sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

tudo que perdi - ungaretti

tudo que perdi na infância
e nunca será novamente
esquecido num grito

da infância soterro
ao fundo da noite
ora espada invisível
me separa de tudo

de me lembrar rindo o amor
e perdi tudo
no infinito da noite

o desespero só aumenta
a vida não me é mais
presa ao fundo da garganta
uma brita de grito

descrever

excremento
são pérolas
as vezes
não o suficiente

solucionar ser racional

que tudo fique bem
   lama e ramelas

destinada as pétalas

garrafa inteira de goles
grande poder
                       deixar ir

permanecendo por completo

esqheleto cabelo e
                    unhas crescendo

olhai como brincando as crianças
                                      são sérias
tão longe disso
cada dia mais longe de si

Junkie

dois dias de viagem não apartam
raízes firmes na vida do seu mundo cotidiano
interesses, cuidados e projetos
um fiacre o levava à estação
lugar de origem, revela forças
hora novas metamorfoses intimas
certo sentido mais intensas ainda
desligando indivíduos da suas relações
transformar num só golpe, um pedante
o tempo é como o rio Lethes
semelhante seu efeito
um homem especialmente
de tudo que ele costumava chamar deveres
mais do que esse jovem imaginava
o espaço que girando e fugindo
tal qual tempo, o espaço gera olvido
forças que geralmente se julgam privilégios do tempo
pondo-o num estado livre, primitivo
um burguesote numa espécie de vagabundo
mas também o ar da paragem longínquas
menos radical, não deixa de ser mais rápido

canto para pijamas

lambuza zonza língua
pela tua barriga
sal limão tequila e saliva
pinga mel da sua vulva
a valsa avulsa avessa
sangra minha cabeça
panico em sua boca
agora outra lambida
interminável sangria
na lamina sem garganta
caverna em que ecoa
as aves em derrota
toda glório de um amém

catorze

madonna lolita lollipop chainsaw massacre
seus intestinos funcionam like clockwork Bathory dentro
os minuteros de Garcia Lorca não sustentam sorriso gatuno
questão: se eu morrer no meu quarto como um rato na ratoeira
serão os vizinhos os primeiros a sentir o cheiro ou o gato comerá minha face?
o sangue que banha a Vamp. não é exatamente o  axioma numa cruz de malta
não perdura mas perfura todo o maquinário dos órgãos contudo boca não fala
tua boca a principio sombra soletra espectro ou espectador em extertor
a consciência rala não pára a consciência exala out of the beat kinda
como uma cirurgiã  das minhas entranhas do sonho de ser enfermeiro
passando a geleia de meu cérebro na torrada enquanto as imagens se em quadriculavam

neon numa miami de sonhos onde está o cassino na pista azul meu destino em dominó
para apostar pela ultima vez minha ficha suja da sorte ante a minha fuga fútil de mi vida
o braço forte da haste do relógio desenha a geometria elementar no aerogrifos de aerosol
os planetas não se alinham como uma jogatina de bola de gude mas dessa vez a vera
borra-botas não aposta mude ou surte antes que seja hora ósculo crescupular argenteo
a terrível mulher fatal dos lábios de metal
com as larvas toda a função da palavra se perde a martelada do prego
carrego na arcada ancestralidade que morde os lábios de raiva
doce doze doses ou treze reze preze até o azar nos dados seis outra vez

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

foda com dois éfês - Aesop Rock (version)

buritto bumpa as pampas com notório parrudo
sinhá ecoa pelo vale "corta esse cabelo menudo!"
o faroeste dengo-dengo está fresco como a morte entretem
respira barrado com clássico glissado saco de pelanca
alastrando o moicano purple a sem rebobinar a fita
solitária flor em pergelissolo
arranca a si e aprende germinar em calça leg
falta de imaginação de cor circulando a lenha, acha
whada hell é real a face biondetta androide de serviço e salva-vidas
xiiii cagaste no pau do purista a babas do diabo num arrasa quarteirão
vinte quatro pruma profeta ou caftina estacionada
os republicanos perfeitos em trinta clicks fora do bar dos haoli
médico de cínicos e desertores
se não quem te indique não encontra job e toma logo o jab
parece que estou escondido na mata quando não
o fantasma de base camus e tao tão no grampo
talvez milicos nos verão
FODA com dois é ff




a terra é plana porque meu mundo é um vaso

comigo-ninguém-pode
sonhava ser melancia
rasteira e rameira fez do
meu jardim envenenado

zenylis

estudar sem existir
ódio sem ódio
mistério-betsu-think
ação continua


fora do gancho

a felicidade do peixe
que o pescador não pode
avistar preso na rede

abstrato 7

forje palavra
e ela se oblitera
mas o s-om.e
                 

ultravioleta

despetalando olhares
asas de glicose
o feixe de luz transpassa
as ranhuras das veias

