segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

aquarela

desfiz na inundação
lábios vermelhos
completamente meus

estudante de poeta vai à jam session

ainda no ensino médio
impreciso porém sincero

queria voar alto
ninguém a alcançar
sozinho, nuvens
tempo pra pensar

bobeira imaginar
cidade-mandala
ainda rufla e queima
como em pleno verão

palato em noite calada
caminho outra sensação
ainda não cresci assim
terá tudo um dia um fim?

vestindo as roupas da estação
em copos americanos a saudade
do tempo em que voavamos
em que soltavamos a voz

INSERT COIN

não é um jogo se
você tem q enfiar a moeda
pelo cu do porco

beijo com rimbaud

você quer ficar?
disse no disfarce
da primeira pessoa
sim, sou outro

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

paisagem de miró

ruívem
faisão
atrasado

elegia

acho que estarei mais próximo da morte
pois a vida é algo realmente delicada
uma manjedoura de mãos pelas petálas da primavera
esculpem delicado véu sobre mármore
ao ouvir Ravel na chuva corre Scarbo
o anjo de Crevel conversando comigo num café
os rapazes com suas camisas lã e garotas com pulôverrs
a mosca cochicha no ouvido belzebu ou coltrane
sigo a mosca e meus olhos param nos prédios
no terreno abandonado como um templo para o capim
o chão do qual brotarei não será terra vista
sento na cadeira as pernas numa encruzilhada
rota para o enforcado ou o desvio de rota
guia-me os pássaros estoícos entorpecido pelo trivial
passo por passo mais próximo da transcendencia
inventei um jogo bobo mas isso não importa

cowboy bebop

mãos não podem ser tartamudas
jazzistas repetem o esqueleto da mesma frase
Cortázar com suas tarantulas

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

a borboleta de hiroshima
dura tanto um dia
quanto a eternidade

átrio vida teatro

sou o fantoche de krishna
pelos fios do livre arbítrio
hipócrita com razão
pelos olhos do menino

haikai

queria escrever em kanji para que um pássaro fosse pássaro
como uma rocha é uma rocha é uma rocha é uma rocha
e voe como led zeppelin mas não é mesmo que fleurs du mal

domingo, 13 de novembro de 2016

domingo distinto

acordei brega como um homem de trinta
trinta moleques no corredor no ostracismo
desenhando com palavras garatujas
repetindo todas conotações da palavra tempo
deixando o paletó de poeira jogado no chão
eles se divertiram botando o vinil no bico do pássaro azul
fora do peito gaiola pentearam as ondas tristaídamente
observaram o decote das nuvens uma releitura de modigliani
na cama não sobraram fio para marcar a pele-retrato
cortando do lápis o grafite esboço que não se extingue

Delirium... e agora é contigo.

Estava na aula de psicologia, ao que foi explicado o que é um delírio. Conceituo: "crença irreal mantida com grande convicção." Que dizer da religião, então? De que existe uma ordem invariável nas coisas, um grande Criador, em meio ao caos e desordem, sentido? Acredito afetar similarmente áreas correlatas do cérebro, pois que somos desenhados, alinhados, coordenados neurologicamente para reconhecer padrões. Padrões são o que distinguem uma onça da folhagem em que está imersa, salvando assim a vida para que possamos nos reproduzir e garantir a sobrevivência da espécie. Mas isto também não seria uma crença? A crença em alguma forma de "survivalism", ou sobrevivencialismo? De que tudo gira em torno da sobrevivência... Pois bem, dizem os místicos que tudo gira em torno da vivência! Celebrar o que é estar vivo, independente de perpetuar a espécie, ou não. Viver em torno de alegria, prazer, opiáceos... Me parece mais agradável, e mais simples, bem como mais natural. Mas porque há de se ter uma ordem natural? Que é ser natural, afinal? Existe uma ordem? Isto é delirio. E viver não é uma febre, um delírio? Somos todos delirantes, não, afinal? Conheço as diversas paixões, compreendo o que sentem os outros quando não estão em si, sóbrios, MORTOS, e isto, diria, é delirar. Delirar da normalidade, sair do real, esquivar-se de sentir a dor que é EXISTIR, para poder, sentindo alguma vontade, transferindo um pouco de Vontade às coisas, SER.

