quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

              Voar

Me livrei dos sapatos-grilhões
     Os pés plantei para se tornarem asas
Pela janela do meu peito para
                        dentro de mim
                                                       voei

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Entrevista com K.

 Depois dum cansativo ensaio, fui me ver com ela, havia dito que precisava falar comigo. Espero que não seja nada de muito grave, sabe como é, nem sempre passamos por bons bocados. Sou humano e todo esse meu medo de ser algo importante é consequência de ser humano. Não existe nada de errado, então problema não tem. Mas caso seja importante?
Ela abriu a porta, era perceptível: o esperado. Desde dias passados ela estava remoendo, não os problemas passageiros: a conta de luz, a prestação do carro. Problemas superficiais, não podem ser remoídos por tanto tempo sem se desmancharem. Afinal, qual a menor partícula da matéria? Óbvio que quando se tem algo para dizer, é que não comece pelo o assunto de interesse. "Agonize a vítima", não é exatamente o que pretendem fazer as pessoas, mas é o que inevitávelmente acaba ocorrendo: uma conversa sobre absolutamente nada. Perguntei os motivos e respondeu:
 — Acho que estou grávida.
 — Como assim acho?
 Disse que entendia do seu corpo (tinha feito o teste e tinha não me contado). Quem sou eu pra negar? Ela estava mais roliça realmente, mas não esperava que fosse. Fiquei surpreso, quem espera um filho? Ou uma filha. Eu queria, não naquele momento; mas se não naquele, talvez nunca. As coisas são porque são pra ser. Não é? Abracei-a demoradamente e beijei-a. Falei que marcaria os exames no outro dia. Sai atordoado pelas escadas abaixo, dopado. No outro dia, fiz o que disse: marquei.

