quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

siamese dream

no teu colo
eu deito confortável
ronrono e ronrono
só a espera de um
cafuné teu pra
abrir meus olhos

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

dor e redenção

bate peito bate
sobre a blusa
mancha de romã
evai-se o corte
apelo à sorte
barulho e bagunça
beijo-te

bate peito bate
sobre a tábua
dedos correm
faca de corte
atravessa estupor
prima saliva
sem sal

bate peito bate
a lata abre
foge com o mijo
imagem de cristo
tente ser forte
beba num gole
esqueça-te

fantasmagoria

caminhando rumo aos meus pés
talvez encontre o calçado

não brincam de esconder
nuvens que são cabeças de santos

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

a porta aberta

peter pan
bem-te-vi
peer gynt

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

candialva

maior parte da sua nudez é luz
pela seda da sua pele alva
embriaga como vodka barata
tuas carnes de marfim macio
sulcada entre lençóis da aurora
pela garganta atravessada
fraseado seminal rasurando
o poema ainda em êxtase
contorce a nuvem à garoa
a adaga de prata o ventre
solda e solta sua alma molda
descansa as pestanas
branca ancas como areia
sigo os astros na via-láctea
até o interior de todas as cores
ora dorme manchada porcelana

estudo de parodia

Depois eu era o vilão
E o meu rocinante ministrava aulas de metafísica
O noivo do cowboy cabra arretado a peste
Era lógico louco das others five além de uma sifílica
Eu enfrentava os falastrões politiquetas e responsáveis
multinacionais e as armas de destruição em massa
fixava o meu microscópio e deixava as pequenas coisas grandes
improvisava gírias cuspia ficava cabreiro em casa

Antes de ser Rainha
Era também Calígula e também Camus
E segundo as leis que regem o mundo
A gente era condenado a ser livre
E você era a medusa do espelho meu
E era tão lindo de se admirar
Que petrificava narcisos pelo meu país

Sim, faça sua fuga
Finja que agora é só tatibitate
Eu era seu carrinho de bate-bate
pedalando numa bicicleta
Ve se dá no pé
A gente depois já não tinha o que fazer
No tempo da bondade nós nem cantarolava tchum

Antes fosse fatal
Que o mito terminasse assim
Pra lá deste deserto
Era uma noite que não se vê de perto
Pois apareceu no mundo sem nem mandá postal
E agora eu era formidável a me perguntar
eu é que faço a vida vai fazer assim?

três giros

a pena
multiplica
o voo

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

a língua deles

veia vessel vaso
vida vala vela
veda véu vácuo

sábado, 13 de janeiro de 2018

prosseguir sonolento

minha identidade foi deixada
não deixada queria ser esquecida
mas como queria ser lembrada
para que nunca se fosse como se foi

outra lógica pra evitar o finalmente
aquilo que evitei com orgulho
aquilo também lutou com orgulho
de não querer curvar diante aos fatos

tudo tem nem por isso ininterrupto
vida ainda arde nas palavras
evito o termo sentimental

minha identidade foi deixada
por uma memória extraviada
numa narrativa inconsolável

lastima pela pena derramada
quem retira do real fracção
além de mim ao negar me olhar
preferia que fosse menos

para que não doesse tanto
matéria rara memória
que as vezes recorta o presente
com imagens frases e momentos

que nunca retornarão agora
só prantos e pesar com mão
acenar bem devagar

lembrar e lembrar

até se voltar ao útero da terra
sabendo que o mar é parte

desta ferida fenda cavar e cavar
então se aninhar entre larvas
e neurônios como seguir
viver de carne e osso viver

de caos e nada como uma criança
de cabeça erguida nunca derrotada
minha identidade foi deixada
nós ainda te achamos em cartas

em jogos de palavras
no soslaio do horizonte
na sombra de um pássaro

nos vincos das árvores
que escrevemos em futuro incerto
a vida é mesmo caminhada

como será? a calma ante o peito
e deixa as camadas lhe afetar
e a sombra dele te tocara rubra
como mortos à fogueira contando estórias

dando lugar a vocábulos esquecidos

eu caminho pelas tuas ruas
agora revoltadas contra mim
anotando meus próprios passos

sei que caminho e que mora em cada
casa um espírito que precisa continuar sonhando

