sábado, 31 de dezembro de 2011

[Um dialogo não pode ser um poema]

— Ah é?
— É!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Clã dos Bastardos

"Histórias não começam ou acabam, elas estão sempre sendo contadas."
Fernandes Correira 


Sou um bastardo, dos meus ancestrais espero não ter herdado nada, da cultura que me esmaga nada quero também. Meus olhos castanhos e a minha epiderme bronzeada não mentem, o físico esquelético e a voz ligeiramente desafinada não enganam também, sou filho  — mas preferia não ser —. Colocaram-me uma máscara suja de sangue de batalhas que não lutei, mas que lutara meu povo, também me fizeram vestir os tradicionais trajes e cantar os hinos de guerra.
Todas as noite ao redor da fogueira contávamos nossas histórias, mas eu preferia não ouvir história nenhuma, preferia adormecer imaginando um final melhor para minha própria história que ainda não havia fim. Adormecia sobre o olhar de Nyx e da constelação de Leda, minhas grande protetoras.

O sol não dá trégua quando ele decide que é hora de acordar. Acordemos então. Não há o que reclamar. Levantemos para mais um dia de caminhada, enfrentemos mais um dia de jornada. Os brutos tem também suas marcas, as mesmas marcas que tenho; a pele queimada, físico ligeiramente esquelético, estatura mediana, olhar traiçoeiro, apatia, e um ligeiro esquizofrenismo religioso. É como se as vezes todos estivessem conversando entre si e ao mesmo tempo conversando sozinhos. Não parecem ter sonhos, nem ambições.
As histórias que contam ao redor da fogueira sempre  mostra um herói-mártir que sofre por tentar mudar o imutável destino. Como somos ridículos. Todos os dias eles contam as mesmas histórias, me pergunto se é uma maldição ter que contar ou ouvir, ou se simplesmente a maldição é ter que usar as vestes de nossas ascendências.
Ouvi esses dias uma história nova, mas o protagonista parecia o mesmo de todas as outras, ele queria muitas coisas, negava uma porção delas, se admitia como bastardo da própria cultura, pelo menos preferia ser visto assim, — ser visto assim por si, pois só ele se importava com isso —, e ele dormia todos os dias observando as constelações, imaginando, tendo alucinações com vida cotidiana, sonhando com um final para a própria história. O vento apagou a fogueira. Nunca mais contaram ela, também foi a unica vez que ouvi.

Todos os dias durmo sobre as mesmas constelações e acordo sobre o mesmo sol. Os dias são todos os mesmos para mim, não há diferença aqui. Quero que me enterrarem como outro bastardo, sem clã. Não quero fazer parte da mesma história, não quero ser uma história pra se contar em fogueiras, não quero ter esta perpétua maldição. Quero eu contar uma nova história, em que o herói consiga mudar o rumo do próprio destino. A fogueira apaga. Outra história sem fim acaba.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Família Börghesa

Em algum lugar remoto dos Países Baixos existe uma colossal e fabulosa mansão, com um gigantesco jardim de arbustos simétricamente cortados, com uma fonte exatamente no centro com uma pitoresca escultura de um orangotango expelindo água pelas ventas, entre outros tipos de absurdos que somente os bem afortunados podem ter. Na frente da casa pode-se ver um enorme vitral, que é o da Catedral de Lincoln, que o Sr. Borgerlige Börghesa II comprou e, através destes pedaços de vidros coloridos, se encontra a sala da família Börghesa, de móveis grandes feitos de mogno, vasos da dinastia Ming, quadros de valor inestimável, entre outros objetos luxuosos, pomposos e exóticos.
Na sala está o Sr. Borgerlige Börghesa VIII que anda de um lado para o outro, fazendo seu cabelo loiro (que é tão verdadeiro quanto a sua humildade) balançar. Ele estava pensando no seu próximo pequeno empreendimento; "Uma gigantesca estátua minha no jardim, melhor, uma enorme estátua minha na cidade, darei de presente ao prefeito, melhor..."
O mordomo chinês abre a porta, e carregando a Sra. Börghesa nas costas corre, corre, correndo... por mais de um minuto correu até finalmente chegar ao outro lado da sala onde se encontrava o Sr. Börghesa, ainda compenetrado pensando sobre a sua estatueta. A Sra. Börghesa, pulou das costas do mordomo, ela que até então estava com um rosto comum, moldou suas expressões para uma face chorosa. Chorou.
— Hwang! mande a Sra. Börghesa falar logo o que quer, tenho muito o que fazer esta tarde...
Hwang, na verdade se chamava Chong e, Chong não compreendia uma palavra que Borgelige dizia, pois havia acabado de chegar em um container junto com outros oitenta e oito mordomos que o Sr. Börghesa comprou de souvenir da China.
A Sra. Börghesa, se acalmou-se e tentou recomeçar. Não conseguiu, voltou a chorar. O mordomo recebeu uma — carinhosa — barrigada do Sr. Börghesa, barriga de tanta miudeza que escondia o cinto de couro que tinha comprado na Índia, Chong caiu no chão e se retirou correndo da sala, sem entender cousa alguma.
— Porque você bateu em Hwang? Ele é um bom rapaz... — A Sra. Börghesa respondeu somente para defender o mordomo que era seu... O rosto dela já havia voltado para expressões normais.
— Ele não obedeceu minha ordem, e ainda fui mui generoso em não ter matado-o e transformado-o em ração para os cavalos — Inflou-se por ser alguém generoso — Me responda logo, o que você quer?
— É que ontem a noite... — soluçou ameaçando um choro, mas não chorou — Eu olhei uma estrela no céu, a maior estrela do céu, era tão linda e branca... Agora EU QUERO ela só pra mim, QUERO ela, QUERO um colar com ela!!
— Mulher, fique calada! Eu já lhe falei que a lua é propriedade dos ingleses! — Sra. Börghesa resmungou algumas palavras, mas o Sr. Börghesa estava (novamente) tão compenetrado em seus pensamentos sobre a quantidade de coisas que ele queria ter mas que eram dos ingleses. Malditos ingleses! Eles tem tudo que é do bom e do melhor.
Foi assim que o Sr. Börghesa arquitetou um plano para ser Rei da Inglaterra.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Torto, Eu

Apoie a cabeça no meu braço,
Coloque o ouvido no meu peito
Ouça ressoar o meu coração.
(Vou começar enfim)

Desculpa meu amor, não sou perfeito
Sei que sou canhoto e não direito
Leia estes versos imperfeitos.
(Entederas porquê sou assim)

Danço esta valsa nos teus passos,
Caio num abismo, num estreito
Perco a noção dos lentos dias.
(Espero que isto não tenha fim)

Ando de cabeça para baixo
Já não sei mais o que está
Em cima ou em embaixo
(Minha cabeça está nas nuvens
Junto com os Querubins)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A Sombra do Sol

degustei o cromático
céu de pedaços
rubim

desfiz-me em traços
sou um desenho 
enfim



o doce poente
de mim outro
desenho fez

toca-me com
a tua sombra
outra vez

sábado, 5 de novembro de 2011

tear, tirar e tiamar

vou tear as meias de um romance
vou tirar a roupa da sua timidez
vou parar d'escrever estes versinhos
pra tiamar de uma vez

terça-feira, 1 de novembro de 2011

(nada)

Eu sou
cheio de
nada.


o seu nada
me faz falta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Nefelibata

Quando não tenho muito o que fazer, e isto, vou deixar claro que é quase a maior parte do tempo, eu costumo andar. Quase sempre me deparo com as mesmas pessoas. Sim, eu sei elas devem ter suas rotinas, seus afazeres, mas sempre me indago "qual será o nome dele?", "o que ela vai fazer amanhã", "para onde ele vai?". A esta altura vocês devem pensar que eu não tenho muito o que fazer na vida, —  afinal ficar andando pelo mesmo trajeto, observando as mesmas pessoas —. Tudo bem, eu entendo vocês, eu realmente não tenho muito o que fazer, moro num quartinho nos fundos da casa da irmã da minha mãe.
No meu quarto onde o teto é lentamente consumido pela a umidade, e o vento que vem pela fresta da porta faz os rolos de poeira que ficam escondidos embaixo da cama dançarem... Como estava dizendo, no meu quarto eu fico escrevendo cartas. Cartas? Sim, cartas. Pra quem? Pra ninguém. Geralmente escrevo essas cartas nos dias mais solitários de minha pessoa, isso não significa que quando estou feliz não escreva cartas, mas é mais raro. Escrever cartas, depois de não conseguir dormir pois a cabeça está efervescendo de tantas idéias que não me permitem dormir, até serem libertadas pela caneta e o papel.

Seria isto uma dessas carta?