 Fazia semanas que eu não conseguia compor uma música, naquele dia foi diferente. Me vinha as vezes a idéia de que poderia ter sido outra notícia: ela poderia dizer que conheceu outro homem, que iria com ele pra França ou Portugal, num transatlântico ou num zepelim, viveria estudando as plantas, catalogando e toda aquela lenga-lenga tediosa. Ele teria uma coleção de borboletas em quadros. Eu tomaria a liberdade de ficar triste e prosseguir com essa minha vida com a banda. Sit and grin, the money will roll right in. Não acredito na liberdade, e não foi nenhuma coincidência a letra tratar justamente sobre isso. I'm going to Hollywood. 
 O exame era para o mesmo dia. Tempos Modernos. Se exige pressa e a pressa exige a mecanização. O inesperado é, quase sempre, uma explosão. No caminho para o consultório, resolvi ir pela feirinha. Parei obcecado: um vendedor ambulante de peixes, retirava do isopor com gelo, pesava-os os rosados, embalava num jornal e entregava ao comprador: recém-nascidos. Alguns choravam, outros eram pacíficos como Buda, aceitando a falta de opções, sem entender bem. O incrível era estar apenas quinze reais o quilo, bem menos que a consulta, ou os gastos futuros. Não sei. Espero que o meu não seja um. Que meu filho não seja um. Uma segunda letra iria surgir.
 No consultório os olhos tinham um prazer forçoso para me constrangir. Suava frio. Secava as mãos na calça jeans encardida de tempos em tempos. Quando chamaram ela, não tive coragem de entrar na sala. Senti que meu estômago se tornava o abismo de uma angustia intragável. É verdade,  ontem não fui tomar minhas pancas no São Francisco. A porta se abriu, logo entrevi uma cabeça que  novamente a chamou. Ela folheava uma velha revista, fazendo as palavras-cruzadas mentalmente (pois já estavam completadas). Levantei juntamente, e antes de entrar olhei pela janela do consultório e lá estava o vendendor na sua barraquinha. Mudei de cor por tempo suficiente para estampar uma expressão apatetada. Com a garganta seca, me vinha entalado pensamento: que meu filho não seja um. Entrei querendo estar em qualquer lugar, no futuro ou no presente, tanto faz.
 Tínhamos uma meia dúzia de músicas e uns covers mal-tocados, quando fizemos o primeiro show. Uma derrota. Essas coisas que as pessoas dizem, que serve pra "aprender". Depois deles houveram outros, mas o primeiro show se tornou uma piada, e só. Toda a desgraça é uma ótima piada. Um dia fomos convidados pra tocar numa rádio universitária que estava tentando ferver a cena local. Haviam ouvido uma fita cassete com um punhado de sons, gravado no sótão da casa da minha falecida vó (minha casa atual). Gravação podre, cheia de chiados, e os babacas gostaram. "Vocês parecem que tão tocando trancafiados num banheiro dentro dum porão que fica dentro duma caverna", resumindo: essa era a espécie de elogio que ouvíamos daquela gravação.
 Não sou dos guitarristas virtuosos, por que me irrita a virtuosidade desnecessária, que à rigor, não é uma virtude alguma. Aquela coisa bem polida, sem arestas. I like dirt. "Seu som é imaturo, que música agressiva, tem como abaixar um pouco, coisa de adolescente", estou fadado à ouvir essas merdas, por fazer o que gosto. Tenho que admitir que algumas músicas realmente são assim, mas tenho outras músicas que desconhecem. Que se foda, não preciso saber o que pensam. Minhas depressões, minhas constantes perdas de lucidez, a futilidade, o estranhamento, tudo isso me faz compor.
 A rádio desencadeou shows em regiões vizinhas. Pequenos festivais. Um circuito. Desenfreadamente, tudo o que eu sempre quis, e, puta que pariu, como eu estava feliz. O que é um mal sinal, porque não consigo compor, minha cabeça se perde no banal. Tudo soa falso. Odeio esses períodos. 
 Há pouco tempo viajamos todos para Londrina, inclusive Pamela; enchemos a cara, fumamos muita erva, cheiramos e o de sempre. No show estava ensopado de suor e as luzes davam um ar soturno pra tudo. Das sombras surgiam mãos, eu ouvia gritos enfurecidos. Estava tudo errado, chapado pra caralho. Rir, de todas, não é das piores soluções. Será que ela já estava grávida?
 Uma groupie me fitou o show inteiro, convidou pra uma festinha no apartamento dela, era perto dali, disse: vai ser divertido. Cheiramos uma vez mais. Eu me sinto bem. "Como James Brown", completou Jimbo, o baixista que se vestia de cafetão e sorria canastrão. Na primeira porta que eu entrei do apartamento: três mulheres completamente nuas em cima de uma cama redonda, se chupavam, apertavam-se com as unhas, gemidos de prazer abafado. Na sala me entregaram uma pílula, tomei e saí. No corredor, as luzes se apagaram e pela camiseta me puxou uma mão. Fui guiado até um outro quarto. Ouvi fechar a porta, pôs a mão na minha braguilha. Acendi a luz. Apaguei, empurrei Julie contra a parede. Pamela que se foda! 
 Estávamos afundando em drogas, sexo e tudo que tínhamos tudo graças ao dinheiro. Um produtor musical ligou falando que tinha visto o show em Londrina e blá-blá-blá, queria lançar pelo seu selo independente. Pensar que em Curitiba não encontraríamos esse filho da puta. Minha alegria monótona estava no fim. "Parabéns você vai ser pai", anunciou o Dr. Fagundes para mim, fiquei lesado. Precisava por a cabeça no lugar. Aguardei como nunca pelo anoitecer. Fumei um baseado antes de sair de casa e fui pro São Francisco, mas antes passei no mercado comprei um conhaque.
Ultimamente os shows estavam rendendo uma grana, me ajudando a me manter healthy. É confortável ficar triste. No bar todos estavam lá: chatos poetas ruins pedantes, estudantes de-qualquer-coisa, garotas saudáveis, vermes, cachorros, hienas, veados, ursos, tigres, porcos, lagartos, dragões, macacos, elefantes, girafas, lobos, até mesmo ninfas. Beber é um depressivo, mas quando se está triste é como se somássemos dois números negativos e formássemos um positivo. Com um sorriso sarcástico ou ingênuo, dá no mesmo, Jimbo e Caio chegaram.
— Adivinha cara, adivinha o que a gente arranjou
— Uma carta com anthrax?
— Não, deixa de ser tapado, algo muito melhor.
 Não existe coisa melhor entrando pela veias, amorosamente devorando-preenchendo e tornando oco. Fomos todos para minha casa, que se tornaria um antro, a porta dos fundos ficaria sempre aberta, vermes e hienas iam e vinham, riam, sugavam, transavam, injetavam, fumavam, bebiam. Estava farto de tocar, de ter que compor, queria o prazer imensurável que é ser engolido pela paisagem, ser a paisagem. Nessa época, eu me olhava no espelho e dos meus olhos eu não via nenhum sinal de alma, era uma carcaça sem essência. — Eu não tenho alma, nenhum humano pode ter alma, mas todos querem. O meu reflexo se mexeu, turvou-se a imagem que ria mostrando as presas. Os olhos que não se fixavam, ao mesmo tempo que não olhavam pra nada em si. Ele (ou eu?) pôs um braço na moldura do espelho, fazia força, gritava com um desespero ensurdecedor, não conseguiu, voltou pra dentro da sua prisão. Gritou com mais desespero, ânsia, medo, raiva e se projetou novamente. Saiu do espelho, que se quebrou, caiu no chão sujo de mijo, estava com os braços cortados. Do chão, virou o rosto pra mim, se levantando, tinha as expressões animalescas. Tremia. O que fazia a minha imagem em pé na minha frente? Me enforcou com as duas mãos, sufocando, lentamente senti meu coração, eu não queria vencer, desistindo de lutar.
 O nada que é tudo. Como eu odiava viver, eu só queria mais um pouco, pra evitar ter que suportar essa merda. Dias acordado, cansado, sem conseguir dormir, trancafiado em casa, onde sou dono do bolor, das teias de aranhas e do eterno cheiro de sopa. Nunca tive notícias da minha mãe, talvez fosse uma puta, sempre acreditei ser órfão. Afinal, estamos todos sozinhos nessa porra. Meu pai foi encontrado com a cabeça dentro do forno, morto. Nesse dia ninguém foi me buscar na escola, esperei por vovó, que nunca me contou o motivo. Acordei sujo de mijo. A delícia que parece escorrer lentamente como um afago suave. Levantei, peguei uns cigarros amassados, procurei um isqueiro em casa, nada. Esqueci o que estava fazendo. Abri a geladeira peguei uma cerveja. Lembrei. Acendi no fogão, subi as escadas cambaleando. No sótão fumando e bebendo, gravei uma fita com algumas faixas. Tudo estava lacrados na fita magnética. O telefone tocou, desci as escadas. Gostei bastante do som de vocês, e uma pá-de-merda, disse o produtor.
 Pamela nunca parava de tomar porres, mesmo depois de descobrir da gravidez, ou de fumar um baseado; mas cheirar, dizia que havia parado. Ela que costumava me olhar com peçonha, não me passava muita confiança no seu afirmar. O que me incomodava nisso, é que ele inevitávelmente nascerá numa realidade miserável, inevitavelmente será um. Justamente o contrário do que eu quero. Me forçar a ter que viver pra ensinar como a vida é uma merda, ver ele quebrar a cara. Vai cometer todos os meus erros (vai descobrir erros melhores). Não quero viver esse tempo. Ele vai chegar na mesma conclusão que eu. Vai desejar a morte, mas algo vai mudar ele, assim como ele me mudou, vai acabar estendendo o tempo, até tudo que ele pensar perder a validade. Se tornará esquecimento. Abandonado numa esquizofrenia bolorenta. O que exatamente está acontecendo comigo? Não quero viver pra sempre, um maldito ciclo desnecessário. Eu pensava em dar chá abortivo, ou. Acabei não fazendo porra nenhuma. Sou um rato. Quando me ligaram avisando que meu filho ia nascer, eu estava completamente entorpecido, desconstituído da realidade, não percebi o telefone tocar, ouvia só um eterno sino que reverberava por toda a vida, atravessando o tempo, uma nota que resumia a perfeição. Se me arrependo? Não, ele nem pode se importar também. 
 Depois que nasceu, me senti um lixo e demorei pra perceber que sou um. Eu já estava cheio da grana, o segundo album fora lançado, mais uma caralhada de show. Agora, até gostava do garoto, deixava a vida menos mecânica. O problema, já sabemos, é que nada é eterno e quando se sabe disso, que se está sempre na beira de cair no abismo e não saber por quanto tempo vai ficar atolado na merda. A paranóia  de tudo está prestes a fracassar. Quiças, já se esteja no abismo. Esperar é uma merda, mata de cansaço. Por que você não cresce logo, pra eu ter com quem conversar? Será que eu ia conseguir te explicar?
 Na ultima música do show Jimbo arremessou o baixo contra a bateria, destruindo tudo que havia no palco. O público (lógico) foi ao delírio. Caio furiosamente socou o rosto de Jimbo, até tirar aquele sorriso. Agora, ele usa dente de ouro. Mas já fazia um tempo que nada andava bem. Eu desliguei o amplificador, saí, não queria mais nada daquela banda. Começaram a me ligar dizendo que estava tudo bem entre eles, tentavam a me convencer à continuar, mas eu já estava farto. Falaram do meu filho, foi a gota d'água, desliguei. Montaram, cada um, uma banda. Não fizeram sucesso. Se conseguiam tocar era porque Jimbo era o baixista que tocou na banda Y e o mesmo com Caio. Pamela depois que o filho nasceu afundou num lamaçal (já estava nele a muito tempo), estava usando cada vez mais drogas, que eu tanto me esforcei pra parar, depois que a banda acabou. "Você está me traindo, você não me ama, eu odeio você", costumava berrar por qualquer motivo, não era raro ver ela espumando pela boca com um olhar psicótico, segurando a criança como se estivesse protegendo ela do mal que não faço, eu me refugiava no sótão. Nessa época ninguém mais aparecia lá em casa, nenhum filho da puta aproveitador de merda. Parei de dar dinheiro pra Pamela e ela sumiu de casa. Ela vivia na rua chupando pau por uns trocados. Já haviam me falado nisso, de que ela era assim. Não importa também. Tudo é descartável: o amor, o dinheiro, a vida. Por esse prisma, o suicídio parecia uma boa maneira de encerrar tudo. Me veio na cabeça de quantas vezes eu toquei minhas próprias músicas, e quantas vezes mais eu iria toca-las (da forma errada ou não), e quantas vezes eu esqueci a letra e quantas vezes mais eu reinventária uma frase. Quantas vezes um viciado pela vida pode recomeçar? Quantas vezes ele quiser, correto? Mas e ai, vou ficar na repetição de ciclos dentro de ciclos? Como o tempo custava pra passar. No começo criei manias, ou hábitos (como queira), me ajudavam a matar o tempo. Todas as hienas olhavam pra mim e riam, os vermes só conversavam comigo pra me sugar, queriam minha opinião, queriam que eu falasse alguma merda pra me darem uma rasteira. Aprisionava-me em casa e ficava feliz por saber que existiam alguém no mundo mais preso do que eu no Japão, na Rússia, ou fora de casa. Sei-lá-quanto tempo. Se sabe que a vida é um lixo, quando se espera na fila do mercado, ou pela consulta no dentista. A espera é uma prova, você vai voltar a esperar. As coisas vão quebrar e você vai ter que consertar e consertar e.
 Quantas vezes me olhei no espelho aguardando aquele reflexo maldito sair, ou acordar de novo dum sonho dentro doutro sonho. Era dia cinco de abril, aniversário do meu filho (havia esquecido) estava com a gravata pendurada, pronto para por o pescoço. "Admito", ele riu e prosseguiu, "sim, morrer igual um velhote". Quando ouvi a porta abrir e lá estava meu filho. O inesperado aconteceu. Nunca haverá uma repetição como essa, entende? Me encontrei num estado leve, como o Satori. Abracei meu filho tão forte no meus braços, meus olhos mareavam. Não estava triste nem feliz, pela minha cabeça se passou um cena:
 Andava de mãos dadas pelo centro com vovó, quando um sino começou a tocar. Vibrava insasiavel, por cima dos murmúrios da cidade, do céu da tarde, do vento tão pueril e melancólico. Em momento algum nada deveria ser. Acordei com a tua ligação, e ainda não sei porque aceitei. Tô cansado de falar, aceita um chá? Depois vai transpor a entrevista da fita pro papel, como vai fazer?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

nº1

A morte beija
e deseja saúde
aos que vivos
aproveitam.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Novíssimas Noticias do Amor



