quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Sonetoide blues

eu sirvo meu senhor e ao meus blues
palavra descasca víboras em plumas
eu sirvo meu senhor e ao meus blues
palavra descasca víboras em plumas

para onde tudo corre estridente
a correnteza arruma o tabuleiro
para onde tudo corre estridente
a correnteza arruma o tabuleiro

recolhe as peças de pés cansados
até o delta do diabo demora horas
recolhe as peças de pés cansados

até o delta do diabo demora horas
é o momento de coroar o anfibio
e o coaxar é ouvido de cima da torre

o alfabeto é substância plantular
a língua multiplicada no arabesco
o alfabeto é substância plantular
a língua multiplicada no arabesco

cavalo marmóreo cravado em glitch
submerso no sidéreo pulso magnético
cavalo marmóreo cravado em glitch
submerso no sidéreo pulso magnético

cabriolas cascatas cascavéis
justaposto o contraponto
cabriolas cascatas cascavéis

justaposto o contraponto

cravo glitchs proximo ao blue
gemas de cavalos língua arabesco
espuma submergindo magnéticas
cabriolas que reboam e suspiram 
justapondo contrapontos sidewinder
wasserfall sidewinder wasserfall
sidewinder mississippi's delta 
catch the spirit evola até o litoral
ter os grãos falam os pés cansados

terça-feira, 30 de outubro de 2018

corpo elétrico

eletrificante o corpo retém toda energia
admirável destinado à via láctea galáxias
sutil eriçar de pelos quando a orelha pulsa teu nome
não poderiam deslindar osso ultrapassado pela corrente
a pele fica arrepiada viola os meus ouvidos crava dentes
dançava como cavando vigas por entre os poros o sopro
indiscernivel de o teor tesão que nos aproximara
como um primeiro drink de nossa saliva doce
as nucas que beijamos lábios que marcam corpos
desenlançam a medida do correto aquilo que denominam cavalgar
se me permite um passo se me permite o erro
transmutam nossos corpos eletrificado nossos corpos
tornam a pulsar Cronos descansa com sua foice
tolice minha pensar agora outro momento para esquecer
o que vem depois de esquecer apagar para sempre
quarto escuro deixar perecer inaptidão para lembrar
aquele cujo nome sujo malograr palavras rasas
santificado o corpo elétrico num sopro esquentando o ferro
pescamos na rede o mais belo não vamos nos saciar
de boca cheia fartos é fácil se apaixonar levar extinção
diz aquela doce melodia escrita em minério como água
como licor desejante viscoso que banha os amantes

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

sem nome

cerca viva do limite
entre esse infinito
que quero abarcar

não ter peso ou substância
me aninhar ao fogo
da noite eterna que nos engole

minha sombra toma dimensões
que parece se refugiar
e que guia minha mão

até este poema

terça-feira, 28 de agosto de 2018

bocejo ungaretti

até está noite passará

esta solitude gira
titubiante sombra fio desta rota
sobre úmido asfalto

testemunho o condutor
nessa vígilia
tentarei

Vitral

janelas
guardam
visões

frio
há fumaça no bule

ilusão
não existe bule
mas há neblina
lá fora

frágeis pés
não erguem
desabam

  corpo 
   frágil  
    inseto

anota
noite e dia
a passagem
do tempo
lavra

sozinho,
quase como necessitando

 senta,
 chora
 não importa
   
 chora,
 menos lágrimas.
depois vem, sem voz
 arde

mesa: 
rabiscos fazem o ensaio 
brincadeira
tantas vezes queria falar
o que estou para perder 
tantas vezes queria falar
mas não posso

  Olhos: 

esparsos

esqueça-te das lições do passado
dos dias das horas desperdiçadas
da corcunda ajeitando a coluna
no assento confortável e já basta

sustenta-se na palma da mão
carrega nos braços um verso
não precisa ser sempre áspero
tendo corte e efeito já basta

acordei para ser bicho
viver enroscado como nó
fazer da cidade catota
passar assim de paisagem
pois perdi a cabeça
nesta mestiçagem de terras

eu tenho dom pra vaca
mastigo bem um bocado de pasto
até virar estrela

penso e meu engenho lúdico
as vezes atento a noite
ganha andamento diferenciado

mesmo deitado ou debaixo d'água
acompanho um milhão de transições
são coisas não ditadas que traduzo