sem alcool

não ouço mais
do que minha embriagues
liberto e só nem sombra
somente duvida

necessidade de engano

agradeço o acaso por vir a ser o engano
ao engano por ser minha necessidade
que a felicidade aumente por rejeita-la
vivo por lampejos fortes de esquecimento
tanta porção ignorada escondida que não dou a minima
nunca poderei amar como da primeira
vez ou outra esquecerei de tudo para lembrar
que não poderei
importar flores para a proxima batalha
as feridas esperam pelo dedo para que retire as cascas
aos que querem discos de roque só uma faixa tocada
antes de ir a qualquer lugar há de se despedir
hoje eu quero desaparecer numa noite de ontem do ano passado
no dia eu esqueci da palavra alvejar e estudei a cerca de esclarecer
é mais do que chuva que cai no parapeito
é mais que raio mais que raio o que me atinge o peito aberto
mais que um pesadelo agora que estou sóbrio
mãos nos bolsos
nada se foi
pensar em suspeitas ter razão com o medo
porem já adianto o supapo ao tempo 
que não estas nada seguro o melhor é dar uma volta
sem futuro golpeia a cabeça com punho fechado
olhos para baixo quanto mais baixo mais entendo
respira cava cova com olhos enterra
no recorte de fotografia o mundo
salve lodo

metaformosantígona

medeia-acorde
gaveta-morte
corte-catartico

ela vestia seu quimonos
e as manchas eram
seus filhos ainda nascer

tenho previsões
que não espero
nem acertar
mas ser o desejo
de todos

sua filha agora
está sob cuidados

forão noves

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

impotencia (aviso)

sou tão importante
quanto a guimba
que não fura o saco

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

風格 - fûkaku


possibilidade
escrevendo sua pregação:


chusma em desuso


a riba agrada-se de vestir
a caminho da palma e do paladar
acerta seguro e cai
o fruto no cesto
a floresta diz:
o dia, uma lição.
anula

gravidade

terça-feira, 14 de novembro de 2017

carambolas

o segredo
tá entre
a estrela
e a faca

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

harsh noise narração

para a violenta procurando afinação
estrada do sul a guitarra soa coiote
entrando no coração faminto na curva
a bleeding heart um filme B sobre vingança
esquartejando cavalos com dedos em pinça
atravessar E minor mood repeat repeat
não se pode ir a lugar algum com a batida
se a cidade ainda não foi construida
chamas pelo deserto lataria delirai
encapsulado num catcus azul aço
você expreme enxugando o gelo
eu desviro entre alguns cacos entre um filamento rubim
pendendo uma asa traiçoeira 
cogumelos em frestas de madeira
as mucosas escorrem pela aberta via até a estação sul
ninguém grita ação até eu retangular o sol
fragil e afiada como o primeiro canino mastigando
a porção espumante epiléptico se aproximando bem
você vera a malha das vogais entrelaçando
aqui fazem liquido de pedra e o mais vulgar não dá caronas atoa
descontando do salário um vinho pra mim mais duas da mesma
o microfone está prestes a expressar o ano novo como um champagne
os sujeitos não contam mais as histórias que conheço
o lagarto se despendura da fenugem enquanto a palha negra
repele dos olhares sua agulha magnética ele diz
yeah that's a E minor mood e suas ondas nós conseguimos
delirar a lataria chamas pelo deserto
rodopiam as rodas cordas em sua bobinas negras
vejo rastros do fluido direcionando a rota para
o proximo shot é por conta da casa
ele ainda estava se recuperando das trincheiras
quando comeu areia do próprio chapéu
seu nome está na sua testa com o número
aluguel ele bate na porta depois da invasão
a tv esta ligada as fitas magnética cravadas
construção de talhada de tempo
onde limolisas destravam as suas orbes como bocas
castas de risadas escondidas em rodopios
por onde o sibilo é prata em 
consumatio corruptus de defastação florestal
de um zanga faminta de putreficção súbita súdita
trago a syrinx como nova esfinge exaurindo
exigindo e desinfeccionando o sagrado
em salmourada água de beatificação estupida
os revolver eram de veludo
e o garoto ascende e o abacate
até guacamole YELTH!

desistindo

travo a batalha
com algo que valha
minha resistência
em plenos pulmões

rasgo e nacos
ascos de razões
entre o sistema
e a velha palavra

hoje surge

tentativa de busto que ficou as moscas

busto arregaçado pela linha mestra da geometria
o queixo qualificado como gaveta de pérolas
o esmaltado do cabelo agora indeciso alvo purpureo de um sol a destilar lentes
aquele trepidar sem tripudiar dos brilhos azeitados
a forma olheiras como dois olhos que batalham pelo devaneio deixa devir
note também a resistência do pescoço feito com tijoladas de tinta látex
em se libertar do axial desvio de circunferências
turbilhonando em mosca volantes e lampejos
junto o queixo dela antes que os olhos fixem minha mão enluvada
não de boxeador mais de doutor em procastinadas esporradas
por onde circunscreve o pincel agora nu em pelos com delicadeza katana
érro alvo
as flamulas e chagas do pintor
arrancando flancos da amada
como se fosse trono dos destroçados
gelatina sai pelos poros como troféu de uma bala que passa
ziumindo como um verdade enxame
mais uma operação bem sucedida
entre suturadas extraviadas ostras
amado por um objeto armado
voltando ao esquálido presente ruborizado