As vezes eu costumo andar de manhã ou de tarde, tanto faz. Se bem que de manhã eu prefiro sentar em um banco em alguma praça e à tarde dar uma caminhada. Pra onde? Pra lugar nenhum, eu gosto só de caminhar.
Hoje passei no meio do parque ajardinado, que não fica muito longe da casa da minha tia. Gosto muito de lá, do cheiro da primavera, das sombras das arvores que me protegem dos raios do sol. Não fiquei muito tempo. Continuei meu trajeto pelas mesmas ruas, observando os mesmos rostos, as mesmas casas. Fiés casas estão sempre lá — diferente das pessoas que parecem fugir uma das outras —, não importa o motivo.
Lembro uma vez até, em que acompanhei tristemente uma casa de cor branca se tornar amarela, pobrezinha, nunca mais teve o charme de outrora. — Olha ela bem ali! Até que não está tão ruim quanto eu imaginava, tem um charme diferente agora. Estranho que enquanto eu ando, eu fico fazendo anotações mentais, as vezes crio uma orquestra para tocar músicas que eu crio no ócio, que por um curto tempo existem.
Tem uma casa que gosto muito de passar na frente por causa de seu extenso e verdejante jardim, com belas árvores e flores. Apesar dos muros serem longos e o único meio de ver o jardim é quando passo na frente do pequeno portão de grades negras. Ele está logo ali. Diminuo o ritmo dos meus passos. No porão da minha consciência, uma caixinha de música se abre e uma valsa cigana começa a tocar.
1... 2... 3... 1... 2... 3... 1... 2... 3...
Esse é ritmo da valsa, é o ritmo que meus passos seguem enquanto eu observo os breves segundos eternos, sonhando e dançando no jardim. Continuei no ritmo da valsa até chegar em casa, deitei na cama para tirar um cochilo, mas era impossível dormir com a caixinha aberta. Derramei meus pensamentos em brancas folhas de papel enquanto minha caneta de tinta preta seguia o ritmo da valsa cigana. A caixinha de música continuou tocando até o termino da cartinha, sempre seguindo o ritmo: 1... 2... 3... 1... 2... 3... 1... 2... 3...

domingo, 16 de outubro de 2011

Descoberta e Análise de Fernades Correia

Foi em uma uma casa abandonada, com aspecto tristonho e choroso que eu resolvi entrar. Entrar sem ser convidado, entendem? As luzes da casa não funcionavam, provavelmente haviam roubado os fios de cobre, e a unica luz que entrava dentro da casa era a do sol que atravessava os vidros das janelas quebradas.
— Atchim! 
A poeira estava em todo lugar, não havia um único móvel sem aquelas malditas partículas de origens desconhecidas que flutuam pelo ar desta casa abandonada, e, por ironia do destino acabam por entrar nas minhas vias aéreas causando uma reação alérgica.
— Atchim, atchim, atchim! 
Três espirros seguidos, não é um bom sinal, ou será que é? Pouco importa. Vasculhei pela casa objetos que pudessem ter algum valor, ou até mesmo nenhum valor mas pelo menos uma utilidade. Procurar, procurar e nada de achar algo de útil. Somente em um outro cômodo, pra ser exato um escritório com uma montoeira de cadernos, arquivos, cartas e folhas espalhado por todos os quatro pontos cardeais. Infelizmente o sol estava se pondo, e a minha alergia... — Atchim! — Fui obrigado a sair daquele local.
Era evidente que eu não conseguiria ler tudo aquilo no dia seguinte, mas continuei indo para ler toda aquela extensa obra, que demorou um pouco mais de dois meses para ser completamente lida, havia anotações, críticas, poemas e ensaios — quase todos inacabados, incompletos — que agora guardo na estante de casa. Enquanto eu não terminava de ler todo aquele material, a minha curiosidade a cada dia aumentava, eu tinha uma ansia, que era quase um desespero, em descobrir se o autor tinha alguma obra publicada, pesquisei mas meus esforços para conhecer um pouco sobre a história do autor ou a sua obra foram nulos. Haviam perguntas que me martelavam a cabeça, a única resposta talvez fosse a poeira daquela pobre casa tristonha, — que ainda hoje visito.
— Atchim, atchim!
As obras de Fernandes Correia são extremamente sublimes, brincam com o imaginário, com o real e o surreal, uma mistura de influências que vão do realismo fantástico, simbolismo francês e de um regionalismo sutil. Não entendo os motivos desse autor nunca ter feito sucesso, gosto de imaginar que um dia sua esposa ou filha teve algum problema de saúde, o que impediu de dedicar seu tempo para a literatura, ou talvez ele tenha sido um grande preguiçoso, ou um inconstante que não conseguia prosseguir com suas idéias por fim de nunca as concluído, — somente uma pequena parcela de seus escritos parecem ter um fim. Por causa deste anonimato que o autor possui, me senti no dever (e porque não no direito?) de publicar um conto de um dos seus inacabados livros, que se chama: O Livro Negro, com o conto O Convidado de Satã.

domingo, 9 de outubro de 2011

Ainda não decidi o título, tem problema?

estou cansado da vida
 cansado de ter ou de não ter
  cansado da constante inconstância
   e também da inscontante constância
  de meu ser

queria somente
 desaparecer
  em um suspiro
 ou dois
talvez acordar outro dia
em outro qualquer lugar
ou talvez hoje mesmo
sonhar e permanecer

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pense [Quadrado]

[pensamento quadra]
[do pensamento erra]
[do pensamento qua]
[drado pensamento .]
pens
eforad
oquad
rado

domingo, 25 de setembro de 2011

terceiro verso

Da madruga sem vento,
Três versos e o silêncio;
                                        



                           Ainda ouço o teu alento.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Onde Está o Amor?

O Amor pode está ao seu lado, isso parece sem nexo mas é a mais pura verdade, eu sei disso pois eu vejo o amor ao meu lado todo dia, todo dia ele também vai embora, eu naturalmente deixo ele escapar mas não é bem porque eu quero que ele vá embora, não, longe disso, é simplesmente... meu jeito de não intervir, meu jeito apático a vida, darei um exemplo melhor a vocês...
Ontem mesmo eu vi o Amor de perto, eu estava no ponto de ônibus, assim como ela estava, nossos olhares se entrelaçaram e afundamos em alguma fenda temporal, aquele olhar perfurava segundos, minutos, dias, estações, vidas... Era aquele olhar conhecido de uma antiga vida, o olhar de um amor perdido entre as cordas da realidade, olhar que queria me prender para sempre naquele pequeno instante, fiquei tímido de dizer algo além do que nossos olhos já haviam dito. O ônibus chegou lotado, eu preferi — como de costume — pegar o próximo, mas ela parecia já estar atrasada para o cotidiano, atrasada a realidade, e, novamente o Amor foi embora. No próximo ônibus — que não demorou muito — entrei sozinho, com a esperança de que talvez ela também estivesse no próximo terminal me esperando, uma esperança boba, infantil. 
No terminal do ônibus, procurei onde ela devia estar, esquecendo talvez de procurar nos lugares onde ela não devesse estar. Desiludido eu parei de procurar. Peguei o próximo ônibus, esperei calmamente sentado no banco do ônibus, queria que ele partisse imediatamente e levasse de volta — para a minha realidade —, foi ai que sentou alguém do meu lado, que o olhar pouco me intrigara e assim como também não me aprisionara, porém sua voz porém me enfeitiçara como um flauta doce. O nome dela? Denise. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

As Desventuras de um Palhaço Sem Graça

Estava de olho frente ao espelho: sem explicação: nariz vermelho, espuma de cerveja ao redor dos beiços, calça números acima com rasgo entre as pernas e o joelho, camiseta manchada, casaco de poeira artificial — arrastando mangas pelo chão, sapatos impares; peças em combos perfeitos, nem pareciam ser de tal maestria validas. Não se recordando como tinha roupas aquelas, não recordando de quase nada, era como se eu já tivesse nascido assim, desse jeito. 
Saí do banheiro, descobrindo um bar — isso explicava a espuma ao redor da boca, calça larga, tropêgo em pernas de pau e beijar o nariz no chão — isso explicava, entendeu danado: ninguém me ajuda a cair, ninguém perguntou como eu estava me sentindo, todos apenas riam, — eu queria sair daquele lugar. Levantei-me e corri de maneira desajeitada até a saída.
Fora do bar, eu tive a vontade de matar todos dentro daquele estabelecimento, na verdade queria matar todos os humanos da terra, foi então que me apareceu uma mulher loura e alta, que me perguntou para saber como eu estava, respondi que estava melhor, mas tenho certeza que não passei confiança, de qualquer forma ela continuou a falar comigo. Ela era uma bela moçoila de olhos verdes, braços hercúleos, sobrancelhas esculpidas por Míron, e a sua peculiar maçã-de-adão desenvolvida no pescoço — era o que lhe dava aquele charme especial —.
— Sabe, antes de você vir aqui falar comigo, eu estava realmente descrente da bondade humana, mas você me trouxe um raio de esperança... entende o que eu digo? — A mocinha não respondeu nada, estava com as bochechas rosadas, mas logo se desinibiu.
— Pelo jeito você não se lembra de mim, né? — Eu balancei fazendo um gesto negativo, eu realmente não lembrava dela.
— Você não deve lembrar de nada então
— Lembrar de que?
— Que você é um palhaço, trabalhava no circo... — Fiquei emputecido, mas ela continuou falando — não lembra que o circo pegou fogo, por causa... Você não se lembra de nada?
— Desculpe, mas não lembro de nadica de nada. 
Ela começou a me contar a história, contou que Samael, o atirador de facas e dono do circo Fênix, apaixonou-se pela sua assistente de palco, todos do circo sabiam, demorou tempo até a sua esposa  (Carmen, a trapezista cigana) descobrisse, após a descoberta ela se tornou uma mulher má, passava o dia e a noite arquitetando o seu diabólico plano. Numa noite de quarta-feira ela hipnotizou Carlito, o engolidor de fogo, usando as técnicas que tinha aprendido na infância cigana e, o fez atirar fogo no quarto de Samael enquanto o próprio dormia, mas o que ela não esperava era que o fogo se espalha-se pela lona altamente inflamável do circo, foi uma confusão total, o mágico não conseguiu botar todos os animais dentro da sua cartola, deixando alguns poucos morrerem carbonizados. Depois que os bombeiros finalmente chegaram e apagaram o fogo, nós não tínhamos mais onde morar ou trabalhar, Samael estava morto, Carmen havia fugido, deixando o seu filho de nove anos, — Daniel, um prodígio das artes mágicas — aos cuidados dos palhaços, que não tiveram culpa alguma quando o conselho tutelar levaram a menino para o ofarnato. Logo, todos nós tentamos viver nossas vidas como pessoas comuns, mas você sabe como é... Uma vez do circo sempre do circo, eu nunca deixei de ser um palhaço tristonho e, Adélia — a mulher que me contou a história — apesar de não parecer, nunca deixou de ser a mulher barbada.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Yadmastoff & A Máquina de Fazer Sonhos

