quinta-feira, 28 de abril de 2011

Denise e O Problema

A empoeirada cidade se despertava em um dia cinzento, confesso que a vontade de voltar para minha cama não era das menores, mas por motivos comuns da vida cotidiana, eu me encontrava acordado. Ao fundo ouvi a buzina de um navio, ele estava partindo. Eu senti a inevitável vontade de partir também, mudar, pois as coisas não andavam muito bem, porém já haviam sido piores.
Fui até o portão da casa do vizinho, ainda por cima eu me encontrava de pantufas femininas que deixavam meus calcanhares de fora e espremiam meus dedos (panfutas que eram de Denise), e assim furtei o jornal desta manhã, voltei para casa normalmente e preparei o café.
Denise acordara a pouco, como de costume ela estava com o cabelo despenteado (que me cativara), sentou-se a mesa enquanto eu lia o jornal, a falta de assunto entre nós era grande esta manhã, o que era bem incomum afinal eu sou um geminiano e ela uma libriana, eu só observara ela a tomar café, com a mesma cara de "tenho-um-problema-que-eu-não-consigo-resolver-sozinha-e-não-vou-pedir-sua-ajuda" (acho que exagerei um pouco), aquilo era algo que me angustiava muito pois sentia que ela parecia aborrecida e que precisava de ajuda, a indaguei algumas vezes perguntando o que havia de errado, sem sucesso, ela nem ao menos abriu a boca para responder, sem opção tive que apelar para algum gesto idiota e tosco, que de fato é típico de minha pessoa, (sem dúvida alguma algo esquisito e cômico), ela pôs-se a rir. Uma risadinha e um suspiro, foi tudo que recebi, mas daquele breve suspiro, eu juro que ouvi bem baixinho o problema dela.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cultivando Versos

Plantei meus versos
como sementes

cuidei deles como uma flor.
no outono, cortei um ramo.
na primavera,
ganhei um amor.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Boca Costurada

O dia parecia eterno,
E o lúgubre corvo negro se ria,
Enquanto parte de mim morria,
Por viver este Inferno.

Já não aguentava levantar
De braços atados,
Com a boca costurada,
E os olhos vendados.

Deitado em meu fúnebre leito,
Como qualquer anjo torto,
Eu já me encontrava morto.

Gritei como nunca havia feito,
Porém não se ouvia nada
De minha boca costurada.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sonhos de um Aventureiro

O sol estava indo por detrás das árvores do Vale de Libra, e o simples ato de remar o barco fazia pequenas ondas que se chocavam com outras ondinhas que acabavam por formar novas ondas que assim prosseguiam infinitamente. O reflexo do sol na água brilhava como se diamantes estivessem no fundo da mesma, observamos por muito tempo o fascinante reflexo. Ao chegar à costa da praia, caminhamos pela areia enquanto a espuma das ondas encostavam em nossas sandálias e pés.
Depois de cruzarmos o Vale de Escorpião, encontramos alguns ciganos que carregavam uma cruz feita de jade, com eles fumamos no cachimbo de concha que os próprios tinham feito, nos sentamos e sonhamos um pouco, enquanto nos traziam vinho, nesse momento os meus pensamentos foram cristalinos.
Sentados na cadeira feita de bambu, bebericando daquele doce vinho. Um reino de formigas caminhava pelos meus pés. Grilhos rangiam. Pequenos circulos no fluído dos meus olhos, enquanto eu observava a garota indígena de olhos negros, cortar e cortar a luz, até que ela cortou todos os fios de luz, me deixando na penumbra. Acordei, sem saber se tinha acordado de um sonho, enquanto Valentino remava serenamente pelo Vale de Capricórnio.