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

canção para anões voltarem pra casa

eu sou a chaminé da minha casa

e sinto pena do cordeiros órfãos

que tem que limpar com seus cotonetes

o tubos e vias respiratória

como pavimentando novas autobahn

com sua surrupiadas roupas

quando me pedem pigas sen se piegas

vento forte até a maresia acabar

meus nariz fazem rufiões

mas meus órfãos me adoram

trouxeram o meu colar

agora rouco e ronco por eles

como um papel de alumínio

jogado a repelir radiação

nos olhos sanguíneos 

enquanto tolos ainda marcam território

eu abismo e me precipito olhos

eu sou a chaminé da minha casa

eu trago a presença e a fumaça de que habemus

para a rapariga loira e morena

que esconde o diamante-manilha

nenhuma espinho é como o que nasceu

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Nosebleed - Danny Brown

adaptação 

usando cartão da telefonico
comprovo que o emprego paga a grana
seis meses de rehab na pele que hábito
ela não se divide no débito, deveno apenas o crédito
e as finanças vão pro ar
reflexo está ai mas ela não pode olhar
no mármore a poeira fixa as frestas
toda vez que faz segue sendo a ultima
chumbado como dá primeira vez
voltando ao dormitório de 2014
nunca pensei que a relação durasse
enrolando canudos nasais na gilete puxando a realidade
estalos de boite ela e seus amigos evaporaram
nunca durma em casa de chapa e chamada não atendida
texto não respondido do ex
sentido que cada segundo o mundo podia estar fadado
e quando trava faz a o xana escaldar
rostos corado indo atordoado sutiã se suspendes
inspirando até a aula com sangue nos lábios

estranhos pés de gigantes

te enviei o email com o diagnóstico
parece ser impassivel de erros agora
que os devidos estanques foram feitos
eu prevejo uma breve melhora
talvez estação assim as constelações
voltem regurgitem sobre nós os vasos
com suas milenares histórias
sem lisura como um ming
que não podemos mais rastrear
de pessoa para pessoa
assim tecem as nuvens e sua bobinas
variam de altamira para altamar
escapamos por poucos
podíamos ser esses grãos de ficção
mas somos ainda mais divertidos
que hologramas por não termos
que por em termos nossos dogmas
nem pregar peças uns nos outros

Ar Nir Dae
Ja nao tenho mais vontade
De escrever sobre voce
(Passado faça o favor de passar?)
Ou quase isso.
Ao meio dia, umas seis horas...
E de repente sim
Quando carimbo meu olhar
noutro olhar
Assim que surge teu nome no ar.
Vez em quando assim
Num lapso
Quando cantarolo aquele trecho
Tenho que pegar
Tenho que pegar
Mas minhas maos foram se abrindo
Com o decorrer do tempo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

parelha substancial

é a sincronia de lágrimas gemeas
das almas carros e cargos de fluidos
das cabriolas sem gravidades infinitesimais
transformando velhos em pequenas bailarinas
seguir então os rios
até alisar as pedras
saberes sabres e saibros
o fino corte que continua os laços a espiralizar
que entornarmos em nossas gargantas telecinéticas
a psicose que um dia guardei matilhas a milhas
hoje com medo palmilho desafiando o canto primo
nossos panos ainda se casaram e caçaram carcomidos por traças
e as vezes encontro na criação de pensamentos infantis
numa transa de ideia que já não é de mais ninguém
mesmo sabendo a quem pertence os porcos
nossas solitárias lagrimas de Gangues
that anybored see
como sentir aquele momento
e depois rir até doer a barriga

terça-feira, 10 de outubro de 2017

pluma

estampam minha pele
há um lugar onde não se deve chegar
você segura a minha mão
guia por todo o seu corpo
enquanto eu procuro entender
quando devia procurar sentir
mergulho por esses grãos
que não conseguem fazer sombra
mas também não acarinham
que áspero eu sinto mesmo
eu sinto o mesmo que você
mesmo não encontrando lugar nenhum
me pulsa carne osso e nervos
depois de caminhar por toda a orla
perceber a tarde nos meus braços
seguindo seu movimento definitivo
eu admiro a sua fuga
porque eu não consigo escapar

On

l'if swings off weird science
try to relax but all mechanic

quadrinhos e magazine:
into relative chill
of winter late afternoon

just established an ethics
committee for
Artificial Intelligence

exception brush thee rules
push button and plot and blop
cowboy bebop on diskflop

lembra da janela noventa?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

chuva de outono
desprenha a boca
por uma cuspida

aki kaze no / yarido no kuchi ya / togari-goe
outono 1666

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

anomalia

chassi de barata retorcido
para o próximo destino
o motor desprendido
encostado na calçada

sábado, 30 de setembro de 2017

69

gemini
versus
io none

floricultura la fiore

as crianças são mais flores que crianças
brincam de brotar no jardim
amanhecem orvalhadas de risadas e letras perdidas

terça-feira, 26 de setembro de 2017

MF DOOM - CURLS

desprezo faz do dinheiro verde cacho
só querem desfilar na neve com esquilo nesse desvairado mundaréu
mana leite e mel no liquidificador
imprudentes despudores em filamentos perolados
cumprimentando o larápio lapidário
revoltado em formatura legal mas sem legado
no fone famigerado real dono da moeda
não me burle enquanto carregamos a mula
cinco mil e uns quebrado não (mas) muito estarrado na rua
ahn? tentando hoje algo pra encher o bucho
então ele completa 4 de sentença e mal prensado manda rima pra pobreza
deixa mocado no cafofo
rimando mosca perdendo a boca sem poder ir na esquina
sua vida considerada folclore na imprensa
passa a bola puxa e prensa
melhor do que um rififi com aposentado bêbado
um careta com promessa na visão celeste era o sete
já é precoce em quase tudo
usando a etiqueta tomando espumante no frasco
perguntando a senhoria se matar aula ele passa
a sua garota está só em casa tentando alcançar
se deseja o deleitério é melhor pegar copo descartável
como eu poderia saber por onde passou essa boca
sabendo fumar uma montanha marroquina até a cinza
propina vaza daqui com essa porcaria
sabendo que é bom A ULTIMA DOSE soma um no dossiê