Era uma vez uma garotinha que não irei citar seu nome, pois garanto que ela não gostaria de ter o seu devido nome citado, ou talvez eu esteja completamente errado, pois de uma coisa eu tenho certeza; dela eu nada sei, ou tudo que sei sempre parece pouco, confuso não? Ela é uma aquáriana... ou será que é pisciana? Não lembro, tenho uma memória fraca... Também não importa muito, sei bem que ela era uma boa sonhadora, era não... é uma boa sonhadora, disso eu posso afirmar, e é exatamente sobre isso que irei falar, sobre como foi criada a Máquina de Sonhos. O que essa garotinha tem haver com ela? TUDO!... Mas por onde eu devo começar? que tal do começo, assim ó...
Essa garotinha para existir, teve um pai, esse pai teve um pai, que seria o avô dessa garotinha. Ok, irei parar de chamar ela de essa de garotinha e vou chamar somente Ela. Um avô argentino com ascendencias ciganas, se eu me recordo bem, afinal faz tanto tempo que ouvi essa história d'Ela... Esse avô na verdade era um daqueles cientistas malucos, como todo o cientista, além disso ele era um ótimo avô, talvez melhor avô do que pai, mas disso eu não me atrevo a ter certeza. 
Esse avô tinha um nome, se chamava... Ya... Yadi... Yadi... Yadmastoff Krüen, grande cientista e pesquizador das áreas biológicas, também conhecido por seus estudos das artes herméticas e cabálisticas, mas isso pouco importa, certo? Yadmastoff adorava sua netinha, que vivia sonhando "coisas docês" como Ela mesmo dizia. Vocês sabem como são as crianças, todos vocês leitores já foram, não é mesmo? Ou será que ainda são? de qualquer forma... Ela contou um desses sonhos para o vôvô Krüen que era mais ou menos assim: Ela conhecia um homem bem, bem, bem balofo, que usava um terno azul-cor-do-mar que se chamava Ezequiel, esse moço vendia estrelas, tentava vender, ele tinha como meta vender todo o estoque, mas o pobre coitado não conseguiu vender nem metade das que tinha no céu.
Outro dia Ela contou que voou como uma gaivota por entre a nuvens, e, descobriu que elas eram feitas de algodão doce — Ela adora algodão doce, assim como jujubas — e assistiu deitada numa aconchegante nuvem o sol alaranjado ir embora.
Yadmastoff que adorava ouvir a sua netinha contar seus sonhos. Foi em uma bela manhã de sábado após ter ouvido com atenção outro sonho d'Ela, que ele teve uma brilhante idéia. Correu para sua casa-laboratório, e criou uma máquina para assistir os sonhos de sua netinha, na verdade ele queria gravar os sonhos d'Ela para que Ela nunca os esquecesse, "sonhos são importantes" pensava ele, pensava certo. Ele nomeou a máquina de: Máquina de Sonhos... tudo bem, diferente de sua netinha lhe faltava a criatividade em alguns aspectos.
O funcionamento da Máquina de Sonhos era simples; apenas apertar dois botões verde-cor-folha e outro vermelho-cor-de-fogo, botar as coordenadas, e aguardar o processador da máquina emular os sonhos, a máquina ainda não tinha uma tela pois ele tinha feito as pressas, havia apenas um lugar embaixo da máquina que criaria um objeto, esse objeto — que ele não tinha a idéia da forma — seria o sonho cristalizado, que ele teria que converter para uma fita VHS, que ele acreditava ser uma tarefa simples.
Era a grande noite, ele havia colocado as coordenadas, apertado os dois botões verdes-cor-de-folha e o outro vermelho-cor-de-fogo, esperou o processador de 128 ram emular os sonhos, tarefa que estava acontecendo numa velocidade muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...iiiitooooo devagar, tão lenta que o velho Yadmastoff acabou dormindo em sua cadeira de balanço. No outro dia pela manhã ele foi acordado por Ela, que havia entrado pela porta dos fundos que ele esqueceu de fechar de tão ansioso que estava para testar a sua máquina, ele abraçou a netinha e segurando ela nos braços perguntou se Ela já havia comido esta manhã, Ela balançou a cabeça pra cima e pra baixo como se dissesse "sim, vôvô".
— Eu comi todos aqueles sonhos que estava embaixo daquela máquina cinza-cor-de-tubarão — Apontando com o dedinho indicador para a máquina — Estavam realmente deliciosos, obrigada vôvô! — e Ela deu um grande beijo no vôvô Yadmastoff.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Convidado de Satã

Passo os dias sentado à mesa deste reino lúgubre, do outro lado da mesa está Satã, sou seu convidado, ele me oferece absinto e outros venenos que não recuso, também não é raro que me ofereça um pouco de ópio de sua imensa plantação ou até mesmo haxixe. Vou confessar para vocês que aqui não tem nada diferente de onde vocês vivem, aqui é tedioso e monótono igual ao teu lar, igualmente a tua vida, a unica diferença daqui é que diferente de vocês eu não sofro com o moralismo, de fato para mim nada aqui é profano, é tudo sagrado, é tudo divino; A Lúxuria, a Gula, a Ira, a Preguiça são todas minhas anfitriãs e, de cada uma já provei o mel em demasiado excesso.
— Aqui no inferno tudo é em demasiado excesso! — Retrucou Satã.

Me pergunto até quando vocês — miseráveis — ainda vão viver suas vidas, esperando algo divino acontecer, com estas ambições mediocres. Ainda lembro daquela madrugada de trevas, dia em que Satã deixou em meu umbral uma garrafa de vinho, com um singelo bilhete de bordas queimadas, que dizia: ÉS MEU CONVIDADO PARA TODA A ETERNIDADE. Passei boa parte da noite meditando, estava em dúvida, não sabia se deveria beber ou não, mas após ouvir o conselho de um corvo, sorvi três generosos goles daquele veneno delicioso — na verdade, a garrafa inteira — que certamente veio contrabandeado da adega do inferno. Cai no chão, e agonizei pela eternidade, me contorcendo, porquê como sabem; a alma é eterna e quando morremos angustiamos a eternidade até irmos para o Céu, ou para o Inferno, mas isto são só concepções ocidentais, concepções que abdiquei à muito, ideais ultrapassados. Eu vivo aqui o meu Éden.

Vocês talvez não entendam, mas aqui não existe o Sono e, somos por fim todos insones, sonâmbulos. Alguns malditos vivem vagando pela eternidade procurando algum lugar melhor do que este, mas só descobrem lugares iguais, alguns acabam por ficar nestas terras (que são iguais a esta) e nunca mais retornam, outros ficam no meio do caminho perdidos para sempre, eu — apesar de não ser prisioneiro, e sim um convidado — passos as horas aqui, escrevendo meu livro Negro, descrevendo vertigens, delírios, tudo que não for possível expressar, tudo de mais sublime, tudo que for etéreo, os eternos mistérios.
As horas aqui não passam, o relógio do tempo está quebrado...
— Morte ao Cronos! — Berra um dos malditos, que agoniza espetado pelo tridente de Satã. 
Deve ser por isso que aqui as horas são eternas, não existe o tempo... é sempre a mesma hora, a hora de esperar pelo que não há de vir...
— O que vai querer Senhor... haxixe, absinto, ópio, ou...
— Me traga de tudo! — Interrompi servo bruscamente.
— Sim senhor! — E ele foi daquela maneira meio curvada, como todo servo faz.
Finalmente algo vai acontecer.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Doce Sonho (Noite de Neblina)

Noites de luares, neblinas,
De idéias vagas, cristalinas,
És o conforto, o perfume,
Que em sonhos se resume.

