terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um poema tão pequeno

minha vida é pequena,
cabe dentro de um poema

não deste,
mas de um outro
que escrevi

dois poemas para ti
este aqui
e um outro que escrevi


menti, não escrevi


minha vida é pequena
nunca escrevi outro poema...


que não fosse para ti

domingo, 22 de janeiro de 2012

A Valsa dos Desconhecidos

A lua estava cheia e tinha um brilhar alvo, podia jurar que aquele cantoril era da lua, mas era somente alguém mui contente cantando na rua, deve ter tirado a sorte grande apostando nos cavalos, queria estar assim, maso sou tão sem sorte. Começou uma leve chuva sorrateira, pedi ao chauffeur que parasse a caleça, paramos no boulevard de Saint Christopher, dei ao chauffeur uma gorda gorjeta, gorda o suficiente para ele abrir um sorriso agradecido, vi o rosto daquele bom senhor se rubrar.
Atravessei a rua correndo, quase atropelado por um conversível cabriolé, segurando o meu fedora contra a cabeça para que não voasse para longe de mim, como as coisas costumavam fazer, entrei em um pequeno Café. Havia uma espessa nuvem de nicotina, muitos boêmios, risadas e apenas uma bela dama de lábios como pétala de rosa, que possuía nas mãos um garboso par luvas, usava um chapéu com um laço, alternava entre beber café e dar algumas pitadas. Faria ela parte da alta sociedade burguesa, talvez. Filha de algum fabricante de sapatos, talvez.
Sentei-me ao esquerdo dela, ou como preferir; ao meu lado direito, pedi gentilmente por um copo de leite ao garçom. Observei com o olhar petrificado a moçoila beber seu café, ela capturou o meu olhar nada discreto, retirou a xícara dos lábios abrindo um terno sorriso, eu, desconsertado e sem jeito, retribui sorrindo também, ela abaixa os olhos para a xícara, e poem a piteira na boca dando uma tragada, outra tragada, enquanto meus olhos continuam a perseguir a jovem moça, e o seus minuciosos movimentos.
Estou cansando de não saber o teu nome, (assim como o autor está cansando de escrever "moça", entre outras variações da palavra). Tomei um gole de coragem (que tinha gosto de leite), respirei fundo, soltei as palavras como um suspiro forte, como alguém que ficou muito tempo sem respirar, mas não foi possível compreender uma só palavra, pediu para repetir a pergunta, desta vez fiz de uma maneira inteligível, porém um trompete puxou a valsa e todos os outros membros da banda o acompanharam, ela novamente não havia entendido uma única palavra, mas mesmo assim havia sorrido para mim.

Finalmente eu havia acordado, deitado na cama ouvi a chuva choramingar, e as arvores dançarem a valsa da solidão, enquanto imaginava quantas vidas eu poderia ter sido eu mesmo (e não sendo ninguém), ao mesmo tempo, confuso, me levantei, fui a cozinha, acendi as luzes, e sobre a mesa de jantar vi: uma piteira e um chapéu. Chove em Paris, em Roma ou aqui... e alguma banda em algum café toca uma valsa, impedindo um rapaz de perguntar à uma moça o seu nome.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Vesano

A primeira vez que te vi, como eu me lembro bem, lembro como um daqueles sonhos que costumo ter, você imundo, maltrapilho, um pobre-diabo sentando na calçada com alguns pedaços de pão na mão que distribuía aos pombos em migalhas, sua forma de fazer eles prestarem atenção enquanto você falava; "existem verdades e verdades, nada de as contradizer... Até as mentiras são verdade, algumas mentiras são mais verdade do que as verdades, mas nunca uma mentira é mais mentira do que uma verdade, pois somente uma mentira pode ser uma verdade, logo toda a verdade é uma mentira e uma verdade ao mesmo tempo, e o mesmo pode se dizer de uma mentira.", afirmava você veemente.
Levantou-se e saiu andando em direção à praça. Fleck-fleck faziam as suas botas molhadas da água da chuva. Rrrrrrr fazia a sua garganta seca. As duas conversavam, uma queria estar molhada e outra seca, estava tudo errado. Ziguezagueando pela rua como uma barata tonta, faltava-lhe a firmeza nas pernas que o tempo já havia lhe carcomido, o que não atrapalhava em nada a tua conversa com os botões. Desculpe, engano meu, tu não conversas com botões porque isto é coisa de louco, tu entras nos buracos, nos pequenos orifícios daqueles pequenos objetos redondos. Entrava por um e saia pelo outro, entrava pelo outro e saia por um, tu se confundia com os fios de algodão, tu se entrelaçava nos botões, eras a linha e a agulha, linha e agulha.
Sentando no banco da praça enquanto articulavas os teus discursos dormindo acordado, no limiar da tua realidade paradoxal, ali mesmo, onde a tua consciência faz um observatório com telescópios e caleidoscópios e todos outros ópios que costumas usar.
Ah! pequena Cecily, por que corres pelas ruínas, se escondendo em sombra de flores e pedras, dando risadinhas, chamando pelo meu nome, esperas que eu te encontrasse. O vento batia nas raízes dos cabelos agridoce dela, que vibraram um vermelho-carmim, a vida tinha uma sensação de açúcar cristalizado. Crush! Acordou. Hoje sessenta, amanhã quinhentos e vinte seis...
Neste momento houve um breve intervalo de lucidez, estava cansado de conversar sozinho, decidiu que alguém deveria escrever as tuas palavras, alguém que conseguisse te entender, sintetizar o teu lirismo conturbado, então criastes um amigo imaginário para escrever esta história: eu, um fio de insanidade em mim.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sonâmbulo

Durma pequena,
Porque quando sonhas
Tu vai de Istambul à Iorque,
De Portugal ao Iapoque...

...e Eu continuo acordado no mesmo lugar.