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

terrena mão

quero sozinhos
fechada em mãos o parque
bonsais agora

crânio rosa

roxo solar
céu purulento
gengiva leito

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

balada daquela coisa

(uma versão)

Eu mergulhei de costas naquele chapéu azul
e abolido com meu único amigo a neblina
no almoço minha fome se intensificou
eu congelei perto do zero ao lado da fogueira
carcomidas telhas com polegadas de onde estive
o gorjeio da fonte sanitária encontrou minha lábios estava ébrio
a fauna do acostamento perdeu sua essência estonteante
o verão se desfraldava quando eu petrifiquei um suspiro
eu mirabolei a estrelinha e sua benfeitoria
por esquentar meu enxuto e velho passei-o
estive por deriva, todos os oceanos o mesmo
abençoei minha saliva até o agreste

entre cubos de gelo eu peguei o bafo da luta
vestido simples um folha de figo
não sei nada mais brilhante que a noite
e nada mais sombrio que o ofuscante dia
fui uma carpideira em tavernas que perdi a botelha
e ri com lápides no cemitério
o que rejeitei se tornou realmente meu
arruinei tudo que é quisto por mim
eu sinto o outono até o osso
senti no meu congela, cabelo esfiapado
e questionei assoviando all alone
eu que abençoei minha saliva até o agreste

o triumfante céu velado em minha tenda
meu escalpo se tornou faísca e sombra d'água
então, eu acudi adeus!
e futuro, me estabilizou por um quarto
descansei em rios por horas delongas
eu contemplei o suor do mineiro
mas apitei até a majestosa torres de catedrais
e escondido a vestuaria do bispo com desdem
meu corpo sentiu que beijo eram doces
e o pélago era arduo, e o que foi?
eu dormi em seda ou na sujeira da rua
eu que abençoei minha saliva até o agreste

é verdade que tenho raízes, sem esposa ou vinho suave
e minha botinas de vento me crepitam
mas terei dinheiro mais tardar possível
um dia irá suceder a tudo
quando eu fizer orgias longas o suficiente
eu vou deixar esse real mansão novamente
os vermes vão se enfileirar pela minhas coisas em putrefagia
em algum lugar afundado, no plano do outono
um arbusto espinhudo vai crescer pela minha cabela
e os signos vão consertar contra meu gosto todo aquele afã
e eu devo descansar qual era o nome daquele poeta morto
um poeta, abençoado perdigoto por tudo um pouco

(Budapest, 1934)

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

salamandra II

a bed full
of clothes
and dreams

mastigo
penas

porta
adentro
encerra

a casa
a rua

mas aquilo
nem toco

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

still life

cada casco vazio
enche os vasos
de pernilongos

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

o que pode ser ouvido

Sol une soluna
Silên-cio 
Soul suor soil

gaia

arvores crescem
pelos caminhos ramas
o sol é para todas
conforta-te na sombra

procura-se

este lugar
em que se coloca
todas as coisas
gavetas
diários
roupas
digo armários
gavetas
portas
como se nunca
encontrasse
há tempos
há eras
que celacanto
causou maremoto
fóssil vivo
encontro
não sei
não era muito comunicável
mas estava lá
fazia tempo
surrupiada
tivera que ter
outros olhos
cansar dos modelitos
ou eu mesmo
reaprender a falar
com a voz dos outros

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

miragem

brincam
pavão vermelho
a bola no pé
arrebol
areia
o mesmo sol
sobre nossos cocos
espera
há algo cíclico aqui
pera
erro
eixos
bicicletas
eu preciso sair
agora refém
do vermelho

sexta-feira, 28 de julho de 2017

made in usa original vintage 78

foi outro dia que aguardava como uma caixa de papelão aberta
mas poderia ser agora mesmo ou poderia ser agora mesmo eu já disse
o momento de comprar cigarro "a vaca foi pro brejo e atolou
como se fosse a única coisa que faço se não ruminar café
espero ainda te encontrar seja onde for isso é não uma
não é atoa que cruzo as ruas procurando
temo que já tenhas se tornado desconhecida
quando converso com botões mastigando clichê
procurando nos meus bolsos encontrar esse rapazito sentado
esperava não como eu outro ar nos olhos me chamou a atenção
sua feiura eu que não agrado algum por padrão ou beleza
como um guarda-chuva espezinhado senti uma joaninha no olho sorte
na volta ele encontrava a sua garota se possível até pra ele o que vou dizer
com certeza que os mais estranhos se atraem magneticamentes pelos polos
eu que me reviro nas entranhas para enfiar sapos pelo cu tudo sanar o patê de sardinha
receber o gozo com crucifixo derramado em leite faço minhas orações ao oceano
ortodoxo na esquisitice sou um careta diferente ou igual nada tenho além da espera
mesma pose com o mesmo drama a careta patética
já dizia minha camiseta com a ironia da irônia