ai se esconde na sombra
medo e segredo
e não tem luz que descobre

averiguei e very good
nada do que queria anotar
anotei e não entendi

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

estou com a mão na maçaneta

estou com a mão na maçaneta
pronto para sair a qualquer momento
levanto a perna e um dois
estou dentro da possibilidade
do desconhecido
servindo-me da saída mais fácil
aquele adeus que parece ultimo
como a gente é bobo
pois devia sempre pensar
ser o ultimo o mais importante
quando todos deveriam
ter a mesma importância
mas não damos a mínima
simplesmente nos jogamos
ao mundo de possibilidades
esperando uma reação
e chegamos com noticias
da rua um acidente
muito confuso de como
pessoas se encontram
e parecem privadas
de destinos ou qualquer
sorte para permanecer
um dois andando
em sua inabalável linha reta
de estranhos acordos
entre a mão e a maçaneta

terça-feira, 5 de junho de 2018

Ele

babaca bacana
buscando azul nariz do russo general
cagou ensimesmado nos outros
citando quistos recursos de linguagem autores mil e 1
toneladas das tuas ideias por sobre aqueles eles
porta bandeira dos cânticos hipócritas
charme do berço douto
caro amigo dentes caninos de leite
você é a lança da nossa geração nos curvamos
sorriso
holofotes teus
erguendo braços à tua icônica face símile
realiza utopia mas não encontrando iguais
oprima imagem d'aqueles
cale com gentileza de verdugos olhares
queima tudo o que cravaste nas tábuas
insetinho que a descarga não puxa
resgatar afogados
labor tranquilo
único passo:
ser mata leão respiração governo
boca a boca costelas fraturadas
remedíavel
tua esquadra dos mais ser-vis enganos
nova polegadas ideológicas do teu discurso
quando estender os dedos de sua mão só restarão hipócritas
enlameado ainda vais abrir a gruta e terás louros a colher em vão
sem cova ou e um epitáfio epifânico ao pescoço guardado num punhal
moeda cunhada em sangue escondendo teu sangue
PÂNICO
PURO ÊXTASE
PÂNICO
aqueles que se importam tu escondeu
manual cientifico de como chorar ao cinismo
no ultimo dia perante ao produto externo bruto das entranhas
soberbo em aliterações sóbrio alienado
solo lamentável
acendam a luz aos três dias sórdidos do pródigo
que ele não vai parar de falar da sua ascensão
uma barata tentando carregar a outra pela boca
cagou ensimesmado nos outros

é preciso
alguém precisa fazer
o errado
aqui

haicais

fio por fio o vento
alinha teus cabelos dedos
indomável labareda

beija então a garganta
da garrafa pop. breja
a hora em que mija

contrai as garras
e arranca meu peito
retirando a pele

queima meu papel
deixa inscrito na noite
cinza pássaro torto

o ácido dissolve
a língua justaposta
contorce virando
outro caleidoscópio

torneira aberta água
com a palma da mão divisa
lava da cútis mágoa

agora o espelho em que afundo
meditabundo me traz invertida imagem
massa sem forma selvagem


ilha

dedos nos lábios
silencio
encontrar

a concha
pô-la na orelha
até a primária ilha

na imagem
a calma
que reside
em ti

terça-feira, 15 de maio de 2018

ultimo papel

eu não posso atuar como ele
afogado em analgésico
forçando uma risada ou
até mesmo uma simpatia
roubar frases sim isso eu faço
não sei se ironicamente
é verdade
eu é que estaria afogado em analgésico
mas ele não ele provavelmente tinha vontade
não sei bem o motivo
conclui que isso é o de menos
nos inventamos isso
não histórias
é preciso ser mais
não posso dizer
autentico
eu realmente
interpreto
não que isso exija muito de mim
mas eu tento interpretar como ele
eu vejo meus limites como o dele
mas eu não poderia ser ele
ele não poderia ser eu
eu não gosto muito dessa ideia
ao contrário
gosto que as coisas sejam como são
autenticas
por isso tento inserir um pouco dele
em mim
pelo meu próprio humor
tento
(pelo meu amor-próprio?)
tento
não dá nada certo