VENDE-SE PRIMAVERA

(Há coisas que não tem valor)
Os amantes, que nada sabem
 do comércio, não se entendem,
 negociam na floricultura por
uma primavera a mais.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Batalha Naval


Você
é um ponto (como eu)

dois pontos no universo
 perto ou longe

dois pontos que
   se afastam
      se aproximam

você um ponto em algum lugar
outro ponto em algum lugar eu

dois pontos perdidos
               de cá para lá
   de lá pra cá

dançando no convés 
enquanto afunda o navio

sexta-feira, 23 de novembro de 2012


Oblio
 para Anisé
     A palavra de origem incerta, transita por épocas com significados que divergem, ao mesmo tempo que convergem à provável raiz da palavra; oblivius, do latim; esquecimento, que ao mesmo tempo, é raíz da palavra Obliterar. A palavra também aparece em relatos españois no século XVII. A influência árabe, deixou suas marcas no português (e no español), que é percebida em palavras como; almirante, açúcar, álcool e entre outras. E justamente em relatos, datados de 711, época em que ocorreu o deslocamento militar de tropas islâmicas, sob comando de Tárique, a palavra surge e, logo; some do léxico árabe. No português surge a primeira vez numa carta de Vasco da Gama para o rei Dom Manuel I, avisando que o caminho que tinha descoberto não deveria cair nas garras do esquecimento. Após isso, o escrivão Pedro Vaz de Caminha, também utiliza da palavra numa de suas tantas cartas marítimas, relatando sobre; o provável desvio de rota, devido à perda de memória do navegador Pedro Álvares Cabral, desmentindo os livros de história. Em lendas da extinta tribo Urucu, há relatos de um Deus que tem como principal função a de regular o mundo, tanto dos mortos; quanto dos vivos, a partir; do desgaste, da deterioração, do fim, e claro; do esquecimento. O que remete à uma tradicional lenda japonesa; da época feudal, sobre um garoto que após ser atingindo por um raio, recorda com detalhes, todos os dias da sua vida, juntamente com o que aconteceu em cada segundo, o que se torna um problema de loucura e solidão, pois aparentemente agoniza eternamente em suas lembranças. No alfabeto hebraico, das vinte e duas letras que existem, dizem que existiu uma vigésima terceira; a letra perdida, que só será redescoberta no final dos tempos, e não se sabe o som dessa letra; tanto pode ser uma risada infantil, como um grito desesperado ou simplesmente o silêncio absoluto. Os que se julgam sapientes desconfiam (afirmam?) ser o H, e que nunca o mundo irá acabar. Impressionante o número de obras que se destinam à esse assunto, sem nunca, jamais explicar o real significado da palavra. É como se a palavra nunca houvesse existido. Quando pequeno me deparei com a palavra a primeira vez, em um dicionário Ladino, juntamente com o menorah, kiddush, etrog, o kipá do vovô, entre tantos outros objetos empoeirados e no sótão. Hoje a palavra me voltou a cabeça, depois de ter olvidado o conto que eu iria escrever. De qualquer forma, aqui vai uma definição breve da palavra:
          oblio
    1. peste desenvolvida a partir dos primórdios da existência da consciência e da tentativa de classificação linear.
    2. aquilo que se destina à regular o caos.
    3. o esquecimento que está fadado tudo e todos. 
    4. conjunto de nós que conecta o ponto, onde se está todos os pontos. 
    5. solução atemporal para se viver sem preocupações futuras.
    6. inexplicável gatilho para a felicidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

Doppelgänger



Quando sou casto
 ele está a fornicar
 quando estou me saciando
 ele está com fome

Então
 me esmaguei com uma bola de aço
 para que ele pudesse voar
 e comigo morto
  estaria livre

Sendo o suícidio um pecado
 Santifiquei-o


Estou
 na sala de esperado do limbo
 aguardando a hora para
 enfim acertarmos com Deus
 as contas como partes dum só

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sem Título

  Se me recordo o dia estava cinza, chuvoso. Dia típico para se ir na biblioteca e ler algum livro de bolso que tem lá, e de fato, foi exatamente isso que eu fiz. Após 4 horas exaustivas me alimentando das letras, me bateu uma tremedeira no queixo, apesar de estar com frio, "não era frio"... Era talvez abstinência de cigarro, de álcool ou até de mulher.
  Saí da biblioteca como todo mundo normal faz. Fui um fantasma sonambulo que trepidava o queixo. No caminho de casa debaixo de uma metralhadora de tiros d'água, resolvi parar numa banca de jornal e comprar os malditos cigarros Obeliscos. Acendi com, o meu belo, isqueiro preto com detalhes em bronze da marca Copper Moon, que havia comprado ao acaso. Minha mandíbula inferior parou de tremer, resolvi que antes de ir pra casa eu devia passar na cafeteria, que era como uma segunda casa. Cheguei a tempo de pegar o turno de Nadie.
  Nadie e eu temos uma relação sem compromisso, um affair de relaxados... como, eu, gosto de nomear. Ela me atendeu com um sorriso nos olhos castanho-de-raios-verdes... Perdi-me.
 O mesmo de sempre: um café expresso. Ah! Esqueci de avisar-vos que antes de entrar na cafeteria, eu já havia terminado o primeiro maço de cigarro, porém antes mesmo do maço ter chego ao seu, infeliz, fim, a tremedeira no queixo havia retornado. Não era a falta de cigarros. A gentil moça entregou meu café, junto com um guardanapo; escrito:
                                           "DAQUI A TREZE MINUTOS, ME ESPERE LÁ FORA", estava ai; um bilhete que para mim era a antidoto daquele algoz tremilique. Terminei o café, queria pedir mais um, fiquei indeciso entre um café russo ou um café irlandês. Acabei pedindo o mais barato, que não era nem russo, muito menos o irlandês, mas sim, o tupiquinim (exímio patriota que sou!); café com cachaça, tratei de tomar em um gole voraz. GLUP! Caiu batendo nas portas do estômago.
  Fiquei esperando os minutos que restavam por Nadia. Esqueci de avisar, também, que Nadie não é uma argentina qualquer, ....(não havia comentando sobre a nacionalidade dela?)..., ela, assim como eu, gosta dos entorpecentes, e por muito tempo ela foi minha fornecedora deles. Isso só a deixava mais atraente para mim, o motivo era óbvio: não tenho que explicar-lhes. Esperei fumando mais um maço de meus amiguinhos tóxicos. Não demorou muito até que ela pareceu, fomos caminhando debaixo do meu guarda-chuva. Ela havia esquecido o dela em casa.
  O apartamento dela não era muito longe, não tardou para chegarmos. Me ofereceu um chá, que aceitei e em troca lhe ofereci um cigarro, ela não recusou. Tomamos chá, enquanto fumávamos e arremeçavamos conversas janela à fora. O que mais me cativa em Nadia, (além dos alucinógenos), é a incrível habilidade que ela tem de conversar sobre uma vasta gama de assunto úteis e inúteis.
Estávamos deitados na cama. Não preciso dizer, certo? Me senti estranho; a visão ficou turva. Desconfiado, perguntei:
— Nadia...
     Eu...
    não...
 tôôlee...
    gal.
— Não houve resposta.
    Só uma risadinha,
  desavergonhadarisa.

   Estávamos na cama, que-seme-xia-como
  um selvagem animal

  F(((AAaaaaaaaa)
   a(OOOOOOOOOu)))
 (¡)lei(!))):
            — Essacamaparece
              um animal selvagem,
              já pensou em adestrar?