quarta-feira, 19 de julho de 2017

A crazed girl poem - not yeats

aquela maluquete improvisando sua música
sua poesia dançando pela orla

sua alma descolando-se de si
subindo e caindo não sabendo onde
entre frete e vapor
sua rótula quebrada eu declaro garota
essa coisa sublime essa coisa
heroicamente perdida ou encontrada

não importando o desastre
ela ficou com a música desamparado trauma
trauma trauma e ela fez o seu trunfo
onde seu fardo e sua balada deitava
tatibitatiava um balbucio não compreendido
mas cantava ô mar sedento, ô famélico mar
graduação da boca
vento de outono
duende-além-disso
chuva desdobra
maquinário gaiola
pensar plântula
ai!

chuva dobra pensamento
sou tudo aquilo que possa existir
germina espírito da manhã

a chuva se dobra
tamanho imaginário
embrião da manhã

a dimensão da chuva
questiono o espírito
amanhecer com pesar

dimensão aprisionamento
o questinamento do transe
você não está morrendo
o coro é mesmo angelical

o pensamento é simples
estou me dividindo em dois
bem embaixo do seu nariz
chega!

ame ori ori / omou koto naki / sanae kana
(1684-94 ~ summer)

quarta-feira, 7 de junho de 2017

The Jimi Hendrix Experience Sweden, 1969 First Show

ele é extensão do seu machado elétrico
que o imã e o vento carrega e propulsa
abre com as cordas sua tensão distorcida
sua exasperada emoção nem maior nem menor
no mesmo ritmo de seus antepassados invocado
ele tem serenidade de encontrar-se em si para si
já esteve só mas não é desses casos fala mas de outra maneira
que as palavras não conseguem atingir com brutalidade
o machado abre flores borboletas e pirilampos
numa casa no final do vale por onde caminha suas notas
numa casa vermelha onde vive minha garota ele diz
ele está ao vivo não se tem sinal de platéia
monstro roxo que ele seduz por todo esgarçado sentido
creio que depois dessa apresentação
nomearam uma doença com o nome do lugar
é uma brincadeira boba que penso sempre
o ritmo cardíaco constrói o mapa cartesiano
quando a membrana vibra estoura ao minimo contato
por onde baila e bali os números constantes da sua sintaxe
é segredo mas há algo mais grave cromático exato
é uma constante sobe desce faísca
a potência da sua voz na concha acústica
duas mãos que em conjunto negam uma vaia
formando novo ouvido que precisa ser cultivado
um silêncio encantador de se deixar ser 68
eu estive talhando noventa e nove dias e meio
uma chave que não abre mais a porta
um segundo alguma coisa está estranha aqui
é duvida e dadiva de um presságio ruim
de que ela não mora mais aqui
preste atenção garoto não há nada que precise
saber se não estiver no tempo certo da safra
não há o que nada que preste ter se não cuidar
pelos métodos da calma o antidoto das horas
as vezes sentar e pensar as vezes só sentar
algo que estraçalha um sentimento de que não erra
quando coloca a mão empunha sua vontade
que estão unidos ao pulso e não há nenhum curso
desviado ao se cruzar o rio só não vive mais lá
não com o mesmo nome nem com a mesma forma
é por isso que quero interrompeu o garoto
o velho bluesman já embriagado de sua monotonia
queria ser um bluesman e saber o que esses homens azuis tem
nesse piano bar nesse sit down spoken word comedy show
alma diamante palavra bruta open the gates and sing
essas coisas difíces de pegar no ar
brilho inesperado
da estrela materna
couro de cervo

aki ki nu to / tsuma kou hoshi ya / shika no kawa

verão ~ 1678

dando bandeira sem óculos

descobri como controlar as nuvens
com o simples observar
do mesmo que se apaixonar de novo
não pensando em nada mais
estar atento sem nada ater
quando as nuvens se encontram
imaginar um beijo
a Terra se misturando ao Céu
a face de Deus movimentando as plácidas águas
o primeiro pingo levando todos os disfarces
borrando assim a máscara
eu entendo as nuvens agora
depois já não sei de mais nada

aglutinado

tapo a boca com tua virilha
queimada em acetato e éter
me babo de blues e pink
me disfarço com lençoís
o santo olhar de cão perdido
você é toda voz açucar na tigela
eu rastro de jazz e melodia
como um urso entre marfim
de teclas e hexágonos de mel
germino entre salivas e larvas
em tua bolsa de objetos afiados

segunda-feira, 5 de junho de 2017

folhas de taiá feito
orvalho e lama 
orelhas de elefantes

retrato de costas (contra luz)

no frio surgiu
despindo
flor de arrepio
face do doce fragmento único
invisível primogênito louvor
ainda perigosa flor de papoula

doce expressão
filho prodigioso
perigoso óbvio

doce pitadinha
imaculada inspiração
flor sonífera

ama no kao/mazu mi raruru ya/keshi no hana

quinta-feira, 25 de maio de 2017

hortênsia veste
a manhã fresca
asa azul clara

ajisai ya / katabira-doki no / usu asagi

verão ~ 1684-94

segunda-feira, 17 de abril de 2017

clássico brejo
telegrafa o sapinho
splish splash

furu ike ya
kawazu tobikomu
mizu no oto

quarta-feira, 12 de abril de 2017

ferrugem carmim
lâmina indiferente/dia igualmente cruel
gemido de outono

*

aka aka to / hi wa tsurenaku mo / aki no kaze
(outono de 1689)

quinta-feira, 23 de março de 2017

lilás que contrasta
com poças do jardim
distinto espetáculo

ajisai ya / yabu o ko niwa no / betsu zashiki
(1694 ~ verão)