segunda-feira, 14 de maio de 2018

mão trêmula

destino abatido
por nunca ter
conhecido

rumo por acaso

inesperado
sem destino

resquício de tristeza

métrica ruim
não é sinal de
inteligência

sem parte ou talento
mudar a veia
um novo braço

urina escorre
pelos becos

alegre desespero
o gole do ultimo
porre desintegra

decisão inofensiva
com bebida quando
sim a tomava

acho achava

quarta-feira, 2 de maio de 2018

gato félix

bola de gude ocular
gato ainda pendulo
pendura-se no breu

terça-feira, 24 de abril de 2018

caminho

hipnotiza oceano pés cercados de areia
o fogo alto da fogueira
enquanto trilhávamos com a boca seca
algo próximo à fronteira

encanto sussurado ao vento
as labaredas inflamavam e espocavam
nós tínhamos alvo aos olhos
e permanecíamos imóvel ao tempo

quando deitávamos a ampulheta
freiam e fremiam os corcéis de sonhos
de seus escarsos recursos imaginários
disso o maquinário nos permite

ter a ruiva certeza
dum pedaço que nos cobre o tornozelo
cinzas que revolvemos
até encontrar o precioso cerne

protegendo nos o couro
com escrições rúnicas e atávicas
que nossos ancestres esqueceram
a resposta ou mesmo a porta

que nos abre perante ao dúbio
para que teste o fragmento
que dos nossos olhos quebra
com o mais leve distúrbio

tormenta dos mares
igual para cada um que parte
sua língua logo arde
atravessa aos ecos de covarde

mas já é tarde
onde o arco íris rompe seu passo
traça com compasso
e dos teus lábios volta a palavra

quinta-feira, 5 de abril de 2018

antes da chuva

fim da tarde-erupção
abre meus olhos nyx
para nunca repousar

garotos desatentos
                               entre os dedos cigarros
também em trabalhadores cansados
        o mesmo cigarro se fuma
mulheres carregam sua compras perfumadas
estudantes e seus gênios ingênuos

há em tudo um resquício
borboletas marcham para outro lado
guardado espectro das cinzas
conflito e choque em profusão

transito no contorno desenhando
uma linha de faróis vermelhos
com o corpo sinuoso e difuso

talvez o encontro das pessoas seja mesmo destinado
enquanto as bicicletas se tumultuam pelo transito em quase acidentes
transe das pessoas nunca cessa antes da chuva

trabalho
entrevistas
conversa jogada fora
bolhas de sabão

 as vezes
chove para todo mundo

siga em frente

não brinque
com segredos
falho ao lembrar
mesmo que não saiba
de algumas várias
verdades e mentiras
mesmo que não saiba
não faça
aos esquecidos
sonâmbulos que repousam
o mesmo se dá
opiniões emolduram paredes
escondendo
escondendo
tenho visto o mesmo
mas não diga

rateando

o roedor me encara
no fundo da casa
e me simpatizo
esse amiguinho
tão incomodo
que tantas vezes
vem me visitar
merecia algo melhor
do que as migalhas
que ele me arranca
mas verdade é essa
vivo eu também de tralhas
assim roeremos

