sexta-feira, 3 de junho de 2011

Auto-Retrato

O rosto era pálido, as únicas expressões que possuia era de vencido pelo tédio, pelo conformismo. Sua vida era feita de derrotas, cheia de culpa, do amargor da solidão, e isso refletia no seu olhar desesperançoso, um olhar taciturno e melancólico de que já havia perdido tudo que mais estimava, os lábios secos pareciam costurados por dentro da boca que o mantinha calado como um cadáver, um silêncio mortal, mas que não podia abafar o seu rosto que gritava com muito sofrimento cada chaga dentro d'ele.
Era o rosto de quem tentou inúmeras vezes e não conseguiu, e que finalmente se admitiu como fracassado. Derrotado, aprendeu a viver com isso, aprendeu a viver na penumbra, escondido como um maldito figurante ou observador de outras vidas, já era o próprio verme que rastejava no humos.
A face entrou em metamorfose, sobre o rosto cansado e doentio, viu-se florescer a sombra de um cadavérico ser, os traços profundos, sem vida. Naquele homem, ser ou recipiente mecânico não havia alma, não havia sobrado nada que parecesse humano.
Levantei-me da minha cadeira, admirei a tela que eu acabara de escrever, fui apressado até minha alcova e me olhei no espelho, era real demais por isso talvez mais assustador, eu acabara de pintar com palavras o meu auto-retrato.

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