Testemunho

GANGUES DE BICICLETAS POSSUÍDAS pelo demônio empunhando rifles
correm pela sorte de romper com império negro sistema hegemônico
por terreno devastado carregam corpos segurando suas almas de amoníaco
famélicos pela abstenção do prazer júbilo punitiva moral perversa
bandeira rota fuga esperançosa contra a corporação bélica intravenosa
unidos pelo real progresso quase absoluto de nossas vãs vidas
seguros de expurgaram o mal pela raiz por todas as suas vias
na transvalorização da moral tão malignos por apenas terem uma crença
a de que a vida subalterna não será perdoada pelo CANCRO
para reinarem pela primeira hora sem sombra ad æternum meio-dia 
repousa a larva revoluta frágil desculpas fáceis em face
grande branco incólume colosso nada carregado abismo
mariposa escondida no mármore a brevidade chamas
incendeia apologia ao caos conservado éter analgésicos assassinos
do consagrado vivem agora COROA-ESPINHO-FARDO
pés que se desmancham perto de Gólgota pentagramas formam a ultima noite
obumbrando o deleite cromado de sua tranquila tez permanecem imóveis ao oceano
de sangue sacrifício contingente dos agentes do ódio esquecimento eterno
guardado em mapas criptografados em canhestra cifra resta somente o carneiro
sua sangria jorra como muco sem cheiro diz-se ungindo os caçadores de espécimes
com suas roupas de couro cinza rinocerontes escritórios multinacionais
ALERTA a extinção de oxigênio submerso luz cegos apneia
DANO CEREBRAL com parcelas de inanição irradia oitenta oito porcento do país
potencia em aguardada gestação rompe as bexigas sobem as vísceras hemorragia
ou somente na esperança dos utopistas ideológicos terroristas em potência
como hidrogênio tornando-se hélio a furta-cor de beijos de despedidas
a bandeira da sobra anarquia na carne no corpo cruel o aquário ínfimo e infinito
repousam voyeur nunca descansa os voyants o terceiro olho onipotente
embriaguez vertigem meliantes arruaceiros o marginal corrupto
com sua dança macabra armada até os dentes de você-sabe-o-que
sagração do efeito dominó ocorre a cada banco explodido
de tempos em tempos volta a acontecer onde estão as bacantes
onde estão os sacrifícios carneiros ciclo siclo ouro e sangue evoé 
guardam seus charmes milenares por entre barras de cocaina
a nova invenção das palavras como verdade fato e factory
é um veneno tenebroso dado ao mais seboso quadrupede em pé
que investigadores espirituais tenham tribunal para tantos créus
vendido nosso tempo tempo livre para tempo nas propagandas gratuitamente
agora nossos sonhos pertencem a grande corporações cropolico cultural
monosódio de glumato precisamos de india intergalatica para perder olho que nos resta
uma enciclopedia com busto lusiadas e camalhaços de bits sentimentos tenazes
que serviam para ser reciclados nem exilados excluídos da memória
borboleta
folha seca
travesseiro

naraka

fuzilem Garcia Lorca
e estarão parindo-o neste momento
karma's a bitch!

segunda-feira, 6 de março de 2017

magritte

pillow river
chidori
guarda-chuva

quadro do momento em que desperto do sono

C  A  I  R
Z  Z  A  Z
Z  I  Z  Z
O  Z  Z  z
A
BAB
OBABO
BOBABOB
RBOBABOBR
IRBOBABOBRI
NIRBOBABOBRIN
HNIRBOBABOBRINH
AHNIRBOBABOBRINHA

dente-de-leão

sopro!
leva a juba branca
até a vialáctea

4 3x4

a câmara registra
o efêmero dos olhos
e um sorriso raro

desenho de luz
eterno teu rosto
terno e sincero

I dont explain it
nada do que fui
somente lástima

olho mágico
observa por um furo
passado e futuro

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

se tu meu irmão - ungaretti

se tu retornar vivo
com a mão estendida
ainda poderei
esquecer de uma vez, apertar
irmão uma mão

mas disse disse não me cerque
qual sonho meia-noite
incêndio sem fogo do passado

a memória não volta ao imaginado
e a mim o mesmo o mesmo
eles já não estão mais
aniquilando qualquer coisa de pensamento