  Nadie era uma amazona com os longos cabelos louros soltos, dominando o animal com as rédeas, cavalgamos a cama pela floresta amazônica, estávamos numa corrida pela selva, ela não parava de gritar, uma oração em tupi

  A cama voltou ao normal, tudo parecia estar... Bem?
  Eu olhei para fora da cama e estava à deriva no mar

— Nadia te-tenha cuidado com os croôcodilos, e-eles podem apa-parecer-r a a qualquer hóra. — Adverteu-a, mas ela não entendeu.
Subitamente o telefone começou a tocar, ele atendeu, era Nikolai perguntando:
— Cara, onde 'cê 'tá?
— Cararalho cara, tá tudo I-MUN-Daan-do... Logo os croôcrocôdilos vão comer a gente... Ajude!
— A gente quem? 'Tá doidão, ai, maluco beleza?
— Cha-ma-ma a guarda costeira! Me ajuda. PORRA!!
— ...
— SEU RUSSO FILHO DUMA CADELA!!! Não vai me ajudar?! QUE SE FODA!
Antes que ele pudesse terminar a frase o telefone foi desligado.


   Comigo mesmo, até o amanhecer:

                Dormir, o que é dormir quando se está drogado dessa maneira? Dormir é estar acordado e estar acordado é estar drogado. O caos de uma mente convulsa que baba a realidade derretescorre dilatacontrai é colorida cinza preto branco não é nada é luz. A amazona a cama o chão o teto a TV a rua o céu o etc. Tudo é uma coisa só (tudo sou eu) eu sou... quem sou (eu) se não for você (quem sou) eu? não sou tudo? quem (é você) que sou eu(?) (quem) (é) tudo além de mim ser?
Tudo pulsa pra mesma direção nada pode ser nomeado: As formas se torcem até se tornarem outra: Um triangulo pode simplesmente ser uma pirâmide que pode ser um nacho maligno que quer me comer com queijo cheddar. Se a ciência pudesse compreender as leis da ilógica e da imaginação. Que papel eu teria no mundo. Essa mão que não é minha se não de outro eu que não quer ter mais essa mão porque eu sou como esse outro eu que não quer a mão porque eu não aceito isso que vejo como algo meu e reclamo comigo mesmo como se fosse outro quando só eu posso mudar o outro ou o outro pode mudar o eu quantas horas tem o dia? Anjos
                      que vestem aurelas de aço e chumbo caem sobre o céu purpura de enxofre enquanto foguetes lançados para fora da orbita se chocam com vácuo do espaço tentando descobrir uma origem que não seja algo inexplicável que não seja um óvulo infecundo. A ciência das soluções imaginárias é a ciência do homem moderno e etc.
                                                                                          e etc.
                                                                                                e etc....
                                                                                                           O nacho quer o crocodilo que comeu o verde da janela de cristais do tempo se deformam em poças de sangue que estão por toda a sala é uma imundice erótica de uma eromito
                  minha vênus in furs
                                   minha
                 caótica minha lua       caóticallua
                                   minha
                                     minhalluamminha

     (os sapatos estão sujos eles são escorregadios e rasteiros não confie nos sapatos porque a geladeira parece tão má? O que ela esconde de nós será verdade? ela sabe do que nós escondemos de nós?)
             C H U M B O:
                         M etal
                         Corrosivo
                                  que
                                    Combi-bi-na
                                be-bien comcomco su TV
                            porque yo a gente nosotros não sai si
                          pra ver a cidade pero vomitar
                                   o verdadeiro jazz o verdadeiro jazz é
                      o cheddar  sin el chão da cama é
                                   um vórtex do jaz vor te que ex
                         vou ter que ex plo dir em outro
                                         pla neta
                                          lu neta
                                           zu reta
                                                  a vida acabou
                                        num piscar de olhos
                                                 qqqqqqqqqqqqqqqque me fizeram enxergar o nada.




                                                                                                            0 nada devora
                                                                                                                  os
                                                                                                                 triângulos
                                                                                                                e os
                                                                                                                     anjos.
                                                                                                               
                                                                                                                     Nadie.
                                                                                                                     0 etc.






















As reticências imaginárias:
                           ...(PpuURru-bBUupPíÍ-rOo-PpoONndDUunNRreENn-dDuUDdÉépPIirRi...
                              POopPIirRoONnDdUu-pPUudDeENndDEerREê-dDee-rRunN-KkibBuu-bbuuTSskKLAM-llaaaaaaam...              ...)Ondestáorremédio-p-p-parressalou)


                                    Fura. Cuca. Cura.




                                   C'est finit. 
   
                                   C'est finit.


                              — C'est finit? —
















                     Acordei; 
                                 voltei, de outro planeta, para casa(?) 
                     com o queixo tremendo mais do que nunca.
                     Talvez fosse o frio,
                                                    realmente... 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012



Quem 
de sonhos
se alimenta

De
 mu-mu não
 se sustenta

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Vento de Verão

Uma nuvem soprou o primeiro vento da tarde
O teus cabelos amarelos voavam raios-de-sol
(No entardecer queimaram-se rubis)
Eu te beijei até você fechar os olhos
E lentamente apagou-se o Sol da Constelação
Juntos acendemos o candelabro-de-estrelas
Sob o olhar de Sirius e suas irmãzinhas dormimos
E sonhamos infinitas vidas juntos
Acordando numa onde o céu é o limite

Voltamos a dormir.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Verdade Nº1


         Há quem 
    não acredite:

   Q todo poeta 
é um tremendo
                        patife 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Capítulo 121 (Anotação)

Encontrei hoje um pedaço de folha rasgado no chão do sótão da casa de Nùves. Era um nota que abriu a possibilidade para escrever um conto, apesar de ainda estar apertado com os prazos do romance. De qualquer forma, é necessário anotar.
Como todos podem recordar no ano de 19xx¹ foi desprovido de importância histórica, mas de utilidade extrema para as anedotas de grandes escritores da, se não; fabulosa, certamente estranha; Ziridumnésia. Se caso não estudaram as devidas literaturas e; também fascinante história geo-política de Ziridumnésia que até meados de 2007, nada mais do que 998 dias atrás, fosse considera extinta, ou até mesmo não considera como existente em nem um ano posterior e/ou anterior. Sim, definitivamente pulverizaram o pequeno país do universo literário, que tem como unica prova de existência; Enciclopédias, que infelizmente não são aceitas em sebos, ou em penhores, sendo; fatalmente destinadas à poeiras de estantes, caixas e aos maltratos do tempo. Estranhamente, os livros de escritores, deste mesmo país, se encontram empilhados em cima da cadeira da sala, e logo; se tornaram completamente conhecido pelas traças.

¹Devido à inexperiência da recém formada Editora Eldivis, as primeiras 3.003* impressões, houveram esse erro, que estranhamente permanece desconhecido devido ao fato de que o autor perdeu (queimou) a cópia original após observar o erro das primeiras impressões.
*Número de cópias exatas que exigiu, o autor, para a Editora. 
 (Enciclopédia D'jivörgïnès de Verdades 'Patafísicas,  1º Edição )


 Não esquecer de procurar sobre Ziridumnésia
 e seus escritores em Enciclopédias e de mostrar à William.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Retrato Tropicalista

por Giuseppe Arcimboldo


As árvores nascem nas nuvens
E tem o pé na raíz dos meus cabelos

Os galhos e os braços estendidos

Tem na ponta dos verdes dedos folhas

Aquele emaranhado de vinhas em caracóis é o meu cabelo


O ar entra pelo meu nariz de pimentão
E ao sair faz kiwi-abacaxi

Os dois guaranás semicerrados
Dilataram as suas jabuticabinhas
Com o ácido Sol de maracujá

A pimenta dos lábios estava corada de amora
E pingava pitangas e acerolas
(— Sim, eu amo amoras)

Alguns talvez do gosto não gostem
Até porque carne foi pintada de soja


No final ele deixou a sua marca registrada:
No meu rosto o sorriso de melancia assassinada

terça-feira, 23 de outubro de 2012

La petite mort


  Fechei os olhos

  A qualquer todo momento morto
                                   ou quase

  Afundo no abismo

  Um breve eterno segundo de Vertigem
  Um simples mergulho

  E me afogo 
  
  Vivo ou quase
  Acordo
                                    (fogos de
                                     artifícios)


  O fim do mundo
                      numa festa

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fragmento da Página 96 (Do livro que estou lendo)


     Fechou o livro.

