sábado, 30 de junho de 2012

em um dia qualquer desses,

Ela botou uma concha na orelha,
pra ouvir as conversas do Mar com o Vento

ouviu os Pássaros,
ouviu as Arvores e Ramos,
mas não ouviu os amos, que pra ela, eu costumo assobiar,
minhas palavras voltaram com o Vento junto ao Mar...


Em meio aos teus corais eu naufrago.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Instruções detalhadas para o levantar da cama (durante a manhã)

"Nunca deixe pro amanhã, o que jamais pode ser feito."

 Fernades Correia.


Após uma bela noitada em baixo de cobertores, lençois ou edredons, claro, com a cabeça confortávelmente bem apoiada sobre o travesseiro, o seu relógio-despertador (mecânico ou biológico) lhe informa o momento de despertar para as ocupações rotineiras da vida cotidiana, mas naturalmente encontramos dificuldades ao acordar graças inércia (que segundo consta na Enciclopédia Ulysses de 94, só passou a existir nesse mundo em torno de 1687, graças a mente diabólica de um-alguém) e o peso do corpo multiplicado pela gravidade do nosso planeta (o mesmo alguém que criou a inércia definiu este impecílio, que falta do que teorizar!), ainda por cima (e felizmente aconchegados na horizontal) temos que lutar contra as forças da sonolência aguda e prolongada do recém despertar.
O primeiro passo é fundamental; abrir os olhos. É importante que foque a sua cabeça em algo interessante e importante, e que principalmente não faça parte do mundo dos sonhos, caso contrário você voltará a dormir e todos os seus esforços serão em vão. Amarre a cabeça em coisas pesadas como pedras, elefantes, ancoras, para que ela não saia voando até chegar as nuvéns, e num bocejo você volte a dormir. Sinta o peso das pestanas e da poeira deixada pelo João-Pestana, sinta mas não deixe que eles o derrotem. Passe as costas das mãos sobre os olhos malandros, repita o gesto apresentado na figura nº 9 (vide contra-capa, página número 33½) até que finalmente seus olhos compreendam. Acorde!
Após acordado, ainda um pouco atordoado com a batalha recém travada, você deve seguir para o próximo passo: tirar as cobertas quentes de cima do corpo molenga e passar a dividir o calor com o resto do universo. Não seja egoísta, vamos-lá, divida! Muito cuidado nessa parte para não sentir um frio muito-que-de-repente e cair na tentação de voltar para de baixo das cobertas quentinhas do seu egoísmo. Recomendo que acredite que lá fora do seu quarto, ou caixa de sapato esteja fazendo um belo dia ensolarado de primavera (sendo assim desnecessário cultuar o frio lá fora ou se agasalhar como um esquimó).
Agora é um momento crucial e aparentemente simples onde é necessário tirar o pé para fora da cama e aterrissar seus pés vestidos por meias vermelhas de croche feito pela babka ou as de seda egípcia sobre as pantufas macias ou sobre o frigido chão. Caso você tenha chegado até aqui e ainda não tenha estendido o corpo na vertical e enfrentado as odisséias kafkianas do dia-a-dia... Aproveite a sua manhã do melhor jeito possível e volte irresistivelmente à dormir.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu não sei nadar

Meu amor guarda num potinho
junto à Ela a saudade pelo Mar,
Ela tem cheiro de canela
e também gosta de chá

Quanto finalmente chega à praia
Ela mergulha ao horizonte
liquefazendo-se ao Mar

Quanto tempo terei que em ti afogar-me
para prestares atenção que eu não sei nadar?