"Let me be here, with you, tonight...", suspirou a moça, ao que abraçava, timidamente, seu querido, e era surpreendida com o abraço mais quente que já havia conhecido, nesta vida...

...e assim, meu querido, você que lê, seguimos vivendo, felizes, ora tristes, mas sempre, sempre, sempre!, tentando... E eu diria, que é isto que importa, realmente.

"What if I can't? ...what if I can? And what if I'm just an ordinary man..." -- a angústia, que nos aplaca, requer que sejamos abraçados, meus caros.
Não consigo viver sem ter você, meu amor. É o que eu te diria, olhando-te nos olhos, neste dia de hoje, enquanto lágrimas se acumulam por meus olhos, e escuto esta música que me recorda momentos que nunca tivemos... Eu estive tanto errado, ao que estivemos tão corretos, e por isso clamo, peço teu perdão, mas que aplaque meu coração. Pois se eu estiver errado, esta noite, me corrija... Não deixe este momento passar.

Uma ligação... Da memória, um lapso. Uma conexão, livre-associação, e daí seguimos em frente.

Aoooo! Uivou o lobo da estepe, enquanto corria livremente por entre planícies nevadas, e se despedia do que lhe corria pela pele, através do vento; o passado, corria do passado, rumo a um local onde pudesse experimentar o presente. Da planície, as neves, os pinheiros, enquanto corre, todas ofereciam uma vista a ser explorada, mas ele não ligava, seguia, como se o secundário a seu objetivo não tivesse poder de lhe atrasar. Seguia, como quem corre atrasado, para acompanhar o fluxo do tempo. Delirava de febre, mas não uma febre doentia, e sim algo que não podia ser explicado: fervia nele o ardor, uma espécie de "longing", um desejar profundo e saudoso.

Corre!

Fluxo

Do fluir. Chegar, ir e vir.
Por quê escrever? Aplacar angústias.
E trabalhar? Foco.
...impressões do inconsciente.

Não o fluxo constante de uma inconstância geminiana,
o lapso profundo de um áries que perdeu seu fim,
ou a contemplação ponderada de virgo que morde a sua própria cauda.
Não,
apenas um complexo contradito pisciano.

O que vos fala.

fabula sem uma moral

Bukowski não passava de um punheteiro
mas um aperfeiçoador da arte digno de maestro
verossímil como dizem as línguas com mel
fosse o que fosse ou por ai até o que fingia ser
devia ao menos uma nesga aos cotidianos brochas
que se entopem do erudito diga panaceia
ou mesmo da falácia não há fogo
há uma mata num incêndio um prédio inteiro ardendo
tentando alcançar o céu e todos os bombeiros do mundo
com seus baldinhos até o topo de água não sabem o que é sede
os helicópteros cercam e delimitam a área mas nada ocorre
mora ainda num lugar muito estranho
aquela segunda personalidade que almejava a perfeição onanista
não consta em nenhuma enciclopédia
na ponta do iceberg vai ouvir a extinta consciência
deslize vai coisa que não seja o picolé
infame bracelete que impeça as peripécias
dos coelhos sortudos sem patas ou de suas orelhas em cartolas
exclamam onde está sua sorte agora
então você cai os olhos sobre um verso do velho
para voltar a se sentir como a raposa atrás da uvas

inominável

a via láctea derrama vida na terra
do pó viestes e do pó retornarás
é ilimitadamente breve afogar-se

terça-feira, 1 de novembro de 2016

estudo erótico

I
contemplando a fauna azul e dourada
flores por onde dedos perpassa cabelos
cheiro primaveril do esforço alimenta
o chumbo dos modos delicados
ter por completo a fornalha dos teus lábios perolados
fogo imutável
queima o excesso de calma
deleite
do amargo sabor de mercúrio
revolta das vinhas maduras
destilado dilacerante
inebriado instante desejoso
banhado teus pés desfazem da areia círculos
soníferas embarcações em recifes
pende-se algas forma-se vagas
resgatando óleos cérulo marinho
recôndito da lua
mormaço