     Escreveu linhas, que pareciam versos que não voaram, porque não lhe fora ensinado a capacidade de voar. Caíram no chão como chumbo. Era assim que sempre fazia quando estava só: imaginava uma história para cada palavra que fosse desenhada no seu imaginário-rascunho. E isso acontecia quando também não estava só. Acontecia de estar só, mas não de estar só. Estar só não é um luxo que todos conseguem se dar, ainda quando se mora com... ou estão todos num melancólico bar, que curiosamente deixa a maioria das pessoas felizes e falantes. Estava só porque queria estar só e não importasse não-sei-quantas-mil pessoas estivessem ao seu redor. Estaria dentro de seu calabouço noturno donde vivem as mais terríveis aranhas azuis de abdômen prateado, aconchegadas com a umidade e a penumbra. Ou num café onde garotos vestem casacos de lã e garotas de cabelo despenteados se beijam como gatos.

 — E isso era só o começo... — tudo com certeza ficava pior quando, da solidão premeditada, um outro ele entrasse à conversa. Sem a menor ofensa, claro, aos esquizofrênicos. Mas tenho que admitir que é

necessário um outro eu, para ver onde errei quando saí de casa esta manhã. Se foi por falar tantas geribaltinosidades à Nuvès.
 — Você foi um idiota, sabia?
 — Foi por admitir que ensinei o faracenos errado?
 — ...
 — Não discordo da minha idiotice, mas pelo menos não me traí ao não
falar o que penso.
 — Se traiu ao apenas ficar sentado bebendo aquele café preto, objeto ritualístico das tuas manhãs de sábado... Se traiu ao ficar novamente só, sem nem ao menos conversar com o Café ou com Nuvès.
 — Sei bem, que tu ouvias meu pensamento, hipócrita maldito! Sei bem que tu também fazes parte disso, poderias simplesmente dar-me um pontapé no cu, mas pelo contrário afagastes suavemente a minha solidão. — Os dois ficaram emudecidos, como todo cego que restabelece a visão.  Não sabiam se tratar consigo, isso era além da loucura. A Loucura fora superada, deixadas aos escritores da geração passada. Agora descobrimos coisas piores guardadas na mente de autores sádicos, com suas insatisfações sexuais, as sofridas questões metafísicas vivenciadas por Estevès da Tabacaria e de problemas existencialistas sobre o dardo em movimento. Escrevendo assim, sei que... soa vago, por
isso esforço-me a explicar.
 — Oras, porque vocês sempre precisam de exemplos pra entender-me? De qualquer forma... Quando arremessado os dardos, deixo claro que, o jogador possui o total intuito de acertar o alvo (caso contrário não se deve jogar dardos), até então as expectativas são: baixas ou altas, independe disso, existem outros fatores como: habilidade, confiança e os ratos da Argélia.
 — Me questione o que os ratos da Argélia tem a ver? Vamos, me...
 — O que tem a ver?
 — Apesar de um bom jogador ter a confiança transbordando de sua taça, existem os ratos da Argélia que conspiram quando morrem assados ao sol, putrificando-se, criando o odor característico de 1,4-diamina-butano, que misturará com as partículas de oxigênio, que a alimentará a corrosão da camada de ozônio, que fará com que os raios de sol entrem em contato com a... E por causa disso, que "não tem" nada a ver com a sua vida, você erra o alvo. Por outro lado temos o inexperiente jogador de dardos, que pode simplesmente acertar o alvo, ignorando até mesmo o fato dele não acreditar em nada além da possibilidade de errar o alvo e perder os 10 pesos argentinos apostado. O ratos na Argélia continuam lá, brincando de morrer ao sol. O que ambos tem em comum? O momento em que o dardo viaja através das correntes eólicas ao seu destino, este que é imutável graças aos ratos da Argélia. Querendo ou não, nada pode ser feito, ambos encontram-se fadados à acertar o destino premeditado, acreditando ser somente o acaso.
 — Eu acreditei sempre ter acertado o alvo, mas hoje veio em mim o peso de que talvez acertar o alvo, não fosse exatamente acertar o alvo. E é por isso que hoje eu me encontro só.

As Páginas que Sucederam e o Restante da Páginas 96 (Do livro que estou lendo)

     A cidade realmente tem o ritmo do jazz quando começa a chuva. É tudo jazz. Talvez fosse. Talvez fosse o segundo dia, quando eu pensei nisso. Ou o primeiro. Não sei... O que ela deve estar fazendo agora? Faraceno? Com aquele tranca... Talvez, se eu tivesse ensinado pra ela zigue-zigue... Aliviar a cabeça; é por isso que estou na rua, não pra ficar me preocupando, preciso ficar cool. Preciso ficar com o Jazz. Nuvès tanta falta que você me faz nessas eternidades que passei fora, creio que não é possìvel, pelo menos para mim, ser de hábitos selvagem, apesar de tentar sempre ir contra esse eu. Não importa também. De bicicleta andei outro dia, pela fossa noite luminublada. O vento no meu rosto, o prazer de estar vivo. Como ninguém me ensinou isso antes? Talvez não se fosse pra ensinar, talvez, não se ensine essas coisas. A vida é um mistério (um único mistério!), e o sentido tá'onde a gente quer ou não. Acho que isso é aprender a dar o sentindo, o rumo. Objetivos complexos são esses: tanto; o de ensinar, quanto; o de aprender. Como disse, estou de bicicleta e não estou fugindo de você, pois, sei que (querendo ou não) te encontro (ou te encontrarei), ou você até já me encontrou(?). Encontrei um bar: O GRITO. Sim, como aquele quadro de que tantos ouvimos falar Laurence e Melinda. O bar não tinha promoção alguma, mas era de um habitat escuro, próprio pros noctâmbulos de asas, mamíferos aéreos. Que fique claro que não somos anjos, de maneira alguma. Não foi preciso muito tempo para voltar aos velhos hábitos... — Uma sub-0!
Duas mesas redondas e umas ilhas perdidas de quadrupedes cadeiras quadradas. Havia alguns rapazes, com que tive o prazer de conversar os naturais assuntos de boteco. Nada de relevante ou igualmente desimportante. "...E cada vez é mais difícil de venceer, pra queem nasceeu pra peerdeerr... pra quem não é imporrtantee... é be~em melhor... lutaar doo que conseguiir... ficar ao invés de partiirr..." Não era rádio, até porque as rádios hoje em dia estão mortas, até porque esse de tipo música está morta, além disso Raul está morto. Quem fala dos mortos afinal? Quem ouve os mortos? Eu ouço o morto cantar. O assunto corre sobre Raul e as suas músicas. Sabe como é... Quando já havíamos parado os contos taberneiros de nosso, se não; maior, um dos maiores, trovadores nacionais, e, estávamos tocando violão, um desses feito de madeira-de-mesa de bar, que quanto mais cai cerveja, melhor fica, onde todo cantor, ou tocador; canta e toca bem, desde que igualmente tenha derramado cerveja em si. Igualmente tanto, talvez mais, do que já foi bebida pelo violão. Eu contava os compassos com as batidas do pé, mentalizando internamente um ritmo. Jazz. Jazz. Jazz. Devo alertar também que estava em naufrágio. Afundava, em ficar ao invés de... lutar... conseguir. Entrou um moço, desses arrumado, de terno preto e gravata vermelha, vocês já devem imaginar o estereótipo; óculos grossos, barba; somente na mandìbula inferior e um bigode, os pêlos eram loiros (quase ruivos?)¹ Ele, tímido, pediu:
— Uma (cerveja popularmente nacional:) Salut!
     Sorveu para dentro de si, dois copos. Quantidade, que gosto de frisar, pequena para um-alguém-eu(-ou-você), mas que fosse talvez, infinitamente grande pra ele. Tocou. Digo, Tocou. Sinceramente, para muitos ele só falava das corniações diárias, pra num não dizer brega, apesar do bregar ter seu valor. Pra mim, era só mais um pobre coitado. Eu sei, que ele tocou bem, não tirando dele o mérito, mas é que é de costume das pessoas em geral mitificarem atos e fatos absolutamente banais apenas por sub-julgarem a pessoa que está fazendo ou o lugar onde se encontra ou até mesmo a hora. Como se nada de bom pudesse acontecer entre as 09:00 e 16:00 hrs, como se no Japão, ou no Vietnam a mesma coisa não tivesse acontecido, como se isso nunca acontecesse nesses milhões de anos de vida no universo. Talvez, para tornar ele mais interessante, eu, devesse inventar...

