domingo, 22 de janeiro de 2012

A Valsa dos Desconhecidos

A lua estava cheia e tinha um brilhar alvo, podia jurar que aquele cantoril era da lua, mas era somente alguém mui contente cantando na rua, deve ter tirado a sorte grande apostando nos cavalos, queria estar assim, maso sou tão sem sorte. Começou uma leve chuva sorrateira, pedi ao chauffeur que parasse a caleça, paramos no boulevard de Saint Christopher, dei ao chauffeur uma gorda gorjeta, gorda o suficiente para ele abrir um sorriso agradecido, vi o rosto daquele bom senhor se rubrar.
Atravessei a rua correndo, quase atropelado por um conversível cabriolé, segurando o meu fedora contra a cabeça para que não voasse para longe de mim, como as coisas costumavam fazer, entrei em um pequeno Café. Havia uma espessa nuvem de nicotina, muitos boêmios, risadas e apenas uma bela dama de lábios como pétala de rosa, que possuía nas mãos um garboso par luvas, usava um chapéu com um laço, alternava entre beber café e dar algumas pitadas. Faria ela parte da alta sociedade burguesa, talvez. Filha de algum fabricante de sapatos, talvez.
Sentei-me ao esquerdo dela, ou como preferir; ao meu lado direito, pedi gentilmente por um copo de leite ao garçom. Observei com o olhar petrificado a moçoila beber seu café, ela capturou o meu olhar nada discreto, retirou a xícara dos lábios abrindo um terno sorriso, eu, desconsertado e sem jeito, retribui sorrindo também, ela abaixa os olhos para a xícara, e poem a piteira na boca dando uma tragada, outra tragada, enquanto meus olhos continuam a perseguir a jovem moça, e o seus minuciosos movimentos.
Estou cansando de não saber o teu nome, (assim como o autor está cansando de escrever "moça", entre outras variações da palavra). Tomei um gole de coragem (que tinha gosto de leite), respirei fundo, soltei as palavras como um suspiro forte, como alguém que ficou muito tempo sem respirar, mas não foi possível compreender uma só palavra, pediu para repetir a pergunta, desta vez fiz de uma maneira inteligível, porém um trompete puxou a valsa e todos os outros membros da banda o acompanharam, ela novamente não havia entendido uma única palavra, mas mesmo assim havia sorrido para mim.

Finalmente eu havia acordado, deitado na cama ouvi a chuva choramingar, e as arvores dançarem a valsa da solidão, enquanto imaginava quantas vidas eu poderia ter sido eu mesmo (e não sendo ninguém), ao mesmo tempo, confuso, me levantei, fui a cozinha, acendi as luzes, e sobre a mesa de jantar vi: uma piteira e um chapéu. Chove em Paris, em Roma ou aqui... e alguma banda em algum café toca uma valsa, impedindo um rapaz de perguntar à uma moça o seu nome.

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