segunda-feira, 26 de março de 2018

Mu

eu tenho dom pra vaca
mastigo bem um bocado de pasto
até virar estrela

o som estremecedor

nem afirma nem nega

da inalcançável terra
que pastoreio
à abrir toda via láctea

tetas q irrigam
as mentes desses
caretas e bacanas

enquanto desloco
o nada em nata
por colunas de vácuo

branqueza q extrapola
conste-lácteos de profundo
raiar em veneráveis faces

entra em peito meu
inspira o desafio de
enrustir membros

vaca profana
dona de divinas tetas
mulher sagrada

luna arcana em
sua cheia inundando Nilos
fertilizando terras


quarta-feira, 21 de março de 2018

amor

para um
coração
pertence
outro

terça-feira, 13 de março de 2018

poente

fundo
simples
olho

um pouco de respeito
sentimento verdadeiro

não sabemos nomear

algo pra comer
o mais barato
se tiver

acomodar e confortar

verdade santuário

o garoto horizonte
no espera de raiar
outro dia

quem sabe
o que nós fazemos

quando deixamos
de sermos por termos

Axl Rose

todos sabem que agem à própria maneira
estando contigo ou n~çao EStttttttOU
não falta com razões quem desconcerte
subindo bondes por cima da minha cuca
da opinião de todos, na vontade
de furar minha caixola com diamante na vitrola
hoje apresentamos de improviso
REMISSION hoje apresentamos de improviso
tecno papagaiada num latim pouco cordial voice coder irrumatio
de todos aqueles que aceitaram partilhar visões
assim sua mãe me toma como louco
minhas pernas pouco a pouco vão aderindo a areia movediça
garantir possibilidades e oportunidades a todos os presentes
de que as maças podres estarão dentro do cesto
desconcertante e inebriante tornou
o verme a sair pela orelha esquerda do poeta
QUE RETÓRICA que encontro
parece que precisamos de armas
já tida como a arte de criá-las
a batalha de nobres bom dias de força motriz própria
onde o ritual não era apenas um dispositivo
disfarçado dentro das próprias vestes comum que me arrancam a carne
salvo nos casos de versões já existentes meço o tamanho daquilo disto e agora desço
e anuncio às vezes eles ainda apareciam, mas outras vezes não
e já anuncio o completo erro das vezes tantas
minha completa incompetência como tendencia
de um verso novo "que provoca encanto, enlevo, êxtase."

segunda-feira, 12 de março de 2018

em todo lugar a tevê simulava um
dia menor mas eu caminha em pleno verde
santifiquei a nosso caminho com as mãos
argênteas e pus pássaros nas feridas  
dedurei as palavras frágeis pixando 
o muro vermelho de sirenes escapando
antes mesmo das bordoadas com cheiro 
de ferro começa sinfonia alucinada
salve o truque de mágica inclinando me
para amigos dos quais pudi confiar
beijando a mirabolante bicicleta
suas pneumáticas curvas me exitam
ajuntando a vida sobre os cacos da rua
estou digerindo ainda aquela frase sua
azia que queima como palito de fósforo
é do vidro que surge meu incomodo
em cada arfar o arpejo nas cordas 
imperceptível como a futura fratura
diligencia selvagem sincope dos dias
prévia que cresce ranhuras e basura

sexta-feira, 2 de março de 2018

palavra estagnada

louco o tempo
sai pela boca
esforço caminho

novo amanhecer
névoa-espiral
voz de ouro

luz originária
trépidos ventos
tempo e seu tom

desperta o dia
vendaval
voz do tempo

auréola desperta
fatiando a neblina em espirais
expresso registro

auréola solar desperta hélio
cortando o encontro das correntes
expressar o registro do tempo