  Ele era de poucas palavras, as expressões retas em seu olhar e os cortes fechados de seu rosto. Indicavam. Estava na cara, não podia negar! Era um pobre-diabo atormentado. Os óculos constantemente afundados para perto da cara, escorregavam em suor. Sedento pela liberdade. Pediu a mesma de sempre, era habitual. "O Ritual", como preferia dizer a si, pensava assim porque gostava de imaginar que teria que contar logo à alguém, ele mesmo me disse uma vez. Sei que vai parecer estranho, mas contar-lhes que foi exatamente assim que ocorreu os fatos, que segundo narrou o próprio, lá pelas nossas vigéssimas cervejas e os nossos diálogos que eram interrompidos constantemente com citações de Marxistas e teorias mirabolantes, pra não dizer utopistas, de meios de ser feliz, através do ensino da felicidade, ensinando que não existe outro sentindo na vida, além do livre expressar-se.
 — Te entendo muito bem, penso as mesmas coisas... É natural para o ser humano se expressar, e igualmente natural nessa sociedade sermos constantemente apertados por uma carapaça, que nos impõem e que devemos, sem refutar (ou seja: à força!), vestir. Mas, você não acredita, que as suas idéias, deviam ser postas em prática?
 — Eu lhe agaranto que estão sendo sim, com muito esforço, mas estão sendo postas em prática. — Respondeu.
 — E porque você não faz um diário, anotações... Sabe, escreva um livro explicando toda teoria...
 — Você não entende, eu quero fazer, não escrever... 
 — Não, você quer que escrevam sobre você! — Nesse momento os óculos deles embaçaram-se, eu provavelmente deveria entender esse comportamento, caso tivesse lido algum livros como: O Corpo Também Fala, Linguagem Corporal Para Corpos Mudos, ou Semelhante Coisa. Sei que estava irritado, ele tremia. A mão dele em cima da mesa se transformava em punho.
 — Você não entende... Você NÃO  E N T E N D E ! — Bateu o punho, que saltava veias, na frágil mesa de quase papelão. Todos cruzaram os olhos pra ele, não estavam atentos anteriormente e agora queriam saber o que se passava.
 — Meu chapa, pois, não fique assim, me explique então... Não sou tão cabeça oca. — Continuei com calma, não queria fazer alarde. Ele baixou a cabeça, pensava...
 — Desculpe é que... eu passei um pouco da conta. — Levantou-se e... — Eu já paguei a conta. — ...emendou a frase.
 — Você não vai me explicar?
 — Já pagou a conta?
 — Já, sempre pago antes de pegar a cerveja e se... (não tenho dinheiro deixo na conta...)
 — Tá bom, tá, t... Vou pegar carro, você está a fim de uma carona?
 — Cara, pra falar a verdade... — Nesse momento ele olhou fixamente nas minhas pupilas. Eu não sei exatamente de você leitor, mas em todo caso, explicarei a você que; de onde sou, quando se olha diretamente na menina... Você sabe, algo está errado. Mas, não concordo com essa crença, muito pelo contrário, também não concordo.
   Saímos em questão de estalos de dedos. Ele acelerou o carro, cruzando semáforos vermelhos. Sabia exatamente onde cada radar estava. Buzinava a certo e a esquerdo, confesso que me sentia mais entretido do que em montanhas-russas. Desses movimentos bruscos, ele continuava frio. Aposto que calculava para que a ventura não tivesse fim numa tangente mortífera, ou que seu carro, de baixa estabilidade, capotasse e ele tivesse que arcar com os prejuízos (= conseqüências) sozinho. Digo também que; de tão entretido com a viagem, não pude entender, bem, em qual bairro estava. Triângulos das Bermudas, é o que proclamo com descoberto. Ele parou na porta de uma casa de muros altos por onde subiam vinhas. Uma portinhola de latão pintada de marrom, para disfarçar qualidade do metal e a porta da garagem da mesma forma. Pôs a mão em baixo do banco, engatilhou. Abriu a porta e disse: 
 — Vai amarelar agora?
   Engraçado pensar, na hora não pensei em nada, não consegui responder nada, só abri a porta e sai. Ele arrombou o portão, entrou na casa silênciosamente. Cheiro de sopa e de naftalina... Analisando os quadros, retratos, mobilia, geladeira, relógio, etc. e etc., dava para se reparar que era um casal de aristocratas de primeira ordem, domadores do poder... Conservadores neo-liberalistas, como prefiro definir."² 

     O bar estava bom, mas a batida da chuva em tempo livre, quebrava qualquer compasso, desconcertava-me, não conseguia prender meu foco em outra coisa a não ser você, Nuvès. "Eu vou ter que explicar pra ela sobre o zigue-zigue. O zigue-zigue e o faracenos. A chuva. Delírios. Quem está por nós aqui? A vida não é jovem como somos nós? E nós não sorrimos porque o amor sorri igualmente para nós? E não existe cousa melhor do que andar de bicicleta, crendo que as cores fiquem para trás, juntamente com os cheiros e os sons. Estou à uma quadra da R. Mise-en-Scène.

½ Blá-blá? (Nota Sincera sobre a Secretária).

¹Devo aqui; finalmente, introduzir; minha primeira nota bem sucedida, de que; Não entendo bem de coloração de cores e pêlos, divisão silábica e interrogações? (Nota do Autor).

²Terminaria mais ou menos assim a história, ele pediu pra que alguém escrevesse e eu mudei um pouco e tal; blá-blá, blá, blá, blá... (Nota da Secretária).½


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

três pontos neste céu de papel






   .  ¿
    .   
   



          eu?
    tu 
   
        e


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Hyle

Ao meu amigo Rob.

   Dois Cães
Preto e Branco
Rasgam o meu corpo
Até sobrar o indivisível
A unidade contendo o Infinito.

                     

Como posso ser outro e
Ainda ter o mesmo nome?

                     

Eu sou
   Dois Cães
Preto e Branco
Mutilando meu corpo
Não encontrando meu nome.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Problema de se Enamorar Quimeras


Pela janela das tuas duas luas
Fotografo o cárcere de su'alma
Revelando-se a imagem do teu éter

Tu és dualidade em ser única
Tu és ausência de cor no branco
Tu és a exceção de todas as regras imaginárias
                                                                   menos essa
Tu és a completude fragmentada

  As três pontas do quadrado mágico
   O infinito resumido em forma de .
      A vida em estar morto

Tu és o sonho de quem sonha acordado
Tu és minha amante namorada amada
Tu és a imperfeição em ser estar perfeita

   Teu único problema este é
          não me deixas tempo pra viver 




sábado, 29 de setembro de 2012

Praia dos Amores


Estrela-do-mar
      da minha
      constelação litorânea

Quando
     com espuma das ondas
     tu me encostas o pé
     na areia da costa
   
     Terremotos
 se fazem na
     minha dorsal.