II
arde
sol pálpebras irradiando a flor tesuda
como favos de metálicas carnes
pela entrada dos dentes portões
entreabertos da morte a palavra
mordida afrodisíaca da vergonha
medida morfina e strip-tease
que esparrama pela cama
seios como o sax a surdina
cortinas de veludo
desejo a todo instante
lençóis travagem melada
pela saliva adocicada
colisões de rochedo incandescente
com a idade do terra
haverá um novo diluvio que exterminará tudo
após será vida

III
na ilha ainda não cartografada
nós retornaremos ao pó
a via láctea fecunda com um bang!

tempo da colheita

é tempo da colheita
dos frutos suculentos da paixão da polpa adocicada
maduros da amarga espera dentro do vasilhame impúbere
morder os frutos doces e podres da melancolia geométrica
de olhos e dentes separados em éter como brotos de um vaso
bocas de cinzeiro servirão para nova palavra cinza que retorna
a carta suicída ditada de que não fui responsáveis pelos atos essa essência
o signo pélvico em moto perpétuo coberto como uma bicicleta fazendo música
as pernas como se fossem alicates tortuosos presos como ancoras
apague as luzes me arraste para debaixo das tuas renegadas asas e diga olá para nunca
a escuridão que tece teus lábios tão perto tão cego quanto uma aranha bêbeda
primavera no peito seco onde apenas o oco pode arpejar acordes bizantinos
meus lábios retem em película o gozo das luvas brancas brancas
a mão desenhando na areia dos cabelos a vigília o sonho a vida
os pés na farinha da cordilheira espinhal a epiderme arredia
narizes azuis da bebedeira deixarão saudades cantaremos o fado dos marinheiros
amantes sem braços de forte ligas de cromo na forja tempestuosa
passantes eternos da luxuria e eterna fome algo que coube afogar na banheira
de quem deve mais que um beijo um suspiro anterior a entonação tônica do amado
houvera o tempo esse tempo aquele tempo acola tempo e desdem
porque o pulso forte das horas já faz passar do tempo o fastio da espera
colhemos os frutos esculpidos em minero de núpcias o enigma em forma de face
temos ainda as pernas soltas como as baratas que se arrastam para fora
estamos na primeira ilha revertemos a criação não temos o instinto burguês
metáfora rasa é tempo da colheita de metáforas vazias e fáceis
que desenterram homens feitos em argila que num sopro
se desmancham sem sobrar mais nada
todas as costelas para poder respirar por outra boca
seguro meu prazer como tem as rédeas do puro sangue
fica por mais até do absinto sorver nossos sentidos
o campo verdeja de sintaxes imaginando a infância

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

você, a fotografa

surgiu em pleno meio dia nublado
nada mais eu ajustava ponteiros
rabiscava verdes versos no ar
lhe disse eu acredito na paisagem litorânea
minha igreja sem paredes meu amor sob ruínas
é certo que procuro apontar o fácil
onde os dedos marcavam por inteiros ou um terço
nomes de revistas jornais velhos o poeta em sangue
para me por no lugar que não estava nunca estive tão certo
precisava reaprender a respirar esquecer meu devir máquina
sendo abraçado pela minha despedida o corpo que beija o ônibus
toda vez que proferia uma palavra ou a tentativa de uma
cunhando nomenclaturas garatujas sobre meu couro
teorias metafisicas para apanhar a solidão de surpresa
pela oxidação das nossas bocas de bronze
a chuva que cai relapsa relaxada
pincela a selvagem sincope
caligrafia vertiginosa das tuas olheiras
os lábios vorazes canhestros
todas as pombas voaram da catedral
quando os sinos rebentaram meio dia
retornei a status de terreno baldio