fez-se luz 
feixes círculos neblina
voz e tempo

esclarecer
hélice incerta
transcorre

ciclo diário
neblina
blém-belém


o dia nasce/neblina vórtice/a voz do sino

akebono ya / kiri ni uzumaku / kane no koe

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

estudo de casos entre dois personagens

O garoto apanhava flores e levava para casa. Tentando meio a desolação ambiente, haver um objeto decorativo. Sem grandes rodopios sentimentais. Fadado ao por menor de não possuir cuidados ou de não cuidar mui bem. Encheu a xícara até transbordar de água morna. Não havia muito o que fazer. Não enxugou a mesa. Estava ele naquelas coisas: a xícara vazia seria mais útil utensílio, se não houvesse tal. Que a mãe deixaria de segurar, para arrebentar com alça ao chão.
A imagem paterna seria ausência (imagem essa forte e que se repetiria): uma passagem de ida, um adeus sem ao menos uma palavra, de bicicleta, sem olhadela para trás. Restou muito a educar, aquele quadro: a imagem se esvaindo. Sem despedida. Ficara uma gaiola com pássaro. Um lindo pássaro preso. A casa de tão surrada, não parece ter também alma materna. Gaiola. Que ficou admirando por dias, depois de correr atrás da bicicleta, sem o mínimo de importância ao que fazia, podendo isso ser o mais correto e desesperador.
Na rua garoto cospe, enquanto um homem atravessa com cachorro rotineiramente com a coleira, sem interferência. Parece que levou uma surra. Olho roxo, a mão sobre a cara e um muxoxo, sentado à escada. Observa pelo lado de fora da janela a gaiola sendo abatida por uma vassourada. Corre contra a força da inércia. A vassoura despenca a gaiola do parapeito, que ele tenta salvar.  Carrega pra dentro da garagem, onde tranca a porta, querendo despertar o pássaro. Cante mais uma vez, pensava consigo choroso. Os dedos do irmão tentavam abrir sem jeito a porta, mas acabava desistindo e catava um gato preto, colocando debaixo do braço e assim partia com algo. O garoto não costumava receber bem negativas por isso sempre reagiria em desacordo. A casa poderia não ter nada, assim como nada dentro da casa importava, nada tinha relevância. Tudo era simplesmente aquilo, e aquilo era o que de pior poderia ser numa casa. Eram cinzas. A presença materna de ausência, presente como a gaiola surrada. A mãe era mais como um boneco de pano, tanto podia estar sentada na cadeira como costurando que não faria a menor diferença para a vida do garoto. Era o que pensava o pobre garoto, mas que levaria muito a entender. Era o infortúnio dele, mesmo que o irmão menor tentasse fazer com ele esquecesse e brincasse de bola de gude. Na escola seria apresentado por um amigo à raul seixas. Rock das aranhas e pela primeira vez ouvindo uma insinuação sexual numa música, a primeira que se lembrara. Não que isso valha, muito melhor que lembrar "sou o seu bezerro... Se questionando porque haveria de estar com essas músicas na cabeça, talvez porque o presente era feito de nebulosas.
A gente transa ainda, mas não tem mais nada. Saia do gargalo do bule: mais café com açúcar. Era uma relação conturbada, ele era o ex-namorado, não muito inteligente. Estupido que dava pena. Era rude e bruto. Estava trabalhando das noves horas até as oito como pedreiro. Vida difícil, pra quem já esteve na faculdade de administração. Mas essas são puras abstrações. A maioria das pessoas pensa que conhece ela, e não sabe quem ela é. Não me faz um café, assim tu estais fazendo. Ela também falava num tom imperativo, o que não agrada a maior parte das pessoas, mas quando se tá morando de favor, a situação é de modéstia submissão. Sabia que chamava ela de bruaca enquanto assistia a televisão, mas que havia batido nela ainda não me tinha ocorrido. Primeiro com o chinelo no braço, depois o chinelo na boca, que deixou os lábios inchados. Uma mulher assim é difícil de arranjar, uma mulher boa é muito mais difícil, ele me respondia dizendo eu já tive tudo (e chegar onde estou), eu já tive emprego bom, mas nada nisso me deu felicidade, eu tive uma esposa que trabalhava no banco, eu não precisava me preocupar com compras a fazer. Eu só o ouvia com a boca atada, não havia nada que me fosse de interesse. Não poderia responder com algo igual pois não eramos iguais, apesar da natureza, não me julgo superior pelo contrário. Não simpatizava com ele. Largou toda sua perspectiva de autonomia para ser um reles servente de obra com uma ocorrência de violência doméstica. Tinha fé, acreditava em Deus, procurava uma mulher religiosa. O café esfriou, não adiantava esquenta-lo novamente. Eu não podia fazer muito. Poderia haver um pai nele, uma pai dentro dele; nesse guri de trinta anos, mas sua maior preocupação era parar de fumar maconha, pagar a pensão.  Estar fodido, sendo um autônomo fazendo revenda direta do produtor. Continuando a jogar esse jogos mentais. Sem futuro ou muito distante. Ele não pedia conselhos, eu também não podia dizer muito mais do que fazer ao pobre coitado. Não havia nada de coitado. Olhar com compaixão só deixaria pior a situação. O máximo que fiz foi lhe oferecer o sofá para que pudesse deitar por aquela noite. Pois já havia dormido na obra, na noite passada, no frio, mal dormia e agora pedia café na minha casa. A vida é mesmo um osso que não se quer largar, não é mesmo. Outro dia viria, tendo um filho ou não, se sentido inseguro com o futuro. Sem mulher, sem dinheiro. Nem uma calçada para chamar de sua, nem um lixo para produzir, era o melhor que podia fazer, se deitar com a pança cheia de café, rezando para ter força. Rezar para não perder o emprego, ou mesmo o futuro de poder morar num trailer, pra poder viajar. Um sonho, desses de viver sem lugar mas por contradição tendo um lugar. Sendo a crença de felicidade, de visão de vida possível em pelo menos 3 anos de trabalho. Pode dizer que tudo ainda não passava de um rascunho, como tudo feito, nada estava concluído, estava tudo mal feito. Pedia perdão na janela, que havia perdido a cabeça, estava mesmo furioso, de ter o sono ainda não vencido, os palavrões que proferiu contra senhorita, seriam perdoados todos pelo sangue. Mas nunca mais queria vê-lo, de qualquer maneira aparecia ainda dia sim, dia não pela janela. Fazendo uma visita para o filho. No presente ainda teria a marca. A tatuagem não deixava por enganar: um cogumelo com um duende sentado embaixo. Seu tempo já havia passado, como havia mudado também de vida. Deixou o cigarro a muito tempo. Havia esperança no seu olhar.