Imagens de forma pura,
Distorcidas pelo leve pensar,
Exalam o cheiro de doçura.
— Já é hora de acordar?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Crônica Do Escritor Sem Vontade (Ou A Prosa Do Alquimista Preguiçoso)

Estou em meu quarto sozinho, na verdade acompanhado da minha velha e boa máquina de escrever — minha fiel escudeira —, a cortina fechada, que não impede que a luz do dia penetre em meus aposentos, deixando uma leve iluminação, exatamente perfeita — eu diria — para escrever um daqueles romances, que possuem uma beldade de cabelos cor de trevas, um belo herói — que seria uma personificação minha —, e sem esquecer de um enredo atroz e agonizante, que seria o verdadeiro antagonista da história.
Mas não acordei com tal disposição para escrever romances, e já faz algum tempo que ando assim, sem muita vontade de escrever, ou tudo que tento escrever acaba por não ter um fim. Talvez eu tente escrever mais tarde...

...O escritor, deitou-se em seu leito em uma tentativa de dormir, mas não conseguiu, ficou então observando o teto, pensando no que teria para almoçar, pensou também o quão lenta continuaria a sua vida até chegar ao fim, é ai que surge alguém, que pergunta:

— Quando você vai terminar a minha história? — Disse uma voz no fundo do quarto.

O escritor levantou em um pulo, e assustado disse:

— Que susto me deras criação minha, por onde andavas todo este tempo? Ainda guardo boas lembranças e inspirações dos nossos últimos diálogos.

— Então porque tu não escreves? E finalmente termina a minha história, me diga o que preciso para ter a pedra filosofal, ou para tornar chumbo em ouro.

— Mas já te disse... Você não sabe nada de alquimia, você nem ao mesmo abriu um livro se quer.

— Você é o meu criador, com uma borracha e um lápis pode mudar tudo isso, me fazer um erudito das artes alquímicas.

— Mas então como terminaria a sua história... Qual seria o clímax?

— Eu descobriria ser filho de Hermes!

 Risos foram ouvidos da platéia

— Que final ridículo para Kupfer Von Der Bleizinn, nunca escreverei tal coisa!

— Mas... — Logo calou-se sem resposta.

Ouve um silêncio mortal dentro da sala, o escritor estava com a cara franzida, pensava em uma solução — não-alquímica — para aquele problema...

— E que tal se eu... — tentou falar alguma coisa, mais pensou; "melhor não".

— Já sei um final, e trate de ficar calado! — Disse num tom imperativo, e começou a escrever na máquina, como se tocasse uma ópera em um piano.

Depois de muito tec-tec-tec...

— Aqui está o seu final! — Disse o escritor, orgulhoso.

— Deixe-me ver, deixe-me ver! — Os olhos de Kupfer reluziam como diamantes debaixo d'água. Ele pegou a folha, encheu o peito de ar e começou a ler em voz alta.

...Depois de ter finalmente lido e decorado milhares de livros sobre alquímia, desvendado os mistérios do planeta, transformado-se de chumbo para ouro, feito a pedra filosofal, finalmente alcançando a tão desejada imortalidade, a vida voltou a ser tediosa...

— Mas isto está quase péssimo! — Retrucou Kupfer

— Continue lendo, ainda não acabou...

...Queria agora ser uma pessoa normal, queria ser mortal, queria morrer. Leu em uma revista que cigarro era uma morte lenta, começou a fumar, — ele não tinha coragem de testar uma morte rápida. Alquímia foi abandonada, junto com um infinito número de livros que tinha, também tratou de explodir o laboratório. Se afundou na bebida.
Foi em um bar de-um-china-qualquer que conheceu um poeta, um desses tristonhos e sem muito dinheiro, ouviu dele as palavras: 
"Cada letra que escrevo,
 vai-se gotas do meu sangue, 
rubra tinta das m'nhas dores.
Que o ponto final lacre
outro coração sem amores."

 Desse dia em diante pensou que ser poeta era sentir a dor, era agonizar, era pior que morrer. Enfim tornou-se poeta.

— Você realmente não sabe escrever finais!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Terapia Sintética (Good Shit)

...Rua dos Tormentos, quando numa breve olhada para trás.
Será que eram eles? Indaguei-me, olhei novamente... não havia ninguém. Será que ainda estou delirando? virei a esquina à esquerda, na Rua da Emboscada, e lá estavam eles me esperando, rapidamente dei meia-volta, entrei no Beco da Agonia, e correndo pela penumbra, chamando menos atenção possível (o que parecia impossível). Pelo jeito eles já sabiam o que eu tinha feito.
— Puta merda! Quem será que me delatou? Não consegui pensar em ninguém além de Nestor, aquele pobre-diabo filho duma puta!
Enquanto corria desesperadamente, coloquei a mão no bolso do paletó... havia um frasco, abri e engoli a única cápsula que restava. Em poucos segundos, eu já estava na minha rua, a Rua do Desespero, entrei no Edifício Zerkalo (preciso dizer que este é o edifício onde moro?), corri pelo hall de entrada em direção ao elevador, apertei o botão. Naqueles segundos de espera pelo elevador, fui tomado por uma angústia, comecei a ouvir passos vindo em minha direção, não podia esperar mais, a angústia comandou meus neurônios. Fui pelas escadas.
O remédio sintético começou a fazer efeito, as linhas quadradas da escadaria e de todo o prédio começaram a afunilar, tudo parecia muito mais distante, não conseguia mais fixar meus pensamentos, só pensava em: quebrar a barba, cortar os pratos, comer café, tomar pão, beber livro, ler água, mastigar o ar. Porém, mais estranho que isso foi que algumas imagens sem sentido foram poluir minha cabeça, por exemplo: um triângulo de quatro pontas, uma imagem do Hitler fazendo um churrasco, um elefante efervescente tocando tuba, um leprechaun de sunga dançando tango com uma freira, e algo bastante intrigante: uma preguiça insone em frente ao computador escrevendo uma história.
— Droga! Eu preciso me concentrar!
— Opa! Nem percebi que estava no meu andar — me abaixei pra pegar a chave que estava embaixo do tapete.
— Ótimo esconderijo babaca!
— Saiá já da minha cabeça seu... 'Perai estou conversando comigo?
— Cê tá fazendo isso há muito tempo.
Ignorando as vozes na minha cabeça, peguei a chave, e tentei abrir a porta, mas parecia que a fechadura não queria engolir a chave. Finalmente depois de alguns ponta-pés e socos (— Que foram inúteis!!) eu consegui abrir.
— Mais tempo perdendo conversando comigo e eles me pegariam, certeza! 
— Na verdade, não estou a entender nada. Foda-se! 
Meu apartamento estava fazendo um movimento convulso, parecia querer me expelir pela janela, estava vivo. Fiz todo um trajeto oblíquo até o meu quarto (até o tapete parecia um obstáculo), tentei abrir a primeira gaveta, mas parecia pesar uns trezentos quilos. Ouvi as batidas na porta, os malditos não queriam pensar em desistir.
 — Filho da puta! Nestor, seu filho da puta! Logo a porta seria arrombada e, eles enfim me pegariam, fariam sei-lá-o-que comigo, não teria ter que imaginar, pelo menos não naquele estado.
Consegui abrir a porra da gaveta, e escondido em baixo das meias brancas furadas, estava outro frasco, ainda lacrado. Desta vez eu li a bula...

"EFEITOS COLATERAIS:
psicose,
loucura,
delírios,
perda de memória recente e
desorientação espaço/temporal."

Minha visão estava muito turva, e acabei não conseguindo ler merda nenhuma, mesmo assim abri o frasco e tomei sete duma vez só. Me teletransportei para uma das luas de Plutão, pensei estar livre mas os malditos vieram atrás de mim, foi uma longa e cansativa perseguição até que lembrei que ainda tinha cápsulas no frasco. Tomei mais dezesseis cápsulas, agora eu estava em nos anéis de Saturno, e eles permaneciam me seguindo.
— Caralho, tô começando a ficar puto!
E num ato impulsivo tomei quase o frasco inteiro, deixando uma única cápsula... Voltei para a cidade, para ser mais exato na Praça da Solidão, e ironicamente eu me encontrava só.
Parece que os malditos não conseguiram me acompanhar, cruzei a Rua do Esquecimento, eu a minha sombra (que eu não tenho certeza se era realmente minha), andei por um tempo assim, até que cheguei na Rua dos Tormentos, quando numa...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Denise, Estou Atrasado (De novo)

Estava saindo de casa, como sempre atrasado.
Me desculpe Denise, você sabe como sou... Acabei saindo em cima da hora, mas acho que não terá problema, afinal você tem que fazer alguns minutos de horas extras, para compensar aquela sua chegada atrasada do almoço. O ônibus sempre passa exatamente no horário que você já devia estar no serviço, não é culpa sua, eu sei Denise, não estou julgado... estou somente divagando, afinal chegarei atrasado mas chegarei antes de você sair.
Chegar antes de você sair me deixa contente, pois prefiro esperar do que fazer você esperar. De fato, já estou na frente da empresa, cheguei faz pouco tempo. Estou do lado do orelhão, observando dois irmãos, que estão a soltar pipa. É aquela velha história: O mais velho querendo cortar a pipa do mais novo, e o mais novo num tom choroso dizia:
— Ah, não faz cara! Não faz! Enquanto o irmão mais velho ria, um riso sátiro.