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

embocadura docente (quadro retórico)

emoldurada boca fulvo túnel
peroladas teclas de giz
acidentes negros sem quadro
riste calcário indicador

ENSINA-NOS grita
atrito entre fendas
estampido

                       grita

atroantes ruminos
solfejo de hélices enxofre
carvão salitre em vórtices

estampido
ENSINA-NOS   

                         grita
                         grita...
                         grita


(golden mouthed teachers)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

garota encantada

nos limbos dos teus divinos
rios entre coxas margeia
diante da tua cabeça o teto glauco
nós embrulhando lembranças

das quais somente caído os frutos
que outrora reguei
sonhos e silhuetas se revelam
passagens pelo destino

frente a curva do que deixei
pisco olhos esforço
pouco a pouco abrirei

tolo irreversível este homem
que no reflexo do rios
nos limbos dos teus me tornei

corrego sobre pedras polidas
mil homens que perderam
lascas riem os peixes passeios
enlaça a minha mão e não

op art

o reflexo é a ilusão
está a frente
de que não se pode

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Fábula

   Celibatário: prostíbulo morada de sem-tetos fantasmas ignoradas ruínas morais sobras Está enjaula Quem trancafiadovia-se pelo contornos sombras cabelos loiros olhos inocentemente claro profundo azul imundo Varia sua idade o tom da voz fraqueja a iluminação ao horizonte Não me permitia (muito menos queria perder o que lhe saia daquela morta boca partir os carrapatos me aconselham barba espera.
    "Caminha minhas roupas farrapos suja rosto margens do pântano deforme expressão. Bela mas me engana voz. Rejeita amado nefasto ainda excesso Me pergunta seu amo unhas crescidas por quinzenas abrem fendas delicada pele recém-nascido, rasteja fervendo purulento rubro ode face a pequena morte primeira Canta escárnio soco amável repugnação: imundas cortesãs, garantiu: murchas uvas passas, deu-lhe alvo talismã ingratidão, amor caridade. Ébano: pasta, amém. irmãozinho, primo pai. 
   Arde coração, marcha ceifadora. Desolado, milhas pela floresta adentro, pássaros indicações venéreas frutas azuis, fugia lágrima fosse felicidade, e por lá Leão cuspiu lhe face: "não honras, nem dignidade, os animais todos Reino, és infame, mentiroso da bondade justiça, teu mal foi se permitir evoluir aberração indelével, seja parte da tua própria insaciável Quebra-cabeças inúteis, ilusões perpétuas teu vir a ser." A preguiça faria o mesmo, se. 
   Pouco importa dos outros: grudado olhos rente as barras, queria mais uma vez desgraças. Estando nu ao chão, pele do avesso sangra os órgãos, convulsionava, insistia. Contorcia, revirava: gemidos os olhos, mijava exclamações dor (vez ria e adorava: condição). Abandonei mesmo feito resto, entregue desejável consolo de prazer paradoxal: balbuciava asneiras: penas e tintas serviriam pior.

Poema Caro

presente divino
não é presente
sabe-se (fácil)
taxas de inscrições
seminários de discursos
compreende-se:
ausência de vida = ápice vital
individuo-aborto
dom alimenta
fome dos miseráveis

aquele bode

coprolalia adormecida
MINIMA CARALHA
LAPSO LINGUAE
definhar palatável
tato cego feito de lenço
históricamente umidecido
aos anais solares

pulgas piolhos pilotos fugazes
de caçar solo los ojos 
OFERTA EXCREMENTO
zoológico com dois zeros
solto no jardim still life
monumentos humanos
ergo presente divino
logo ridiculum sum

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

colagem #17

Larva do caos
Pés descalços e braços nus
Substância
Correndo pelas campinas o azul
Simbiose

Atrás das asas, fuligens
Brincava ao mar
Doido das origens

Achava o céu sempre lindo,
iguais a fogos passageiros
Adormecia sorrindo

*

raio X, magnetismo misterioso
Com as tranças presas
rendinha a render (gozos)