sábado, 31 de dezembro de 2011

[Um dialogo não pode ser um poema]

— Ah é?
— É!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Clã dos Bastardos

"Histórias não começam ou acabam, elas estão sempre sendo contadas."
Fernandes Correira 


Sou um bastardo, dos meus ancestrais espero não ter herdado nada, da cultura que me esmaga nada quero também. Meus olhos castanhos e a minha epiderme bronzeada não mentem, o físico esquelético e a voz ligeiramente desafinada não enganam também, sou filho  — mas preferia não ser —. Colocaram-me uma máscara suja de sangue de batalhas que não lutei, mas que lutara meu povo, também me fizeram vestir os tradicionais trajes e cantar os hinos de guerra.
Todas as noite ao redor da fogueira contávamos nossas histórias, mas eu preferia não ouvir história nenhuma, preferia adormecer imaginando um final melhor para minha própria história que ainda não havia fim. Adormecia sobre o olhar de Nyx e da constelação de Leda, minhas grande protetoras.

O sol não dá trégua quando ele decide que é hora de acordar. Acordemos então. Não há o que reclamar. Levantemos para mais um dia de caminhada, enfrentemos mais um dia de jornada. Os brutos tem também suas marcas, as mesmas marcas que tenho; a pele queimada, físico ligeiramente esquelético, estatura mediana, olhar traiçoeiro, apatia, e um ligeiro esquizofrenismo religioso. É como se as vezes todos estivessem conversando entre si e ao mesmo tempo conversando sozinhos. Não parecem ter sonhos, nem ambições.
As histórias que contam ao redor da fogueira sempre  mostra um herói-mártir que sofre por tentar mudar o imutável destino. Como somos ridículos. Todos os dias eles contam as mesmas histórias, me pergunto se é uma maldição ter que contar ou ouvir, ou se simplesmente a maldição é ter que usar as vestes de nossas ascendências.
Ouvi esses dias uma história nova, mas o protagonista parecia o mesmo de todas as outras, ele queria muitas coisas, negava uma porção delas, se admitia como bastardo da própria cultura, pelo menos preferia ser visto assim, — ser visto assim por si, pois só ele se importava com isso —, e ele dormia todos os dias observando as constelações, imaginando, tendo alucinações com vida cotidiana, sonhando com um final para a própria história. O vento apagou a fogueira. Nunca mais contaram ela, também foi a unica vez que ouvi.

Todos os dias durmo sobre as mesmas constelações e acordo sobre o mesmo sol. Os dias são todos os mesmos para mim, não há diferença aqui. Quero que me enterrarem como outro bastardo, sem clã. Não quero fazer parte da mesma história, não quero ser uma história pra se contar em fogueiras, não quero ter esta perpétua maldição. Quero eu contar uma nova história, em que o herói consiga mudar o rumo do próprio destino. A fogueira apaga. Outra história sem fim acaba.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Família Börghesa

Em algum lugar remoto dos Países Baixos existe uma colossal e fabulosa mansão, com um gigantesco jardim de arbustos simétricamente cortados, com uma fonte exatamente no centro com uma pitoresca escultura de um orangotango expelindo água pelas ventas, entre outros tipos de absurdos que somente os bem afortunados podem ter. Na frente da casa pode-se ver um enorme vitral, que é o da Catedral de Lincoln, que o Sr. Borgerlige Börghesa II comprou e, através destes pedaços de vidros coloridos, se encontra a sala da família Börghesa, de móveis grandes feitos de mogno, vasos da dinastia Ming, quadros de valor inestimável, entre outros objetos luxuosos, pomposos e exóticos.
Na sala está o Sr. Borgerlige Börghesa VIII que anda de um lado para o outro, fazendo seu cabelo loiro (que é tão verdadeiro quanto a sua humildade) balançar. Ele estava pensando no seu próximo pequeno empreendimento; "Uma gigantesca estátua minha no jardim, melhor, uma enorme estátua minha na cidade, darei de presente ao prefeito, melhor..."
O mordomo chinês abre a porta, e carregando a Sra. Börghesa nas costas corre, corre, correndo... por mais de um minuto correu até finalmente chegar ao outro lado da sala onde se encontrava o Sr. Börghesa, ainda compenetrado pensando sobre a sua estatueta. A Sra. Börghesa, pulou das costas do mordomo, ela que até então estava com um rosto comum, moldou suas expressões para uma face chorosa. Chorou.
— Hwang! mande a Sra. Börghesa falar logo o que quer, tenho muito o que fazer esta tarde...
Hwang, na verdade se chamava Chong e, Chong não compreendia uma palavra que Borgelige dizia, pois havia acabado de chegar em um container junto com outros oitenta e oito mordomos que o Sr. Börghesa comprou de souvenir da China.
A Sra. Börghesa, se acalmou-se e tentou recomeçar. Não conseguiu, voltou a chorar. O mordomo recebeu uma — carinhosa — barrigada do Sr. Börghesa, barriga de tanta miudeza que escondia o cinto de couro que tinha comprado na Índia, Chong caiu no chão e se retirou correndo da sala, sem entender cousa alguma.
— Porque você bateu em Hwang? Ele é um bom rapaz... — A Sra. Börghesa respondeu somente para defender o mordomo que era seu... O rosto dela já havia voltado para expressões normais.
— Ele não obedeceu minha ordem, e ainda fui mui generoso em não ter matado-o e transformado-o em ração para os cavalos — Inflou-se por ser alguém generoso — Me responda logo, o que você quer?
— É que ontem a noite... — soluçou ameaçando um choro, mas não chorou — Eu olhei uma estrela no céu, a maior estrela do céu, era tão linda e branca... Agora EU QUERO ela só pra mim, QUERO ela, QUERO um colar com ela!!
— Mulher, fique calada! Eu já lhe falei que a lua é propriedade dos ingleses! — Sra. Börghesa resmungou algumas palavras, mas o Sr. Börghesa estava (novamente) tão compenetrado em seus pensamentos sobre a quantidade de coisas que ele queria ter mas que eram dos ingleses. Malditos ingleses! Eles tem tudo que é do bom e do melhor.
Foi assim que o Sr. Börghesa arquitetou um plano para ser Rei da Inglaterra.