o tipo de tortura o tipo de tortura o tipo de tortura

o exercicio cotidiano do erro mas duvido que aproveite também tapar o sol com peneiras
ou lamber pedras pra se alimentar ou se alistar numa lista infinita de listas listas listo
justo agora que 20 coisas mais chocantes estão prestes acontecer o verão só começou
nós temos as férias doze dias e nada mais importa para nós o celeste entre nós
o sopro que movimenta as nuvens das bobinas que fazem os novelos gêmeos se beijarem
transformando-se um em outro como dois seres vivendo um uníco momento
alakazam o passe de mágica é descer as escadas de dó ressoando as oitavas nitidamente
o que é impossível para um piano mas não para uma escadarias infinitas de vintes coisas
que esqueci de representar enquanto me distraia pensando em nada mesmo
contei para todos os meus amigos e eles não acreditaram cara eu devo estar mesmo
pirando aquela garota é simplesmente supimpa uma pepita ou estou só surtando

baladinha blue

cores além do azul
eu nem sei pra que
estou escrevendo

talvez algo aconteça
deixe
tudo bem
talvez aconteça

sobrou vida em mim
eu me sinto engraçado
como um fantasma

minha sorte me deixou
um homem desesperado

um bocado de mim se foi
num homem desesperado

mito

eu tenho dom pra vaca
mastigo bem um bocado de pasto
até virar estrela

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

manuel bandeira viciado em heroina

nem feliz
nem triste
nem poeta
adicto

clamando
por um pedaço
liquid sky

mais uma vez

o sangue
sobe
na seringa

lírismo
era
o que
interessava

indistinguível
bicho

no quarto
as quatro paredes
asteristico

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

777

a ladyluck joaninha
no olho da sorte
ensina-me sobre azar


o tempo é mudo - ungaretti

o tempo é mudo entre juncos

longe do cais, errava uma canoa
exausto, inerte o remador... o cérulo
perdido em abismos de fumo

inclinado à borda da recordação
talvez estivesse caindo misericórdia

ele não sabia

é a mesma ilusão mundo e mente
nesse mistério das suas ondas
cada terrena voz feito naufrágio
não o mundo está em seu todo amalucado
não é nada mirabolante aquilo que imaginas se tornar real
em mero jogo de acaso diga assim
ou por coincidência armado e
digo mais presente que passado

é que agora prospera os ideias tanto prezado
pelos revolucionários e anônimos e suas ânimas perdoadas
e já não estamos mais sozinhos por incrível que pareça
no paraíso e nossas mensagens chegam a cada dia
numa velocidade espantosa para nossos convidados

estamos é cada vez mais lúcidos
já não pedimos sangue mas liberdade desmesurada
o povo tem fome e quer caminhar lado a lado
tendo sapato que confortar os pés

e construir canções novas cada dia mais belas
tendo ela um bom chão para crescer
e uma casa para morar

e os desejos parecem cair em nossas cabeças
e sem querer atravessar arquipelagos de constelações
desmanchamos a terra como a um quadro clinico

impossível rete-los quando até os pequenos estão sãos

já não posso ir tão longe e proteger a tudo que tanto quero

hoje admiro a tudo e admito certa culpa em cada bocado
torço para pelo menos ter a medida do verso
para que a pena seja como uma espada conciliadora
de dois lados estranhamente congruentes