Nesse tempo o sinal da fábrica tocou alertando o horário de baterem o cartão-ponto. Foi ai que do outro lado da rua, dobrou a esquina uma mulher com uns quarenta-e-tantos anos, cabelo grisalho, baixinha, andando de mãos dadas uma criança que segurava firmemente a sua mão, e logo atrás um homem em um andar rápido, feroz. Eu podia perceber que algo ali iria acontecer. A senhora olhou p'ra trás, e assustou-se ao ver aquele pobre-diabo, que balbuciou alguns sons de ira e indignação. Era uma "simples" discussão de casal, uma cena atípica e desconfortante também. Engraçado era ver como a criança se comportava indiferente a tudo aquilo que acontecia a seu redor, com um sorriso contente. Então acreditei que eu era como aquela criança, que apesar ser oprimido pelo tédio, pelo ódio, por uma porção de sentimentos e sensações ruins, conseguia estar contente, apenas no meu mundinho, te esperando.
Entende agora por que eu me atraso Denise? Estás minhas divagações parecem que nunca findam, tudo me chama a atenção.
Por sinal, ai está você fechando o portão da empresa, de tão distraído quase não percebi. Após fechar o portão você amávelmente pergunta;
— 'Tá esperando muito tempo? — Pensei um pouco antes de responder, disfarçando um pouco.
— Não, acabei de chegar — disse com um sorriso infanto.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sorrisinho Sacana

Meu sorriso (meio) sacana, aquele de boca aberta que mostra meus dentes — amarelados e tortos — que da pra ver os trinta e dois (pode contar!), ainda por cima mostra a obturação do meu segundo molar inferior, porém é sempre aquele sorriso de dentes fechados, segurando assim o meu coração suturado — esse safado — que quase sai pela boca quando te vejo ou penso que vi, — eu acho que vi! (imaginação, essa menina travessa!) por sorte os dentes seguram o danado do coração pra ele não cair no chão, e desmanchar em mil pedacinhos, como já aconteceu não-sei-quantas vezes.
Poucos sabem mas meu coração é feito um quebra-cabeça velho, sabe em mil pedaços — e geralmente faltando um porção de pecinhas —, volta e meia aparece alguém (não sei, talvez a mesma que começou todo esse enigma) para tentar montar, e encaixar as peças no lugar que não encaixam, ai a pessoa cansada de tentar, vê que são muitas peças, e no final desiste — sempre esquecendo de guardar na caixinha —.
Tudo bem, no final eu dou o mesmo sorriso (aquele sorriso meio-sacana, com os dentes amarelados e tortos) e espero que alguém entenda (ou não) o motivo d'eu continuar sorrindo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ciao!

Ciao, quando ouço essa palavra (que é fonéticamente parecida com o nosso Tchau) ou leio, nunca sei se a pessoa está de saída ou acabou de chegar ao recinto. Mas o que importa? afinal sair de um lugar é chegar à outro(!). Eu estou assim; dizendo tchau à mãe e ao pai, à praia (e a suas delicadas ondas do mar, que são tão belas de se escutar), tchau aos velhos amigos, ao velhos hábitos, (só alguns, né), e dizendo olá ao seu Jair (Deus me livre de dizer oi todos os dia p'ra esse velho), as Araucárias, ao não-tão-frio clima daqui, aos dias cinzas (que me fazem ficar deitado na cama que me faz ficar sonhando acordado, ah que delícia!), ver os novos amigos, ter novos hábitos (os mesmos velhos hábitos, porém com uma nova roupagem, se vocês me entendem), tendo que conviver com o Ian, futuro pseudo-noivo, companheiro de quarto mais-teimoso que um skinhead negro (sim, eles são teimosos/sim, ele é teimoso), além de ser um cara chato (por favor, façam ele parar de fazer comentários aleatórios sobre-qualquer-coisa, GRATO!).
Mas o que eu realmente queria dizer/falar nessas linhas é; se eu realmente deveria ter começado o texto com "Ciao", a resposta talvez seja um simples "não", ou um generoso sim... não sei, juro que não sei, só sei que vou terminar assim: Oi!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Meu Pequeno Príncipe

Vou contar para vocês a história do meu pequeno príncipe, que diferente daquele que encontrou o aviador no deserto da África que era: pequeno, magrinho e loiro, o meu pequeno príncipe na verdade é balofo, de cabelos grisalhos e também pequeno (somente de estatura, afinal tem coisas que os olhos não conseguem ver e os números não conseguem medir) e não sei como, sempre esteve comigo.
Também vou lhes contar que ele era um homem desses que procurava qualquer coisa, simplesmente parar de procurar era um incômodo (assim como para os adultos que pensam que vida é uma equação matemática de "Tempo = Dinheiro") mas ele não era um desses, ele só procurava coisas para cativarem ele, foi por isso que ele pegou o primeiro navio que pode, e acabou chegando por estas terras, encontrou reis, beberrões, acendedores de lamparinas, empresários.
O mundo é muito grande, ele sabia disso, mas andando com seus pés, pouco lhe importava, afinal o tempo (naquela época) corria devagar, e ele também não tinha pressa. Um dia enquanto caminhava com seus pés, encontrou um novo lugar, um lugar para que ele podia chamar de seu, plantou uma rosa e tratou de cuidar muito bem dela que viria a se tornar sua filha, e tratou de plantar mais rosas que seriam os seus netos, e essas roseiras não precisaram de muito para cativar aquele pequeno príncipe, confesso também que do mesmo modo que as roseiras cativaram ele, ele também havia as cativado.
Acho que foi em um dia exaustivo, depois de ter se reunido com todas as suas magníficas roseiras (que o cativam até hoje), que ele resolveu voltar para a sua estrela... As vezes, eu procuro ele com o simples ato de olhar a noite para o céu e imaginar a estrela em que ele está, uma estrela que eu não posso ver (assim como vocês não podem ver o quão grande e imensurável ele foi) e imagino ele muito feliz com o seu jardim, me esperando para tomar um chá, andar de bicicleta, jogar xadrez ou até mesmo um quarteto.
—Não é mesmo? eu me pergunto.
—Com certeza, meu netinho. Responde ele, naquele mesmo tom risonho, do jeito que só ele sabe fazer, naquele mesmo tom que sempre me cativou.

Os únicos que conseguiram ouvir essa conversa  são aqueles que conseguem ver no desenho de um chapéu, um elefante dentro de uma jibóia.

domingo, 12 de junho de 2011

479 folhas amaldiçoadas

Me apresentarei aqui nesta página em branco, na qual eu insisto em sujar novamente como Andrei, mais saiba já de primeira mão que este não é meu nome real, pois o motivo de sujar estas folhas está directamente relacionado a minha vida pessoal, e se vocês soubessem meu verdadeiro nome, já associariam com o meu primeiro — e talvez ultimo livro —, também não citarei o nome do livro, este livro que só me trouxe problemas. 