Quando
     tua voz entra
     pela concha
     da minha orelha
         
(É assim, o dia inteiro...
            Na Praia dos Amores)
     Te escuto o
      Cantar de Sereia

                       Nos teus lábios de areia...
                              Nos teus cabelos d'algas...
                                      Nos teus abissais olhos...
                     

 Me despertas do
 Sonho-Marítimo
de Celacanto.  

     

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Prefácio do Meu Falso-Romance



 "O que mais eu poderia querer do abismo ou do céu, além do nada, que dorme no confuso tudo; que é o mundo..."  
Fernandes Correia


  Aqui é o prefácio do meu livro, e não sei bem como começa-lo, afinal este é o primeiro livro que escrevo, e igualmente o primeiro prefácio. Sim, é óbvio que é meu este livro, mas, é importante que não  se confunda o cara que escreve este livro e o outro livro, que aparece dentro deste livro e os outros livros, que estão dentro do segundo livro. Sim, as histórias contidas aqui não são reais, ou seja, se você quer um livro autobiográfico da minha parte, você veio ao lugar errado. Mas não posso ao mesmo dizer-lhes que as coisas contidas aqui não sejam verdade, apesar de irreais, elas, querendo ou não, são uma verdade. Se fosse ficção, ai sim, seria uma mentira. Este prefácio, apesar da utilidade para as anedotas que sucederam nesse livro e nos outros-etc., é falso.
  O prefácio é falso, porem, como já disse anteriormente, este falso-romance é verdadeiro, apesar de não ser real. Não explicarei muito sobre o romance, para, que ele não perca a força integra de pura falsidade, forma esta que nos da uma estranheza, que a representa, ou tentar emular, a realidade com a maior afinco. De modo anárquico e grosteco. Utilizando das brincadeira infantis como metáfora, tais como: pular carniça, pega-pega, esconde-esconde, gato-mia, bola de gude, pião e amarelinha. 
  Quero fazer deste livro uma reflexão sobre a realidade. Afinal, não seria o escritor um visionário? Um Deus astronauta enviado do futuro, ou um homem que recebeu as visões dum Deus astronauta, Deus, este; que também é um escritor. Ou nada disso, estou entendo tudo errado, é tudo pura enganação, uma mentira, ilusão.
  O que quero aqui é escrever uma ficção, não o trabalho-cotidiano em que vivemos, meu amor. Não o uivar do homem que entrega os jornais de moto. Não o céu de enxofre que nasce o dia. Não, não. Não a prestação de contas que devemos, não à essa parte natural sociedade desnaturalizada. E o não ao não. 
Este livro é pra quem cansou de procurar: é pra querer se perder; não na pessoa que é-foi-e-será, mas nos muitos homens que deixou morrer pra assumir a postura de um homem só.
  Quero também destruir o fácil, o mecânico, quero destruir a nossa condenação de lutar em vão. Este livro será como nunca e sempre, o nada que é tudo; a busca de quem somos na distância de nós.
  Cortando as basbaquices, queria terminar com uma nota poética Don Juanlesca ao meus leitores futuros:
            "Meu amor, nosso romance é falso, porém posso afirmar que, (nosso amor), é verdadeiro."
                                          

Fim do Falso-Prefácio.

domingo, 23 de setembro de 2012

Você (e as suas...)

Te vejo no rosto de todas as mulheres
E te traio beijando os teus lábios de outra mulher
E durmo com outra e acordo com você fazendo café
No chuveiro ouço elas cantarem a tua canção
No espelho vejo-te me vendo nu e te vejo nua me vendo
Você sorri tentando disfarçar que não é elas
Mas eu reconheço o teu sorriso que me falta
Você diz: todas as mulheres são uma...

Essa é minh'ultima tentação.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Primeira Página

A primeiro momento sentiu-se bem para escrever a primeira página, pensando que haveriam outras que se sucederiam facilmente. Mas não foi assim que aconteceu. Sentou-se diante da máquina datilográfica. Por teimosia se convencia da superioridade das máquinas que datilografam sobre as máquinas modernas. Ele havia tentado com algumas, sempre de má fé, escrevendo uns poucos artigos-esboço. Também criou a lenda de que seus piores escritos haviam sido digitados nas tais máquinas modernas, "que pretendem mecanizar tudo que é humano, tudo que é vivo.", seu maior escrito foi justamente contra as máquinas modernas, um poema em decassílabos alexandrinos, de um parnasianismo antiquado.
Como não conseguia escrever desejou sair do microssomo-casa para o microssomo-rua, pois segundo pensava; o macrossomo-casa seria o planeta terra, o macrossomo-planeta seria a via-láctea... que seria o macrossomo-etc. Apesar de estar eternamente preso no microssomo-ele.  Seria ridículo pensar que, talvez, o macrossomo-pedra fosse correspondente a ele.  — Não, isto jamais! discordava mentalmente. Saiu de casa contente pois sabia por clarividência que encontraria a experiência necessária para escrever uma primeira página que sucederia facilmente para uma segunda página... Até o determinado para se que escreva um romance dentro das regras dos concursos.
Ao sair de casa, viu um velho que tinha um dos olhos saindo da órbita. No mesmo momento que o velho percebeu que estava sendo observado, nosso herói disfarçamente (atrasado) desviou o olhar para o chão e fez soar no assobio a melodia de für elise. Estava feito um insulto silencioso. Sentia culpa. O velho somente ignorava pois já havia tomado tantos tapas na cara que, (o olho já havia caído), não ligava se alguém inventasse uma nova maneira de lhe dar tapas. Aprendeu a ignorar. Assim como também fez enquanto a assobiava, tentando ignorar aquele ato brusco de sua parte. Havia estourado à rigor a lei do respeito, da ética, era um brutamonte que estava disfarçado em seus agasalho antigo de bons-modos (que havia voltado a moda recentemente). Deveria ser preso!
Atravessou a rua precisava de algo que servisse como alavanca para a aventura, que levasse a vida dele para um objetivo. Comprou um sorvete de morango. Sentou-se no banco. Aguardou. Nada de impactante poderia acontecer, ele era um ser evoluído, um verdadeiro homo sapiens sapiens, nada poderia afetar a sua indiferença. Crianças tropeçaram perto dele. Haviam tropeçado em um paralelepípedo. Um bloco retangular que escondido em fendas de realidade era ele. Ele era o paralelepípedo no caminho das crianças que também eram o mundo. A pedra esmagando o macrossomo-etc que era o pavimento. Enquanto deleitava-se com o sorvete de morango artificial, as crianças choravam pedindo suas mães, mães estas que não ligavam muito para seus filhos, afinal mereciam aprender tudo sozinho, como todo adulto aprende (ou deveria aprender).
Um relâmpago químico de uma pergunta: Que rumo estaria tomando a humanidade neste momento? O que seria depois de homo sapiens sapiens sapiens sapiens? Quem seria? Quem seria o elo perdido? Poderia ser o próprio protagonista, afinal sabia mui bien escrever como fazem os escritores de enciclopédia, sabia pensar como os velhos que bebem grapa no bar e ignorava tudo ao seu redor (o que era excepcionalmente importante). "O homem depois de Adão, uma evolução graças à iluminação". Ria-se internamente por Adão ser apenas um protótipo, uma réplica mal-feita dele...
Assim escorreu, não a primeira página mas alguma que era mais pro meio da história da humanidade. Que infelizmente era só a primeira página deste livro.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Poema Sob Encomenda

Houve dias
em que sentado à sombra, eu te observava.
 Não era o suficiente para fabricar poemas,
mesmo assim, você foi e levou os meus versos riscados.
 — Tudo bem, eles eram seus —.

Ontem,
 perdido entre palavras à deriva
no oceano dos teus olhos,
 percebi que todos os poemas haviam sido criados.