Cabralesco

seguro pela asas
o pássaro morto
que seu voo faz inverso
da minha mão direita
direto para o chão

supõe na grama
ser parte de outro céu
onde estreçalham tudo
para fazer parte do orgão
que a terra lhe prometeu

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

siamese dream

no teu colo
eu deito confortável
ronrono e ronrono
só a espera de um
cafuné teu pra
abrir meus olhos

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

dor e redenção

bate peito bate
sobre a blusa
mancha de romã
evai-se o corte
apelo à sorte
barulho e bagunça
beijo-te

bate peito bate
sobre a tábua
dedos correm
faca de corte
atravessa estupor
prima saliva
sem sal

bate peito bate
a lata abre
foge com o mijo
imagem de cristo
tente ser forte
beba num gole
esqueça-te

fantasmagoria

caminhando rumo aos meus pés
talvez encontre o calçado

não brincam de esconder
nuvens que são cabeças de santos

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

a porta aberta

peter pan
bem-te-vi
peer gynt

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

candialva

maior parte da sua nudez é luz
pela seda da sua pele alva
embriaga como vodka barata
tuas carnes de marfim macio
sulcada entre lençóis da aurora
pela garganta atravessada
fraseado seminal rasurando
o poema ainda em êxtase
contorce a nuvem à garoa
a adaga de prata o ventre
solda e solta sua alma molda
descansa as pestanas
branca ancas como areia
sigo os astros na via-láctea
até o interior de todas as cores
ora dorme manchada porcelana

estudo de parodia

Depois eu era o vilão
E o meu rocinante ministrava aulas de metafísica
O noivo do cowboy cabra arretado a peste
Era lógico louco das others five além de uma sifílica
Eu enfrentava os falastrões politiquetas e responsáveis
multinacionais e as armas de destruição em massa
fixava o meu microscópio e deixava as pequenas coisas grandes
improvisava gírias cuspia ficava cabreiro em casa

Antes de ser Rainha
Era também Calígula e também Camus
E segundo as leis que regem o mundo
A gente era condenado a ser livre
E você era a medusa do espelho meu
E era tão lindo de se admirar
Que petrificava narcisos pelo meu país

Sim, faça sua fuga
Finja que agora é só tatibitate
Eu era seu carrinho de bate-bate
pedalando numa bicicleta
Ve se dá no pé
A gente depois já não tinha o que fazer
No tempo da bondade nós nem cantarolava tchum

Antes fosse fatal
Que o mito terminasse assim
Pra lá deste deserto
Era uma noite que não se vê de perto
Pois apareceu no mundo sem nem mandá postal
E agora eu era formidável a me perguntar
eu é que faço a vida vai fazer assim?

três giros

a pena
multiplica
o voo

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

a língua deles

veia vessel vaso
vida vala vela
veda véu vácuo

sábado, 13 de janeiro de 2018

prosseguir sonolento

minha identidade foi deixada
não deixada queria ser esquecida
mas como queria ser lembrada
para que nunca se fosse como se foi

outra lógica pra evitar o finalmente
aquilo que evitei com orgulho
aquilo também lutou com orgulho
de não querer curvar diante aos fatos

tudo tem nem por isso ininterrupto
vida ainda arde nas palavras
evito o termo sentimental

minha identidade foi deixada
por uma memória extraviada
numa narrativa inconsolável

lastima pela pena derramada
quem retira do real fracção
além de mim ao negar me olhar
preferia que fosse menos

para que não doesse tanto
matéria rara memória
que as vezes recorta o presente
com imagens frases e momentos

que nunca retornarão agora
só prantos e pesar com mão
acenar bem devagar

lembrar e lembrar

até se voltar ao útero da terra
sabendo que o mar é parte

desta ferida fenda cavar e cavar
então se aninhar entre larvas
e neurônios como seguir
viver de carne e osso viver

de caos e nada como uma criança
de cabeça erguida nunca derrotada
minha identidade foi deixada
nós ainda te achamos em cartas

em jogos de palavras
no soslaio do horizonte
na sombra de um pássaro

nos vincos das árvores
que escrevemos em futuro incerto
a vida é mesmo caminhada

como será? a calma ante o peito
e deixa as camadas lhe afetar
e a sombra dele te tocara rubra
como mortos à fogueira contando estórias

dando lugar a vocábulos esquecidos

eu caminho pelas tuas ruas
agora revoltadas contra mim
anotando meus próprios passos

sei que caminho e que mora em cada
casa um espírito que precisa continuar sonhando