Guardo dela uma fita
um colar de conchas
um óculos de sol
y el deseo de oirla hablar

As vezes tristaído
tenho saudade de ti,
mergulho num potinho teu
e afogo-me no teu Mar

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Desesperado Giuliano

Sentou na sarjeta de frente ao bar que tinha o seu nome desenhado em um neon rosa vagabundo. 93 MILHAS BLUES BAR. Esperou. Mas estava cansado d'esperar, já havia esperado o sono vir na noite passada, o ônibus chegar no ponto, e agora estava novamente esperando. Esperar. Ele nunca foi bom em esperar, de fato sempre foi um desesperado, pré-maturo de nascença, um exímio ejaculador precoce, como diziam as más (e cortantes como uma gilete mach 3) línguas femininas. Ele não era um cara sussa, mas tentava ser, ou fingir. Toda uma teatralidade criada por causa de alguns anti-heróis de desenhos animados japoneses e alguns quadrinhos. Tanto faz. Vasculhou pelos bolsos um maço de cigarro. Haviam poucos, presumiu que logo teria que comprar mais. Desistiu da idéia. Pediria pra alguém logo que acabasse o seus. Botou o Malboro vermelho na boca, vasculhou um isqueiro, pegou um preto da Cricket. Por sorte ou revés, como costumam dizer no banco (imobiliário), não havia fluido. Chacualhava, chacualhava. Nada. Avistou uma loira de cabelo meio desarrumado, ela usava uma jaqueta de couro maltrapilha, uma calça jeans Lee, e mais importante fumava uma bagana e estava com um isqueiro no mão.

Confesso que relutei em levantar do chão, porque existe sempre uma inércia contra vontade, mas houve um relampejo de vontade maior do que a inércia. Resumindo: foda-se essa baboseira. Levantei. Fui até a loira, pedi-lhe o isqueiro emprestado. No meio tempo entre pegar-acender-devolver não consegui pensar em nada pra dizer além de um obrigado que saiu como um latido. Ela nem ligou. Dei as costas, voltei ao marco zero (perto da sarjeta), mas dessa vez fiquei de pé. Fumando. Esperando. Rufando o pé o no chão. Queria que o grande-homem lá em cima tivesse computado todo o tempo que esperei na minha vida, pra depois que eu morrer eu ver a vida como se fosse uma estatística.



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Giuliano Caprano Garcia

75 anos vividos, dos quais:

54 apenas esperou fumando,

9 apenas dormiu/sonhou (dos quais 2 apenas com Giulietta Masina, 5 com Karin Gasparim e 3 com alguma ruiva aleatória),

6 anos estudou (dos quais 5 passou vadiando (dos quais 3 passou mandando bilhetes para alguma coleguinha, e 2 passou desenhando em cima dos livros), 1 passou fumando*),

3 anos trabalhou em algo produtivo (contra a própria vontade).

2 anos passou apenas falando mal dos filmes do Godard e de metade da Nouvelle Vague** (dos quais dedicou 12 minutos à Acossado, 51 minutos para Baden à Part, o resto ele concluiu que seria uma bosta e resolveu meter o pau o resto da vida)


GOD S.A. Todos los derechos reservados  .


* Não estudou de facto.
** François Truffaut está completamente isento dessa estatística.



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Ficou ali parado na esquina como um lunático, observando as estrelas com a finalidade de finalmente ver ou encontrar alguma constelação. Culpou as luzes da cidade por não reconhecer nenhuma. Apareceu um homem com cara de cachorro levando o seu cachorro com cara de homem pra passear. Perguntou-lhe que horas eram, o que o fez descer a cabeça. Respondeu seco, sem olhar no relógio porque gostava de adivinhar as hora. 21:42. O Cachorro-homem e seu Homem-cachorro agradecidos avisaram que sentiam cheiro de chuva e por isso logo iria chover. Saíram. Olhou o relógio para tirar a duvida. 22:15. Não deu outra, começou a chover. Desse dia em diante jurou para si que nunca mais esperaria por Godot. Maldito Godot! Entrou no bar, pediu uma dose de conhaque, "Aquele ali!" apontou com o dedo, e desesperadamente respondeu "NÃO!" quando o garçom lhe disse o preço, mas mesmo assim pediu. Com desespero esperou a chuva passar.