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

fumo - pizarnik

marcos rosados em calado osso
agitam o cocktail fumegante
mil calorias desaparecem
ante a repicante austeridade
dos fumos vistos por trás
duas mãos de trevos rotos
quase enredam os dentes separados
castigam as obscuras gengivas
os cabelos riem movendo
baixo ruídos recebidos ao segundo
as pegadas de vários marcianos
conhaque boudeax-amarelento
rasca latrinas sanguínea
três vozes foneiam meus beijos
para mim para ti para mim
pescar a calandra eufórica
em chapas latosas
ascende labuta

garota

o que ela faz no verão
o que ela faz no domingo
ela caminha na rua
arrastando seu sorriso melancólico
cheiro infernal de seu corpo
vai até o templo hare krishna
caminha pelo calçadão
como uma coquete
seu calçado é similar converse
não saberia reconhecer marcas
usa calça legging preta
o que ela tem nos olhos
está de óculos escuro ou
não se fixa distante
como se atravessasse algo
com alguma coisa em mente
ou somente nada
carrega uma epifania muda
sossego ou desassossego
o que se sabe é que os homens
viram pedra frente à ela
doiram os cabelos ao vento
os trejeitos das mãos
como moluscos tentáculos
deslizando lâminas no ar
desenhando ideogramas em naquim
mastiga como um ósculo
sereno e firme
desfazendo em pequenas frações
não há ficção
nem hipérbole
o que há no jeito dela
de que sobe no carro para nenhuma
ou qualquer direção
como roadmovie em alta velocidade
mas ainda nem entrou no carro
parece esperar
quem a persegue por todo o caminho?
a persegue o cão

modiglinani

esconda teus olhos em timidez
ovalados teu rosto teus lábios amorados
sutis como cor que o pincel fez

Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town - Pearl Jam

seu rosto está irreconhecível
persiste familiar seu lugar não sei a forma ovalada
nada ilumina meus pensamentos nem mesmo uma lamparina
tenho a minha vida me segurando e/ou pregando uma peça

todas as mudanças acontecem em seus lugares
e eu estou prestes a observar uma acontecer
nada me levou a lugar nenhum e nada me levou a lugar nenhum
corações e pensamentos sucumbem
corações e pensamentos sucumbem

reconheço teu fôlego esbanja eu prometo
memórias e digitais se enraízam devagar
você talvez não perceba, mas eu já perdi a minha forma
é difícil quando se está no balcão

eu mudei por ser a mesma
a cidade canta meu fado
seja o que ninguém quer ver
eu só quero a rouquidão de um olá

Deus tanto faz quanto tempo
eu nunca sonhei com seu retorno
mas agora estamos no mesmo ponto
nossos corações e pensamentos sucumbem
nossos corações e pensamentos sucumbem
nossos corações e pensamentos sucumbem

domingo, 12 de fevereiro de 2017

o cachorro

vovó perguntô
viu o meu cachorro?
olhou para os dois lados
assim foi
meu olho seguiu
sua forma
seu pelo
seu cheiro
se foram
me pergunto se era velho
pelas ruas segui meus devaneios
surgem assim

*

não o vi
não perguntei nada
absurdo

*

pra que rua atravessou
ele ainda se encontra no bairro?

*

se foi rezar missa
está agora com fome

*

a sua carinha esperando

*

chove
um cachorro assim
perde o olfato
perde seu caminho
não encontra sua casa
embaixo da marquise
talvez

*

o cachorrinho apareceu
com outra dona

*

que bonitinho o seu cachorro

*

as ruas são paralelas

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

trompete de ungaretti

cada tom se expande comodamente
noutro tom

i.e. basta existir

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

essência

não onde quando ou porque?
se encontraram o átomo
porque não se encontra você

nvblado

disfarces vão com a chuva
primeiro pingo o rosto
mascara toda a sanidade
sol ainda esculpe o riso

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

soneto

tantas vezes queria falar
o que estou para perder 
tantas vezes queria falar
mas eu não posso

a razão não me faz vencer
repetidamente ela cansa
a razão não me faz vencer
repetidamente ela cansa

quando cai enfiei a cara na merda
quando cai enfiei a cara na merda
quando cai enfiei a cara na merda

pés que erguem sempre desabam
pés que erguem sempre desabam
pés que erguem sempre desabam

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

floresta clara

estou trepando com cona duma arvore ou é arvore inteira meu corpo
seus ramos raízes gemem orvalhados pelo vento sou barro a terra roxa
estou suando nossos fluídos seivas nossos líquen musgos folhas decompostas
enraízam-se entrelaçando a sola do pé sem sola as minhocas compõem o quadro
contamos os anos em anéis figura dos tocos dissecados numa analise séria
decepados pelos que conseguiram não amar rios flutuantes ainda existem
cultivamos a amazônia atlântida dentro dos pelos pubianos reduzidos a história
há um bonsai no coração de jabuticaba as pedras e o tempo
as bocas tingidas amoram amarram o silêncio eu-sei
ninho de joão de barro eu gorjeio meu estertor não-sei
os primeiros raios do sol fazem curvar projetando mãos sombras
que agarram a carne ríspida do mogno envernizado enervado
você faz a piada com quantos paus se fazem uma canoa
eu construo com os fósforos palitos de dentes a restinga
que nos acarinha na vertigem do pulo ordinário ao celeste
enquanto o vento cinge as pétalas da rosa doce linguagem
dizem que enterram-me os olhos e que tudo que sinto é meu corpo
e o universo parte ignorada também de meu corpo
aninho me sinto no oco a pulsão cardiaca bandolim em potência
depois de tudo é possível estar vivo estar dissecando
agora o desejo de ser paisagem aos olhos de um pintor
ou a simples contemplação você ainda não viu