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

embocadura docente (quadro retórico)

emoldurada boca fulvo túnel
peroladas teclas de giz
acidentes negros sem quadro
riste calcário indicador

ENSINA-NOS grita
atrito entre fendas
estampido

                       grita

atroantes ruminos
solfejo de hélices enxofre
carvão salitre em vórtices

estampido
ENSINA-NOS   

                         grita
                         grita...
                         grita


(golden mouthed teachers)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

garota encantada

nos limbos dos teus divinos
rios entre coxas margeia
diante da tua cabeça o teto glauco
nós embrulhando lembranças

das quais somente caído os frutos
que outrora reguei
sonhos e silhuetas se revelam
passagens pelo destino

frente a curva do que deixei
pisco olhos esforço
pouco a pouco abrirei

tolo irreversível este homem
que no reflexo do rios
nos limbos dos teus me tornei

corrego sobre pedras polidas
mil homens que perderam
lascas riem os peixes passeios
enlaça a minha mão e não

op art

o reflexo é a ilusão
está a frente
de que não se pode

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Fábula

   Celibatário: prostíbulo morada de sem-tetos fantasmas ignoradas ruínas morais sobras Está enjaula Quem trancafiadovia-se pelo contornos sombras cabelos loiros olhos inocentemente claro profundo azul imundo Varia sua idade o tom da voz fraqueja a iluminação ao horizonte Não me permitia (muito menos queria perder o que lhe saia daquela morta boca partir os carrapatos me aconselham barba espera.
    "Caminha minhas roupas farrapos suja rosto margens do pântano deforme expressão. Bela mas me engana voz. Rejeita amado nefasto ainda excesso Me pergunta seu amo unhas crescidas por quinzenas abrem fendas delicada pele recém-nascido, rasteja fervendo purulento rubro ode face a pequena morte primeira Canta escárnio soco amável repugnação: imundas cortesãs, garantiu: murchas uvas passas, deu-lhe alvo talismã ingratidão, amor caridade. Ébano: pasta, amém. irmãozinho, primo pai. 
   Arde coração, marcha ceifadora. Desolado, milhas pela floresta adentro, pássaros indicações venéreas frutas azuis, fugia lágrima fosse felicidade, e por lá Leão cuspiu lhe face: "não honras, nem dignidade, os animais todos Reino, és infame, mentiroso da bondade justiça, teu mal foi se permitir evoluir aberração indelével, seja parte da tua própria insaciável Quebra-cabeças inúteis, ilusões perpétuas teu vir a ser." A preguiça faria o mesmo, se. 
   Pouco importa dos outros: grudado olhos rente as barras, queria mais uma vez desgraças. Estando nu ao chão, pele do avesso sangra os órgãos, convulsionava, insistia. Contorcia, revirava: gemidos os olhos, mijava exclamações dor (vez ria e adorava: condição). Abandonei mesmo feito resto, entregue desejável consolo de prazer paradoxal: balbuciava asneiras: penas e tintas serviriam pior.

Poema Caro

presente divino
não é presente
sabe-se (fácil)
taxas de inscrições
seminários de discursos
compreende-se:
ausência de vida = ápice vital
individuo-aborto
dom alimenta
fome dos miseráveis

aquele bode

coprolalia adormecida
MINIMA CARALHA
LAPSO LINGUAE
definhar palatável
tato cego feito de lenço
históricamente umidecido
aos anais solares

pulgas piolhos pilotos fugazes
de caçar solo los ojos 
OFERTA EXCREMENTO
zoológico com dois zeros
solto no jardim still life
monumentos humanos
ergo presente divino
logo ridiculum sum

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

colagem #17

Larva do caos
Pés descalços e braços nus
Substância
Correndo pelas campinas o azul
Simbiose

Atrás das asas, fuligens
Brincava ao mar
Doido das origens

Achava o céu sempre lindo,
iguais a fogos passageiros
Adormecia sorrindo

*

raio X, magnetismo misterioso
Com as tranças presas
rendinha a render (gozos)