Lembro de acordar naquela quarta-feira com a idéia, que permaneceu fermentando na minha cabeça por meses, essa idéia me agradava, e como me agradava. Conversei com muitos sobre essa idéia: amigos, filósofos, outros escritores e todos eles concordavam que era um assunto delicado, que poucos haviam ousado em escrever sobre. Não pensei duas vezes, comecei a escrever, a troca de informação que tive com meus colegas me serviria de suporte, apesar de que a maioria das opiniões talvez não fossem verdadeiras, acredito que houve certas omissões, no fundo penso que eles não queriam me desapontar, mas mesmo assim faltou-lhes a sinceridade... ou talvez o problema não fosse esse, talvez fosse culpa minha que não soube "fermentar" da maneira correta aquela idéia. Mas agora pouco importa.
Em menos de oito dias, eu já tinha terminado de escrever o livro, quatrocentos e setenta e nove folhas de pura maldição, as trezentas primeiras impressões do livro, eu paguei com o dinheiro que me sobrava da herança, para minha —breve— felicidade eu consegui vender todas as edições, poderia dizer que minha obra faz uma continuação do livro Utopia, só que diferentemente desta obra meus ideais era muito mais palpáveis e simplista. Era o sistema perfeito, mas o ser humano tem a sua índole suja pela ganância, pelo dinheiro, pela inveja. Os trabalhadores interpretaram a obra como um insulto — os pobres coitados, mal sabiam ler, interpretar o livro seria impossível, e foram manipulados pela igreja para terem um visão distorcida da obra —, os burgueses acharam um absurdo pois teriam que abdicar de suas luxurias e de toda a sua extravagância.
Havia se passado mais do que duas semanas após a venda de todos os livros, era uma noite de sexta-feira ou sábado, não consigo me lembrar agora, quando cheguei em casa cansando, encostei a mão maçaneta da porta que já se encontrava aberta, acendi a luz e percebi que haviam arrombado a casa, roubado tudo — do pouco que eu tinha — e quebrado o que não conseguiram levar. Assustado, corri para o vizinho, bati inúmeras vezes na porta, como um verdadeiro demente, e mesmo assim o maldito demorou para abrir a porta, perguntei se ele havia visto o que acontecera, mas não houve resposta, além de um "vá embora! você fez uma grande confusão por aqui, vá embora..." não tive tempo para contestar, o vizinho já havia fechado a porta.
Nesse momento me veio uma outra idéia, exactamente como surgiu aquela de escrever o livro, porém  esta já se encontrava pronta. Abandonei minha casa, levando apenas alguns documentos e umas poucas lembranças dentro de uma maleta e alguns fósforos. Corri até o armazém onde estava a rústica máquina de impressão, arrombei o cadeado, entrei silenciosamente, busquei a versão original do livro escrita a mão por mim, coloquei na maleta. Peguei o diesel que era usado como combustível da máquina e espalhei por todo o armazém. Enquanto espalhava diesel pelo armazém, entrei em um devaneio sombrio, de que minha maldição fora ter aprendido a escrever, quem dera nunca ter aprendido a escrever, cheguei ao ponto de amaldiçoar-me por ter acordado naquela quarta-feira e ter tido aquela estúpida idéia, naquele momento eu desejava ser somente... somente mais um, para não ter que vivenciar isso. O combustível havia acabado junto com as minhas divagações.
Já fora do armazém acendi um dos fósforos e joguei na poça de diesel, que seguiu o rastro com uma grande voracidade, que em poucos segundos engoliu o estabelecimento, a chama negra do meu ódio, ódio da minha espécie, que não era capaz de assimilar uma simples idéia, que não era capaz de mudar, pelo simples fato de que todas as mudanças foram feitas pela ganância e pela inveja. Inveja e ganância, dois malditos combustíveis desta miserável raça, e tudo vai terminar assim: em chamas.
Não vi o fogo queimar tudo, pois haviam mais coisas para serem feitas, eu ainda tinha que descobrir uma forma de fugir, e a melhor maneira seria de trem, mas a noite eram poucas as opções, e não me levariam muito longe. Além disso meu dinheiro era curto, e eu não podia confiar em ninguém naquele momento.

Queridos leitores, é assim que termino minha história, não posso termina-la de verdade, muito menos continua-la pois acabaria contando onde me encontro neste exato momento, entre outros segredos. Esta pequena história serviu-me apenas de exercício, para de aliviar-me dos monstros que guardo, aliviar-me das dores que sinto. O que posso fazer é explicar-lhes alguns ocorridos; pouco depois de fugir descobri que haviam matado minha irmã, a minha sobrinha e o seu marido, outros primos meus também sofreram, tiveram os filhos assassinados, as esposas abusadas, boa parte dos bens confiscados. Os malditos certificaram de humilhar todos os meus entes, além de terem queimado todas as impressões do meu livro. A mão amaldiçoada que segura a pena, é mesma que enxuga os prantos do meu rosto. Eu preferia estar morto, do que estar escrevendo neste momento.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Saindo do Safári

Minha casa
 virou uma savana;
girafas na sala-de-estar,
leões cozinhando o jantar, 
zebras deitadas no sofá, 
mas um dia irei
sair deste safári.

Me safarei.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Auto-Retrato

O rosto era pálido, as únicas expressões que possuia era de vencido pelo tédio, pelo conformismo. Sua vida era feita de derrotas, cheia de culpa, do amargor da solidão, e isso refletia no seu olhar desesperançoso, um olhar taciturno e melancólico de que já havia perdido tudo que mais estimava, os lábios secos pareciam costurados por dentro da boca que o mantinha calado como um cadáver, um silêncio mortal, mas que não podia abafar o seu rosto que gritava com muito sofrimento cada chaga dentro d'ele.
Era o rosto de quem tentou inúmeras vezes e não conseguiu, e que finalmente se admitiu como fracassado. Derrotado, aprendeu a viver com isso, aprendeu a viver na penumbra, escondido como um maldito figurante ou observador de outras vidas, já era o próprio verme que rastejava no humos.
A face entrou em metamorfose, sobre o rosto cansado e doentio, viu-se florescer a sombra de um cadavérico ser, os traços profundos, sem vida. Naquele homem, ser ou recipiente mecânico não havia alma, não havia sobrado nada que parecesse humano.
Levantei-me da minha cadeira, admirei a tela que eu acabara de escrever, fui apressado até minha alcova e me olhei no espelho, era real demais por isso talvez mais assustador, eu acabara de pintar com palavras o meu auto-retrato.

sábado, 28 de maio de 2011

Sábado de Manhã

O sol veio cedo está manhã, no céu tão límpido e azul. Não havia muito o que fazer, eu havia acordado cedo demais, olhei o relógio e eu estava atrasado-demais-para-qualquer-coisa como sempre marcava,  mas sinceramente estava cansado de ficar em casa, naquele Reino da Monotonia cinzenta e das tristezas da minha vida cotidiana.
Joguei uma água no rosto, me animei um pouco, procurei alguma coisa para fazer no café da manhã, mas não tinha comida. Desanimei. Um tempo depois eu me animei novamente, e fui dar uma volta pelo quarteirão, cheguei em uma praça perto de casa, sentei em um velho banco de madeira, que de certo modo parecia agradecido por alguém estar sentado ali, pois fazia tanto tempo que ninguém sentava lá, tanto tempo que ninguém parava naquela praça que um dia foi tão bela e alegre, onde eu havia passado um bom tempo lá, quando era uma criancinha. Queria poder entender o que se passava em minha cabeça naquela época, queria entender também porque só consigo lembrar das boas lembranças. Acendi o cigarro, e fiquei a me amorenar no sol.
A praça estava deserta, descuidada, a grama estava alta demais, havia muita erva daninha, até parecia uma savana, se duvidar devia ter algum-bicho-da-mata-mal-cuidada no meio daquilo. Olhei meu relógio de pulso e vi que novamente eu estava atrasado-demais-para-qualquer-coisa, eu ainda tinha que pensar como ia almoçar. Me levantei com uma sensação saudosista, aquele local trouxe por breves momentos as minhas antigas felicidades e incertezas da infância, porem eu já estava enjoado de ficar ali sentado, sem fazer nada, eu ainda tinha que tomar um banho para ir ao trabalho. No caminho de volta pra casa, entendi a razão de todas as lembranças da minha infância serem tão felizes, era tudo culpa da minha má memória, com certeza é culpa dela...

domingo, 22 de maio de 2011

Vivendo em Sonhos

Este diário tem como finalidade escrever as minhas memórias, sonhos, lembranças, diálogos, pensamentos, ações, tudo estará presente neste diário, pois sinto que cada dia estou a esquecer, e por assim confundindo o onírico com o real. Os fatos simplesmente estão perdendo a cronologia, a ordem, está tudo muito confuso ultimamente. Parece que o tempo não consegue mais exercer seus domínios sobre as minhas memórias, está tudo demasiadamente surreal para mim. Talvez a vida não passe de um sonho dentro de um sonho, não sei, e também não consigo explicar. Este diário apenas serve para que eu não me perca de mim mesmo, e nada mais.

Estava caminhando pela cidade em direção à praia, estava me aproximando, ainda não estava cansado apesar de ter sido uma longa caminhada. Chegando a perto da praia, encontro estacionado um carro de cor preta, olho para a placa do carro e tenho certeza que é um dos meus amigos dirigindo. Enquanto me aproximava, percebi que a rua estava vazia, sem nenhum movimento. Eu queria ver que horas eram, mas tinha esquecido o celular em casa. Cheguei do lado do carro, e estava Carlos e Roberto, porém mal dava de ver os dois, eles estavam cobertos uma densa fumaça escura que escondia parte do seus rostos, eu abri a porta e fui sucumbindo para dentro do carro, uma penumbra sem fim.
Acordo em minha cama, levanto um pouco assustado, sem entender de fato o que havia acontecido. Vou até cozinha e tomo um copo d'água, que desceu refrescando-me a garganta seca, a água nunca pareceu tão deliciosa. Eu coloco a mão no bolso da minha bermuda e encontro meu celular, o relógio marcava quinze horas e trinta minutos, eu havia dormido um pouco mais do que quarenta minutos, e já me encontrava bem disposto para fazer algo naquele domingo, provavelmente não faria nada, mas a esperança é a ultima que morre. Sai de casa, sentei na esquina. Fiquei muito tempo lá, esperando nada ou ninguém.
O sol já estava a se esconder no horizonte, pensei comigo "mais um domingo que se acaba, sem eu ter feito nada". Na rua passou um ônibus de onde saiu uma garota de cabelos curtos e castanhos, quase como desenhada em um quadro ela sorriu, mas não sei dizer se era um sorriso sarcástico ou feliz, quando me avistou berrou meu nome "Gabriel! Gabriel!", eu não sabia o que responder, não sabia quem ela era, nem ao menos lembrava, ela atravessou a rua, enquanto eu me levantava apressado. Ela me abraçou forte, como se fizesse muito tempo que não nos viamos, foi neste momento que uma idéia, uma lembrança, uma fagulha foi acessa na minha cabeça, de que eu tinha certeza que conhecia ela, e sim já me vinha o nome na cabeça, "Cláudia! como você está?" surpresa por eu ter reconhecido ela, que estava deveras diferente. Conversamos por bastante tempo, falamos um pouco sobre nossas vidas, ela contou uma longa história que eu não consigo lembrar a moral, e foi embora a pé, tinha que ir para a casa da avó, que estava sozinha.
Já estava escuro, então decidi voltar para casa. Cheguei em meu quarto e deitei. Subitamente fui acordado, era a minha mãe dizendo sobre acordar que já era hora do almoço, ainda de pijamas desci a escada e fui direto para a cozinha, onde no calendário olhei que AINDA era sexta-feira. Perguntei ao meu pai que dia da semana era, e ele confirmou que era sexta-feira.

