sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Ressaca de Segunda

Não sabia nada
caiu em certas responsabilidades
era domingo de churras
a casa pantanal de imundice
crocodilos na piscina de 1000 litros
peixes dormiam sangrando na cozinha

tomando exageros
é domingo de churras
engavetou problemas e ficou sem horas
conversou sobre ovos quebrados
bamboleou, o coração caiu na grelha
exagerado e de viva estupidez
naufragou no iceberg do copo

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Daniel Risadinha

É inegável que todos sempre perguntam sobre Daniel e sua estranha história de vida. Eu o conheci, morava com ele, eramos amigos de bera, mas quase sempre nossos horários eram diferentes e pouco nos encontrávamos em casa. Nos finais de semana bebíamos, quase sempre já nos encontrávamos cozidos. O hábito da mentira em suas anedotas, deixava sua prosa escorregadia e davam a ela um frescor ao repeti-las.
Daniel foi parido usando óculos escuros, desde então nunca mais o retirou, nem ao menos para dormir ou tomar banho, no breu noturno ou no corredor sem luz. Além disso, durante a sua gestação, sua mãe alimentava-se com cevada, acostumando-o com a bebida. Aos 13 anos, ganhou a jaqueta de couro jogando truco num bar, esta que já possuí forma e vida. Aos 16, uma carona da policia até em casa. 
Seus óculos não lhe saem da face, é impossível retirar-los. Não possuí globos oculares. Outros boatos surgiam, dentre eles, o da estranha Melissa, se ressalta: Enquanto dormiam juntos, esta resolveu retirar-lhe os óculos, e por trás das lentes escuras não encontrou nada, somente uma ausência. Dizia, porque ele não expressava sentimentos além de um sorriso que não retirava do rosto, mas todos nós sabemos do coração de manteiga que Daniel tem, assim como a sua falta de humorismo.
Mas quem é Melissa? Garota que foi abduzida por alienígenas e até hoje não toma nada a não ser seu chá de guaco, e desconfiam (os espertos) de que a erva seja outra. Sempre conta suas mentiras com seu impenetrável cinismo, ou será somente ingenua? O que importa é o que foi dito. Sua mãe vive dizendo por ai que ela não deixa de tomar os remédios e acusa Daniel de ter degenerado a filha.
Outros dizem que ele nasceu com olhos, mas que estes foram consumindo-se pela insonia e as consecutivas ressacas. Realmente, quando este não estava estudando, estava bebendo, ou estudando bebendo. Muitos dos que dizem pouco conhecem esta ilustre figura. Ele que pouco costuma falar, desde que voltou das férias de verão, estava a falar ainda menos. Suas principais expressões eram gestos: aponta-me o indicador, me nega com a cabeça e me agradece junto a palma das mãos e se inclinando. 
Durante o jantar, sentou-se a mesa e depois da terceira lata de cerveja começou a rir. Contei a ele uma história engraçada que não lembro. Ele ficou triste, não entendi. Tentei anima-lo, abrimos as latas e viramos num gole. Foi então que me contou a sua história. 
Estava na casa de sua mãe, assistindo um filme de terror na televisão, já devia passar das três horas da madruga e sentia fome. Ao abrir a geladeira se deparou com um pote de pepinos, deviam estar lá faziam dois anos, a água estava amarelada. Abriu: cheirava mal, mas ainda eram de pepinos.
O vento parecia uma gargalhada infernal. Achava graça, mas não tinha ninguém para compartilhar o momento, uma bosta de situação. O dia estava quente pra caralho, resolveu sair de casa e ir beber no posto, o único estabelecimento aberto no momento.
Caminhou pelas ruas do bairro tranquilo. Dois ou três postes fraquejaram as luzes, mera coincidência. A gargalhada novamente surgia. As ruas estavam todas desertas. Entrou num beco para cortar caminho, a gargalhada voltou. Avistou no final da rua: um anão. Podia ser tanto um bêbado ou mendigo, por isso não se assustou, sabia lidar com esses tipos. Se aproximou, o anão tinha um enorme bigode e uma barbicha triangular. Não conteve a risada, o anão fez o mesmo, só que a sua era extremamente alta e aguda. O anão indagou-lhe se queria comprar cerveja. Não sabe direito o que transcorreu, apenas que o anão vendia cervejas pelo preço de uma alma, brincou. O anão ainda disse: toda cerveja do mundo! Indubitávelmente aceitou. E dentro de uma mochila encardida e fedida, retirou uma sacola com dose latas. Bebeu a primeira e foi se esquecendo.
No outro dia, acordou deitado na calçada da rua de casa. Segurava a sacola, com as dose latas, tão firme que não conseguiu mais solta-la. Estavam todas geladas, abriu e assim rebateu a ressaca. Seus óculos disfarçavam seu enjoo e sua jaqueta nunca parecia se sujar.
Chegou, exatamente na hora do almoço. Sua mãe preparava a comida, perguntou-lhe porque havia esquecido a TV ligada, o picles aberto em cima do tapete e por onde diabos havia passado a noite. Não respondeu, e sentou-se no sofá. E ali ficou  sentado, catatônico, até o dia em que resolveu voltar.
Comprou as passagens e aguardou o ônibus por duas horas na rodoviária. Pagou o que se paga em duas coxinhas, por meia coxinha. Sentou-se na janela e do seu lado uma loira peituda, sendo que mulher pra Daniel é 80% peito. A desgraçada não parava de falar. Abriu a mochila e pegou uma bera, alucinando a risada: tudo ficou mais fácil.
Ele que era desanimo, começou a dar trela para loira. Ela infelizmente aceitou algumas latas de cerveja e com uma gratidão imensurável devolveu-lhe tudo o que havia tomado, em cima dele, três vezes mais fermentado do que o normal. Ela chorava e pedia desculpas, tentou consertar dizendo que ele havia uma fabulosa risada e que não deveria perde-la jamais.
Ele foi ao banheiro para trocar de roupa, ela decidiu ajudar-lhe. Estavam os dois apertados, entre atrito das calças jeans e um cheiro catinboso. Ele arriou as calças, não costuma usar cueca, e sentou na tampa da privada. Ela sentou na dele, ele entrou na dela. Ela gritava de maneira desengonçada, em meio a arrotos frequentes. A porta se abriu, no exato no horário em que a quicada da loira, fez com a bunda de Daniel rompesse a tampa do vaso, entalando-o. Era o anão que estava na porta, e começou a comer o cu da loira, que estava dormindo em coma. Daniel mandou ele pra puta que o pariu, mas foi ameaçado: "que tomasse cuidado, pois iria perder tudo e muito mais", e recebeu uma marretada da cabeçada do cacete do anão.
Retomou a realidade e tava sentado no mesmo banco, a loira do seu lado ainda dormindo. Com a latinha, continuou a sua maneira. Antes de chegar à cidade, a garota insistiu em elogiar sua risada mais uma vez, disse mais: queria rouba-la. Ao sair despediu-se dizendo que iria tê-la de qualquer maneira, saiu rindo como se houvesse graça.
Ele interrompeu a história. Mudo, abriu mais uma lata e de dentro dela saiu uma gargalhada. Sorriu, mas seus óculos já não podiam mais dissimular tristeza.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

51

engoli o mundo
com cachaça
e caldo de cana
o mundo me fez