sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Desesperado Giuliano

Sentou na sarjeta de frente ao bar que tinha o seu nome desenhado em um neon rosa vagabundo. 93 MILHAS BLUES BAR. Esperou. Mas estava cansado d'esperar, já havia esperado o sono vir na noite passada, o ônibus chegar no ponto, e agora estava novamente esperando. Esperar. Ele nunca foi bom em esperar, de fato sempre foi um desesperado, pré-maturo de nascença, um exímio ejaculador precoce, como diziam as más (e cortantes como uma gilete mach 3) línguas femininas. Ele não era um cara sussa, mas tentava ser, ou fingir. Toda uma teatralidade criada por causa de alguns anti-heróis de desenhos animados japoneses e alguns quadrinhos. Tanto faz. Vasculhou pelos bolsos um maço de cigarro. Haviam poucos, presumiu que logo teria que comprar mais. Desistiu da idéia. Pediria pra alguém logo que acabasse o seus. Botou o Malboro vermelho na boca, vasculhou um isqueiro, pegou um preto da Cricket. Por sorte ou revés, como costumam dizer no banco (imobiliário), não havia fluido. Chacualhava, chacualhava. Nada. Avistou uma loira de cabelo meio desarrumado, ela usava uma jaqueta de couro maltrapilha, uma calça jeans Lee, e mais importante fumava uma bagana e estava com um isqueiro no mão.

Confesso que relutei em levantar do chão, porque existe sempre uma inércia contra vontade, mas houve um relampejo de vontade maior do que a inércia. Resumindo: foda-se essa baboseira. Levantei. Fui até a loira, pedi-lhe o isqueiro emprestado. No meio tempo entre pegar-acender-devolver não consegui pensar em nada pra dizer além de um obrigado que saiu como um latido. Ela nem ligou. Dei as costas, voltei ao marco zero (perto da sarjeta), mas dessa vez fiquei de pé. Fumando. Esperando. Rufando o pé o no chão. Queria que o grande-homem lá em cima tivesse computado todo o tempo que esperei na minha vida, pra depois que eu morrer eu ver a vida como se fosse uma estatística.



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Giuliano Caprano Garcia

75 anos vividos, dos quais:

54 apenas esperou fumando,

9 apenas dormiu/sonhou (dos quais 2 apenas com Giulietta Masina, 5 com Karin Gasparim e 3 com alguma ruiva aleatória),

6 anos estudou (dos quais 5 passou vadiando (dos quais 3 passou mandando bilhetes para alguma coleguinha, e 2 passou desenhando em cima dos livros), 1 passou fumando*),

3 anos trabalhou em algo produtivo (contra a própria vontade).

2 anos passou apenas falando mal dos filmes do Godard e de metade da Nouvelle Vague** (dos quais dedicou 12 minutos à Acossado, 51 minutos para Baden à Part, o resto ele concluiu que seria uma bosta e resolveu meter o pau o resto da vida)


GOD S.A. Todos los derechos reservados  .


* Não estudou de facto.
** François Truffaut está completamente isento dessa estatística.



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Ficou ali parado na esquina como um lunático, observando as estrelas com a finalidade de finalmente ver ou encontrar alguma constelação. Culpou as luzes da cidade por não reconhecer nenhuma. Apareceu um homem com cara de cachorro levando o seu cachorro com cara de homem pra passear. Perguntou-lhe que horas eram, o que o fez descer a cabeça. Respondeu seco, sem olhar no relógio porque gostava de adivinhar as hora. 21:42. O Cachorro-homem e seu Homem-cachorro agradecidos avisaram que sentiam cheiro de chuva e por isso logo iria chover. Saíram. Olhou o relógio para tirar a duvida. 22:15. Não deu outra, começou a chover. Desse dia em diante jurou para si que nunca mais esperaria por Godot. Maldito Godot! Entrou no bar, pediu uma dose de conhaque, "Aquele ali!" apontou com o dedo, e desesperadamente respondeu "NÃO!" quando o garçom lhe disse o preço, mas mesmo assim pediu. Com desespero esperou a chuva passar.

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