Já não tinha, certeza se havia ou não encontrado Cláudia, e me veio uma pergunta o que havia acontecido dentro do carro junto com o Carlos e o Roberto?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Eternidade

Veja, encontrei!
-O que? -A Eternidade,
o Sol e a Lua,
Minh'alma eterna
Junto a tua.

sábado, 7 de maio de 2011

Estória "Escheriana"

Aqueles densos negros olhos, guardavam o infinito, o reflexo no espelho era o vórtice do abismo.
Pelo labirinto em espiral da sombria cidade, encontrava-se ele caminhando com as longas e flexíveis pernas. O barulho dos carros, das falantes pessoas, da cidade, era simplesmente a música da desordem, e no compasso de seus passos, fez-se a sinfonia do delírio.
Caminhou mais um tempo perdido nas ruas, agora ele ouvia um barulho que não se mistura com a música da cidade, e a cada passo que dava o barulho aumentava, aproximou-se do local, e todo aquele barulho que não se misturava tornou-se o dialogo de seus amigos que ele havia se perdido a pouco tempo. Pensou em algo para falar, mas o seu pensamento foi esmagado por um fluxo de pensamentos que não cessavam e ao mesmo tempo não conseguiam se completar, na confusão de pensamentos surgiu uma idéia ou uma imagem de que ele logo se esquecera.
No jogo de sombras e luzes, o espetáculo mudava de drama para comédia e vice-versa, ele se encontrava numa espécie de teatro, na qual ele nem ao menos sabia o roteiro, mas de alguma forma seguiu o script como devia ser feito, ele esperou o diretor dizer corta, mas não havia nenhum diretor. Ele saiu daquele pequeno espetáculo e voltou para seus amigos, nesse momento ele sentiu que o dentro dele alguma coisa dava socos e chutes, e de alguma forma precisava sair, pensou em talvez vomitar, pensou duas vezes (ou até mesmo mais) e não vomitou.
Foi conversar com seus amigos mas eles não sabiam o que fazer, apontaram para uma garota de cabelo vermelhos flamejantes que ele nunca havia visto antes, meio tímido conversou com ela, ou tentou conversar, mas era tudo simplesmente muito confuso, mas de alguma forma ela havia entendido, e apontou para outra menina, uma menina cândida que estava à vira a esquina.
Seguiu a menina e percebeu que a menina, era Clara, a filha da Lua. Atravessou a rua, correu um quarteirão e meio, encontrou-se perdido dentro de quadros dentro de quadros, atravessou o labirinto de paradoxos geométricos, chegou em uma praça que havia uma fonte bem no meio, onde observou todas as direções, mas não encontrou Clara, então ela surgiu de direção-nenhuma. Não houve diálogo, os dois simplesmente sentaram confortávelmente perto da fonte, e com as mãos como se estivesse fazendo um origami, a ela criou uma chave em forma de uma tribarra. Entregou a chave na mão dele, que abriu a barriga como se fosse uma fechadura, liberando um buraco negro que sorveu o próprio. Dentro de si ele tornou amorfo, sem limites e sem fim. Quando percebeu estava se observando de frente ao espelho, olhando fixamente os próprios olhos negros.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Denise e O Problema

A empoeirada cidade se despertava em um dia cinzento, confesso que a vontade de voltar para minha cama não era das menores, mas por motivos comuns da vida cotidiana, eu me encontrava acordado. Ao fundo ouvi a buzina de um navio, ele estava partindo. Eu senti a inevitável vontade de partir também, mudar, pois as coisas não andavam muito bem, porém já haviam sido piores.
Fui até o portão da casa do vizinho, ainda por cima eu me encontrava de pantufas femininas que deixavam meus calcanhares de fora e espremiam meus dedos (panfutas que eram de Denise), e assim furtei o jornal desta manhã, voltei para casa normalmente e preparei o café.
Denise acordara a pouco, como de costume ela estava com o cabelo despenteado (que me cativara), sentou-se a mesa enquanto eu lia o jornal, a falta de assunto entre nós era grande esta manhã, o que era bem incomum afinal eu sou um geminiano e ela uma libriana, eu só observara ela a tomar café, com a mesma cara de "tenho-um-problema-que-eu-não-consigo-resolver-sozinha-e-não-vou-pedir-sua-ajuda" (acho que exagerei um pouco), aquilo era algo que me angustiava muito pois sentia que ela parecia aborrecida e que precisava de ajuda, a indaguei algumas vezes perguntando o que havia de errado, sem sucesso, ela nem ao menos abriu a boca para responder, sem opção tive que apelar para algum gesto idiota e tosco, que de fato é típico de minha pessoa, (sem dúvida alguma algo esquisito e cômico), ela pôs-se a rir. Uma risadinha e um suspiro, foi tudo que recebi, mas daquele breve suspiro, eu juro que ouvi bem baixinho o problema dela.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cultivando Versos

Plantei meus versos
como sementes

cuidei deles como uma flor.
no outono, cortei um ramo.
na primavera,
ganhei um amor.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Boca Costurada

O dia parecia eterno,
E o lúgubre corvo negro se ria,
Enquanto parte de mim morria,
Por viver este Inferno.

Já não aguentava levantar
De braços atados,
Com a boca costurada,
E os olhos vendados.

Deitado em meu fúnebre leito,
Como qualquer anjo torto,
Eu já me encontrava morto.

Gritei como nunca havia feito,
Porém não se ouvia nada
De minha boca costurada.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sonhos de um Aventureiro

O sol estava indo por detrás das árvores do Vale de Libra, e o simples ato de remar o barco fazia pequenas ondas que se chocavam com outras ondinhas que acabavam por formar novas ondas que assim prosseguiam infinitamente. O reflexo do sol na água brilhava como se diamantes estivessem no fundo da mesma, observamos por muito tempo o fascinante reflexo. Ao chegar à costa da praia, caminhamos pela areia enquanto a espuma das ondas encostavam em nossas sandálias e pés.
Depois de cruzarmos o Vale de Escorpião, encontramos alguns ciganos que carregavam uma cruz feita de jade, com eles fumamos no cachimbo de concha que os próprios tinham feito, nos sentamos e sonhamos um pouco, enquanto nos traziam vinho, nesse momento os meus pensamentos foram cristalinos.
Sentados na cadeira feita de bambu, bebericando daquele doce vinho. Um reino de formigas caminhava pelos meus pés. Grilhos rangiam. Pequenos circulos no fluído dos meus olhos, enquanto eu observava a garota indígena de olhos negros, cortar e cortar a luz, até que ela cortou todos os fios de luz, me deixando na penumbra. Acordei, sem saber se tinha acordado de um sonho, enquanto Valentino remava serenamente pelo Vale de Capricórnio.

terça-feira, 29 de março de 2011

Conto do Sem-Nome-Qualquer

Estava eu, jogado na sarjeta de algum-lugar-qualquer na frente de um bar imundo, quando tive uma miragem onírica típica de quem sonha acordado (ou de quem está altamente embriagado), era uma moçoila, na verdade um anjo (pelo menos eu acreditava que era), dela emanava uma radiante luz, porem não possuia uma aureola em sua cabeça (como a maioria dos anjos que são descritos), mas se podia ver a bondade angelical naquele olhar tão delicado, e com esse mesmo olhar ela estendeu a sua mão, que era tão macia quanto cetim, ajudou-me a levantar com um sorriso bondoso, que não queria saber os motivos de eu estar aos trapos, sujo de lama ou cheirando a cachaça... Ela me falou coisas nos ouvidos, palavras que nunca irei esquecer, palavras que me fizeram mudar, foi naquele momento que eu decidi: vou parar de beber, irei permanecer sóbrio até o ultimo dia da minha vida, tomei meu rumo...

