia tirania

— O que diabos este quer de mim?

Tortura psicológica/momento suspenso

Podemos começar?

888

Do Luxo à Impotência - Jean-Luc Lagarce

Mil riscos tortos cruzam-se em um emaranhado novelo de lã
ao longe podem ser dois pontos seguidos de suas órbitas
pontos que encerram e que conectam-se sem se encostarem
letras palavras afonia fogem da escassez dos pingos de caneta
não seguido de sim, nunca ligado, ao menos que
escrevo para ser lido ou porque tenho uma doença
outrora convêm fazer isto: esconder atrás de si
dizer que não eu quem redijo ao remetente
organizar as estantes e mostrar minha coleção de livros
estar num café e não estar, lembrar onde esteve
monumentar o desprezível com luxo
ter medo (ou revés)
vontade ex nihil visível mentira
ser uma legião e não ser ninguém
momento de incompreensão
proteger o mais importante e intimo de todos
ser corajoso: impotente
terminar sem ponto final
trapacear, pregar uma peça

888

Isso Te Interessa? - Noëlle Renaude

O Pai lembra do Pai e diz as coisas do Pai
Bruto de eufemismo duro como concreto
Enquanto fuma um cigarro (e mais outro)
Adora o Filho que garantiu sua distância da família
Único amigo: o Cão
A Mãe não lembra direito
(Admite diferente do cônjuge)
Escondendo como pode suas neuroses
A Irmã que defende-se da violência
Ambas carregam a vaidade
Que as desmancha lentamente

Degenera-se a família, perpetua os tipos.

Flor de Origami

você bebe nescau
conta histórias sobre nós sem saber
inclusive qualquer coisa
com mostarda e você fica melhor
os cachorros sarnentos são belos
as crianças tem cheiro de manteiga
tua risada carnívora é flor dentada
mastiga saboreando sol
quando você fala gritando
(como se Janis tivesse no vinil)
filho-da-puta teu não ofende mas acarinha
você é feliz sem estar com alguém
de falsa modéstia nunca admite
por isso sua companhia é requisitada
em todos os restaurantes, eventos e praças
um tanto diferente
tenho que ter fé de que sou feliz
para sair de casa e ir até esquina procurar o que for
me incomoda a burrice alheia
mesmo que seja um tremendo burro
a principio somos distraídos
nunca nos ouvimos direito
nunca nos entendemos
nunca nos realmente olhamos
porque quando te olho
me distraio num rumo
num pensamento
não-pensamento
em algum lugar
não-lugar
logo você está em tudo
e antes do combinado está lá
perdida

(autoerotização cotidiano)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

DOMINATRIX

Pisa-me com o desconforto de teu salto
tatue o mercúrio das tuas presas
corta-me em pedaços e misture com a ração dos porcos
destile a essência/deleite mortal
confortável prisioneiro dos vícios
DE-ME ALGO PARA ESTANCAR O SANGRAMENTO
afiado preferencialmente
ampute a dor
pensar não amo
         convencer-me enfim
prazeirosamente engolir desprazer
cínico somelier - nada entende
a sobremesa será vossa morta inocência

não me digas como sofres!

(autoerotização indulgente)

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

SUBVERSIVIDADE ENCARCERADA

Mãe de filhas órfãs traças & bruxas
Viúvas negras criadas aos abutres necrófilos
Pais de alma incestuosa
Acidente fatal fortalecedor parafraseado popular
Medeias teatrais espontaneamente embriagadas
Do que é mais vontade em potencial libertador & humano
Lutam melhor que Édipo (aquele bosta)
Contra o destino dos "omens"

(fetichismo grotesco feminino)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Preso Lá

Houve esta manhã
como houverão outras
pelo meu engano
foram todas iguais
não houve nada
aquém nem horizonte
só pilhas e mais pilhas
e não paravam por ai
pilhas e pilhas e mais
entortavam o assoalho
esmagavam a minha fronte
(e mais pilhas de pilhas em pilhas)
tudo se fechava em preto
mergulhei igual tio patinhas
procurando um brilho dourado
agarrava juntado as vidraças do peito
atravessado por uma agulha
arregalei os olhos como
 havia feito outras vezes
 fechei-os
demitido dos dias iguais
mas com a recisão para assinar

com possibilidade de
ainda estar preso aqui