meu filho

quem faz a grama verde
respondo um pintor
quando crescer eu quero ser pintor

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

lygia clark

elã elástico
espiralado
infinito
retorcido

*

forma pontiagudas
triângulo-cubo
tsuru de lâminas

*

linha forma mosaíco
estrelas se chocam
supernova chapada

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

chama

sedento por um cigarro
estou sedento por você
fósforo momento exato

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

brancusi

pássaro no espaço
no céu - traço
caligrafia no papel

*

esculpir com a pena
o mármore com a tinta
volat - abstract

*

eau-
(forma
oiseau

chibata alligator blues

sol após sol blues gaita o pé marca o pessimismo compasso por com-passo reclama nada inovador meu amor não vale 1 chevrolet cordas enferrujadas num pântano no mississipi ou no canavial um breu por onde passa este terreno instável da ignorância anterior as navegações do cadáver a esconder ou para descobrir as chagas sorrindo como diabo jacaré canta o que levou o que perdeu sol após sol deixe-me ser a vingança o negro que corre para o vermelho cor ligeira que não sai pela água que não se lava nas raízes dos cabelos as plantas do pé as linhas do destino africadeus minha dissecação fricção dos meus lábios fio de navalha lábios ferida aberta estalidos da língua a saliva rala blues coxas e coaxos vagalumes coxas coaxos e vagalumes a língua como estilingue noite uma garrafa escuridão vazia noite estrelas salpicam o breu o coaxar a saia rodada o beijo roubado de nem um tostão sol após sol o meu senhor me deixou nada inovador fui abandonado ou abandonei ninguém parece notar quando se está down and out melhor assim do que ser um milionário eu tenho minha razão para não temer nada não ter nada não ser nada por entre as barras dias em branco branco de giz de giz na parede sol após sol contando quadrado os dias azul na péssima tradução azul novamente azul a cor da embriagues de quem canta os males espanta garganta canta alma como champanhe e vinho cordas entorpecidas para se enforcar ou para sustentar este acorde a servidão meu senhor é algo brabo pra burro não é meu lugar não é meu lugar fui abandonado ou abandonei o cadáver abre os olhos na escuridão das pupilas o púlpito a salvação é lama profundo lamaçal senhor as pulgas beliscam casebre quase vagar de um fantasma uma voz no pântano as estrelas espera espera espera ele esperou mentiou a si mesmo espera sol após sol que armas ele tinha além dos próprios punhos cantava os jacarés pela justiça em sangue trabalhava feito pobre diabo em sangue condenado sol após sol ao salgado ganho suor o cegava seu irmão mutilado não descansava pra onde vai o desespero quando sol após sol o glissando da faca afiando desafinando sobre o violão a rouquidão da faca da voz da alma em brasa embaraçada na garrafa nem um tostão é melhor do que ser um milionário porque se perder tudo quando já não se tem nada o amor não vale um refrão rima alguma salva a canção o que ele me deixou um cadáver numa prisão a noite os olhos o blues a sede sol após sol quieto murmurou a melodia de que sabia não havia mulher diabo só o próprio rabo como carne sem carne agora ele precisava agora o sangue negro na carcaça anos a vingança a sede a vontade de foder com tudo como um jacaré animalesco marcava o pé o péssimo compasso em seu desejo de atravessar a solidão vingar um irmão sol após sol amargava o rancor a refeição arquitetou sua vingança ninguém nunca mais soube do pobre diabo que riscou a giz apagou como sol após sol quando choveu a vida para cuspir no tumulo de seu opressor como herança a mentira dos trovadores a mitologia de que fora um rei banhado em ódio silêncio no pântano silêncio no crânio espanto e horror esperava ele mesmo cuspir no tumulo do seu opressor sendo nomeado como requintado uísque feito de cordão e fiapos consumido e engarrafado pelo mundo todo não deixando sede a um preço razoável até para os mais humildes

haikai

Queda (alma
dos movimentos sem
forma ─ d'água

ouve sem h

ouve do A ao Z
não é o que houve
antes do percurso
as letras querem
é que você ouse

furto

deixei a casa
com a impressão
de que não passa
estava aberto
ou fechado o portão
sei que pode haver alguma testemunha
alguém que noticie o fato
um espectador inerte
ligaria pra policia
ou mesmo a policia sempre toma café
na padaria da esquina
mas eles não vigiam a minha casa
achariam que é mais uma farsa
enquanto o controverso
mas não eventual
pode ser cotidiano
apesar dessa oscilação tão natural
estavam mudando de casa
estariam se desfazendo das coisas
não sei
o portão perpetua aberto
um carro parado
um homem sai
caminha pela rua
é ele ou não é ele
vigia a casa constantemente
deixou essa impressão
não é só ele
há outro carro na esquina
o que observam tanto?
cercam a casa
se comunicam
seria possível?
a quanto tempo planejavam isso
não poderá dar errado
o mal é calculado
como quem sabe
desmontando o relógio
mesmo este não volte a funcionar
mas começa a entender
o que o faz mover
são poucos segundos
mas a compreensão logo chega
as vezes tarde demais