Quando dei por mim já estava abraçado a um garrafão de vinho (sou um cretino bastardo mesmo, nunca irei mudar), talvez no fundo esse fosse o meu verdadeiro anjo, aquele que me faz esquecer todas as coisas ruins (e até mesmo as coisas boas). Espero dessa vez que Deus, ou seja-lá-quem-for não me venha com essas miragens de novo, se quer que eu saia dessa vida, que me traga outro vício.

terça-feira, 15 de março de 2011

Ismália

Ela estava com o rosto pálido e sem animo, e dentro dos olhos castanhos escuros eu via sua alma torturada pela loucura que a fazia sofrer, que a prendia grilhões, apesar disso trouxe-lhe o meu cálice dourado que continha a mais pura e cristalina água para assim acalma-la da loucura que a atormentava, e com um rosto sem expressões ela recusou, não queria beber da água, na verdade não queria nada que eu pudesse dar, nada. Eu queria apenas ajuda-la, mas ela não compreendia, que eu não havia a chave prateada daqueles grilhões, isso tudo fazia-me sentir inútil. Ela saiu, sem falar nada, no silêncio, era notável ouvir seus passos ecoarem pelos corredores, ouviu-se também a porta de seu quarto fechar.
Na sua sacada ela observava a cândida lua cheia que contrastava com o céu azul-celeste da madrugada, a lua também refletia-se no mar. Ismália então pôs-se a sonhar, queria tanto a lua do céu, assim como também queria a lua do mar, e no sereno ficou a devanear, e sem perceber estava a cantarolar, ouvia-se de longe aquele lindo cantar, e como um anjo, ela pendeu e ruflou as suas pequeninas asas de par em par, Ismália havia encontrado a chave prateada no céu, e eu havia encontrado os meus grilhões ao mar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Insígna de Thel (Thel's Motto)

Será que a águia conhece o abismo?
Ou queres perguntar a Toupeira?
Coloca-se a Sabedoria num cetro de prata?
Ou o Amor em um cálice dourado?

terça-feira, 8 de março de 2011

Carta de um poeta morto.

Algumas vezes por dia parece que apertam o meu coração, outras vezes até tenho a impressão de o atravessam com uma agulha. Talvez seja minha propensão genética a problemas cardiovasculares, mas definitivamente não é amor. Pelo menos é isso que falo para minha pessoa, a fim de aliviar um pouco o sofrimento. Quem saiba exista um...

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Caro leitor estou aqui para anunciar que o jovem rapaz que escrevia esta prosa faleceu hoje, irônicamente de um enfarte agudo no miocárdio, pelo jeito ele realmente sofria de fortes dores no coração. Pobre coitado nem ao menos teve a chance de terminar sua ultima obra. Bem que descanse em paz, um abraço fraternal do seu querido Eu-lírico.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Fichas Vermelhas

Após sair daquele bar de esquina sem pagar a conta, vaguei pelas ruas fétidas e escuras acompanhado da minha embriaguez, e de alguns trocados que estavam no bolso da minha calça surrada, procurava por... algo, qualquer coisa, até mesmo o nada.
Olhando para as constelações de Cão Maior e do caçador Órion, refleti por alguns segundos que; só poderia ter algo (ou nada) caso eu apostasse minhas "fichas" na "roleta", afinal só ganha aquele que tenta. Não se pode vencer sem apostar, sem arriscar, no entanto vos digo que o mais estranho de jogar é quando se ganha muitas vezes seguidas, e aquela sensação que queima de dentro pra fora, exalta o espírito fazendo o sangue ferver, de tal forma que te faz crer que por alguns segundos você é invencível, não é a mesma sensação que tenho quando acordo todos os dias com a cabeça latejando de ressaca, mas durante o dia isso muda e sinto uma certa nostalgia daquela sensação, pois penso que tudo é questão de apostar, de arriscar, e que empolgação tenho quando penso nessa sensação.
Já ganhei muito na "roleta", assim como também perdi muito, mas nunca deixei que a raiva tomasse conta das minhas expressões, ou até mesmo a decepção tocasse meu amago. Aviso-lhes que tal habilidade não foi algo que eu nasci tendo, mas sim algo que eu aprendi com a experiência de jogar esses tais jogos de azar, ou como prefiro dizer o "jogo da vida".
Trapacear? Sorte? pra mim tudo isso é permitido, nada é contra as regras, pois a única regra é vencer, ou jogar, dependendo de quem você é, ou com quem você joga contra, por exemplo; o dono do bar, sai daquele lugar horrendo, que possuia uma cerveja que certamente veio direto do inferno (não que tenha alguma importância afinal não gastei um tostão, mas como diria alguem que conheci que já não me recordo o nome: que Satã o pague!), se ele foi desatento demais, ou se distraiu e não percebeu que um cliente saiu sem pagar, acredito que não foi por coincidência, porque estou tanto tempo jogando que eu seria um completo babaca se eu não aprendesse alguns truques.
Os ventos trouxeram de longe os cacarejos do galo gaulês, é um aviso para aqueles que não medem o tempo com ponteiros de que brevemente o sol irá nascer, e eu irei continuar minha procura por algo, talvez eu pare em algum bar para "girar a roleta", apostar minhas fichas no vermelho e ver também se estou acompanhado da sorte, além de minha embriaguez.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mantra Nº 1

Hare Krishna
Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Marionete

eu nunca fui o que eu era,
talvez fosse o que não era;
o que eu não queria ser,
por isso fui sem querer você.

e até hoje no palco mal iluminado
eu não consigo fugir do personagem
do teu personagem que me assombra
que não me solta.

sou você e não sou eu,
não sou ninguem,
nem você, nem eu.

não sou ninguem,
sou o que mandam ser,
somente a marionete.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fragmentos de uma noite

Pensei em escrever um poema porem
Cortei as asas de meus pensamentos e
Fiquei a ouvir o delicado silêncio no ar
(Simplesmente, parei de pensar).

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mente Inquieta.


Pare com as ideias contraditórias,
Pare com as espirais de pensamentos.
Simplesmente pare de me fazer pensar,
& torne-me as respostas que queres ter.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Etéreo Olhar.

Procuro no olhar de cada ser
Aquela essência outrora
(Um olhar que eu queria ter)
Que foi-se com o tempo de agora.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nonno

Enquanto sepultavam você, eu estava a sua direita te observando. A sua expressão era serena e gélida, o teu sorriso foi substituído por um rosto pálido e sério, bastante diferente daquele homem de pele rosada, e de barba alva, com aquele sorriso que só o senhor era digno de dar. Um sorriso sofrido, que só os vencedores e sonhadores podem dar nas piores e melhores ocasiões. Levei minha cabeça as divagações sobre o senhor nonno, e não pude parar um segundo se quer de pensar, desliguei-me daquela oratória tão artificial que pouco falava do senhor, e conversei comigo, pensei melhor, que eu deveria ter escrito uma oratória e estar ali te homenageando de verdade, mas eu estava assustado demais para dizer três palavras sem soluçar, e foi naquele momento que meus pensamentos não pararam mais... E o melhor que eu tinha a fazer era escrever sobre.
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Um grande sonhador com certeza ele era, não houve homem mais bondoso por estas terras que ele, mais justo, mesmo que muitas vezes seu modo rude (e até simples) de ser causasse uma má impressão, porem toda essa "falta de modos" só servia para proteger a si e seus queridos de outros, mesmo que nem sempre funcionasse pois este era pai e também filho, e como todo o filho que se torna pai, ele tinha a sua fraqueza no coração. Mas isso de longe não era a sua "real" fraqueza, e sim uma das melhores qualidades deste bondoso senhor que apenas procurava um lugar para chamar de seu. Talvez por esse motivo que ele saiu da sua terra natal, no mediterrâneo, e veio parar por estas terras, em busca da própria vida, em busca de algo maior, e sempre foi assim, essa força de vontade de querer ser alguém e não somente existir (como muitos fazem), todas essas idéias, motivos e loucuras fizeram dele não apenas o meu avô, mas também o meu herói.
Este homem com toda a certeza do mundo tem motivos de sobra para fazerem meus olhos se encherem de prantos, e muito mais motivos para eu e minhas duas irmãs encherem o seu túmulo com o nosso amor. A morte com certeza não é o fim.


Caponera, Giuseppe.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um Sonho de Liberdade

Eu olho o mundo de cima de um arranhacéu, estou apenas mais perto do céu e do sol, somente isso. E lá de cima eu vejo as pessoas enchendo as ruas, alimentando a cidade com o próprio sangue e suor, elas vivem para a cidade, procuram incansavelmente a felicidade incondicional, mas nem ao menos sabem o gosto do vento, perderam a noção do valor do tempo, e não sabem o gosto da liberdade, porem desse ultimo item nem eu sei o gosto.

Foi nesse momento que um pássaro sobrevoou minha cabeça. Quem dera eu ser como ele e voar o mais longe da cidade, é então que; percebo os inúmeros vínculos que eu havia formado com a cidade, já não podia mais ser livre das preocupações, das responsabilidades, das infinitas cousas que já faziam parte de mim... Eu sou como os outros, e eu sou a cidade também, eu dou meu sangue e suor pela cidade, e espero algum dia sentir o sabor da liberdade.