Eu espero pelo Dia,
 que está sendo fabricado.
Este que torna lenta as horas dos nossos desencontro
 e atrasa os ponteiros do nosso amor.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Satisfações que o Sir Lake All'yo de Cheeseburguerson deverá tirar para a Rainha da Inglaterra

R. Alface Sáfira, nº 99. Toca-se a campainha. Ecôa um rugido de leão pelo quarteirão. Toca-se novamente, agora pela sexta vez, fazendo um ritmo de waltz de J. S. Bach, que para meu infortúnio é um alemão, mas com alma inglesa! Concordaria comigo o Duque de Genebra (Genebra, onde não há manifestações, Ah! paradiso!), com certeza concordaria! A campainha novamente é tocada. O bilhete falou que era aqui, o papa falou que era aqui, os vizinhos falaram que era aqui, a rainha falou que era aqui:
 R. Alface Sáfira, nº 99.

Os ingleses haviam mandado um lacaio, da estatura de 1,49×10-3 km, que caminhava com uma bengala feita de quartzo negro com o detalhe em um rubim de coloração violeta, na face sobre o lábio superior desenhado um "S" (representação do seu belo moustache) da cor ruiva, entre os dentes podres; um molar quebrado e um incisivo frontal superior de marfim, (presente que recebeu do Conde de Caixote, dono de um teatro de pulgas), a voz como a de um lagarto ou o de um BSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS... de uma abelha africana, usava um chapéu coco, réplica barata dum Chaplin's Hat, os glóbulos míopes, sendo um deles de vidro e consigo carregava uma bolsa xadrex como um kilt escoses. Tinha o costume nacionalista de tomar uma xícara chá a cada 1/8 (um oitavo) de 24 horas, e, segundo seus cálculos pitagóricos feitos baseado na sombra de um arbusto selvagem de forma dum triângulo-retangular (3² + 6²), faltava aproximadamente (hipotenusa igual à): 45000 milisegundos para o próximo gole. Exatamente no momento em que havia tirado a mesa de papelão que imitava muito bem a textura de madeira rosewood, o tosco bulê preto fosco e a xícara com a alça quebrada que era herança do avô Cornélios Cheeseburguerson, restando 1200 e 3/4 de milisegundos para a hora do chá, apareceu o mordomo chinês Chong.

— Vá te daqui, seu mordomo imprestável!! — Falou como quem queria ser levado nas costas pelo mordomo. Chong que compreendeu o que havia sido dito, carregou o jovem lacaio nas costas, equilibrando a mesa e o bule.
— Miserável! — Gritou o lacaio ao dentuço mordomo, que eu já deveria ter sido nomeado ao publico, ou à vocês... Caros leitores; Sir Lake All'yo de Cheeseburguerson, primeiro e único dono da cadeira de imprestável nº 13 da Inglaterra. Foi também estudante do Instituto Fergüisen de Lacaios Reais Britânicos feito nas ilhas Falkland, passando com honra ao mérito na arte de tomar chá pontualmente.

Em pouco tempo estava ele dentro do hall de entrada da mansão da família Börghesa. Foi posto ao chão com os pés firmemente apoiados ao piso real da família, que possuía o rosto de cada antepassado da família desenhado em cada um dos quadrados cerâmicos. A mesa  estava de frente à escadaria que se contorcia em voltas. Colocou o penúltimo gole de tea na boca.
— Com essa sua corrida você fez o meu chá esfriar — Disse antes de cuspir-se de chá. Jogou o resto ao chão. Deu três passos a direita, quatro para frente, um para trás e oito à esquerda. Se não engano-me, fazia a dança do reconhecimento local e com a mente de um mapeador mediavel, arquivou todos os detalhes dentro do rascunho da cabeça, até mesmo o nome de cada antepassado começando pelo Brughlïn Dantas Börghesa XV.
— Bem... agora me diga onde está o senhor Borgelige?
— O papi está dormindo... — Ressoou uma voz que parecia sair de todos os quatro cantos cardeais da casa. Perturbado, Sir Cheeseburguerson, procurou a origem daquela voz gosto angelical.
— Quem és tu, Óh, singular criatura das pregas douradas?
— Pouco importa quem sou, desde que seja. — Disse num tom açuradíssima.
— Apareça, venha tirar o gosto desde chá gelado...

A cada passo-passinho que dava a casa se chacoalhava. Era um terremoto, causado pelo hipopotámo de estimação da família que descia a escada marchando vagarosamente como se fosse um papel sobre o vento. 1-2. 1-2. Tremia a casa inteira. 1-2. 1-2. Tremia tanto que um dos lustres de cristal caiu e quebrou-se em milhares átomos reluzentes, era um dos favoritos da Sra. Börghesa. Era: 1-2; 1-2. Caiu também uma estante com enciclopédias inúteis da Brasa sobre um dos mordomos que morreu fatiado ao meio, mas isso pouco importa, ainda existem mais outros oitenta e sete. Finalmente de fronte ao Sir Lake All'yo, o hipopotamo possuía na costas dentro de uma cesta trançada de palha da flora amazônica que era coberta por um véu tailandês: a voz doce.
— Senhorita... — pigarreou tentando limpar a garganta dos restos de ervas do chá que ficaram presas dentro da garganta — Queria saber qual o nome da donzela?
— Hi hi hi hi — Riu coquetemente (como riem as inglesas) para o Lacaio do pau-de-perna — Não lhe direi... Jamé! — Prossegui satirizando o Sir Lake.
— Se não vai dizer o teu nome, então acorde o teu narcoplético pai! — O lacaio por vias das dúvidas falava palavras erradas propositalmente.
— Você sabe que falou e pensou besteira, né? — Disse o narrador onisciente. Completamente abafado pela tagarelice que havia dentro da cabeça de Sir Cheeseburgueson. Ouviu-se um bocejo retumbante que surgiu das margens de uma cama feita de couro de canguru. Logo em seguida veio a queda do quarto até o hall, rolando pelas escadarias abaixo: Preeeeeekteeek-buum-tuuc-plaft-plaft pingping-pongdong CÁTABRUUUUUM digthug-clash-tracktipum-clabbaft-tratrack-duuuuuumpt... 
— Quem deseja-me acordado com a voz de tão mal hálito? — Disse ele ainda emendando o bocejo primeiro com a frase, arte que dominava desde que visitará o Rei Gargantua na mocidade, com rosto colado ao liso piso que refletia o reflexo majestoso de seu esbelto rosto balofo.
Buon giornno! — como era habilidoso com as línguas — Vossa Majestada Borgelige Börghesa VIII, vim aqui à pedidos da very Vossa Majestosa-majestade Victorina Paleshade, para pedir-lhe gentilmente que desistas da idéia miserável de conquistar a Lua, que caso, o caro, Senhor, Meretríssimo Senhor, não recorda-se do Tratado das Minas Lunares de Queijo, assinado durante a semana da arte moderna de 22 que aconteceu em São Paulo, pelos Nobrérrimos; Sr. Borgelige Börghesa VIII, Sr. Ubu Roi, Victorina Paleshade, Gengis Khan, Fidelito Castrattini, Hermes LXIX, Abelardo I, O Falido Rei da Vela, Dr. Faustroll, Ivanovich Trokokolikóvski, dentre outros. 

Segundo o Tratado:
Todos estão despossibilitados de uma invasão imediata, sem previamente ter uma estrutura bem estruturada de markenting dos órgãos nacionais. É necessário também antes de iniciar as reuniões o assassinato de algum nobre dos países envolvidos no tratado, que será escolhido após uma partida de dominó na humilde mansão do Conde de Genebra, que será realizada no dia 30 de fevereiro, deste mesmo ano. — Finalmente havia terminado de ler o pergaminho que tatuou atrás das membranas das pálpebras, estava orgulhoso como nunca. Curvou-se, deu as costas e saiu marcha-marchando pela rumo de onde veio.

Esquecendo-se até de insistir em saber o nome do filho do Sr. Borgelige. Falando nele: que ouviu tudo com uma indignação tão grande, TÃO GRANDE que permaneceu estático no chão. Era tamanha indignação, equivalente ao tempo parado, que dormiu durante semanas. Acordou somente no dia da partida de dominós. Fedia tanto que foi carregado para Genebra por uma nuvem negra de mil moscas-varejeiras de ventre metálico-esmeraldino.
— PARA GENEBRA, BELZEBOOZE!!!