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Comunhão

foge mecânico cavalo louco
esta não é tua morada
neste corpo engendra algebra motor
pistões glândulas relâmpagos
palpitar desenfreado de tambores ritualísticos
pelo couro afinado pulsa elétrico
tal o maxilar caído à nuca
passaram sete luas desda queda
resquício de relíquia etérea ao vítreo
essência sublime da voracidade
esfarelando guepardos
na velocidade de moléculas em choque
expandido o limite entre carne e horizonte
desloca-se pela cidade a inocência do louva-deus
deixamos de ser crianças em erupções
para revisitar as fontes esquecidas nos dias quentes
nós somos aquilo que desejamos tanto ter adiante
enquanto a vegetação fermenta nossas bocas
lava fertiliza nosso corpo transfigurados em estátuas movediças
nossas esquinas se interseccionam ligadas pelas veias
de um pulsar à combustão cardíaca pela força de cavalos
ao olho do homem com câmera na mão a cauda do escorpião
será preciso renomear as ruas criar novos mapas abandonar toda rota
deixa a chuva sagrada dança realidade nos braços de Shiva
alucinada pela vossa santidade elétrica pela comunhão das válvulas
no caminhar do equinócio para os dias de cães famélicos perdidos
enquanto alma sublima vertigem do zero infinito

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

madrigal

anos feitos os anéis em árvore
agora você tem a figura
não há nada como seu poema
germina
versos mais maduros
onde alcance a tua voz a minha
suplica curvando as sombras
meia-vida

mensagem para a madame na escotilha

ela tinha o gosto verde e isso já era o suficiente para o poema ser feito
eu lhe apontava meus versos passando o dedo destreinado
por cima das frases pra lhe mostrar que eu precisava lhe mostrar
estão aqui espalhados nesses recortes da bíblia
nesses livros meus que já perdi todos para meus amigos
eu surrupio frases sou bom nisso também com muito esforço invento umas
ela tinha o ronronar de chuva o gosto cérulo de azeite
nada original as vezes me soa o que me traz a dias impares
as mãos nunca cansadas de sovar o pão ou de exercer função
somente cansada das sirenes de ambulância sentara no sofá
entretenha-se comigo este novelo de lã do qual utilizo
para me guiar labirinto metafísico entre borges e cortazar
roubei do cais o assovio dos marinheiros até a minha madame
na escotilha passeia ululante pela cabeça do passageiro distraído
segue a bordo dos bolsos como se nunca tivesse ocorrido silêncio
numa carta ainda não escrita preguiça me dê por vencida quando chover
no dia cinza por todos os dias quero estar contigo eu encontrei a melodia
numa caixinha de música não há como transcreve-la nesse transatlântico
de outro lugar roubei a imagem de um quadro e catei por pedacinhos
fragmentos de outros momentos para ter costura de nossas palavras ao vento
uma foto para eternidade nós debaixo do mesmo guarda-chuva esquecido
na chuva esquecemos da gente engraçado na chuva sou como gato ela afirma
mais tarde quando chegarmos ao porto investigarei sobre teus lábios
quando se contraem a imitar o assobio dos apitos a fumaça sobe pelo céu
nós discorremos sobre a piscina vazia por tanto tempo que ela se encheu
contigo é mesmo engraçado é como a houvesse uma criança brincando no rio
suas perguntas são anárquicas (quantas igrejas tem no céu?) e sutilmente
vais abrindo o absoluto das interrogações de cidades que só existem porque tu sabe nomeá-las

terça-feira, 11 de outubro de 2016

as moscas

caminho por entre larvas
elas brotam na colmeia que fiz
no carpe úmido da minha boca

*
precisava
era o ritual reproduzir
as coisas pequenas
as larvas

*
tinha cuidado
era uma oligarquia
deixava a boca bem aberta
para que pudessem copular

*
a terra não é diferente de um crânio
ou mesmo de um tomate podre
manchado de bolor com sua lanugem
fedorenta mas saborosa

*
as moscas cuidavam do garoto
asas de glicose
hialinas contra luz

*
a mais forte viveu 1 dia como adulta
outras duram a semana

*
elas esfregam
as patinhas rezam
antes de sugarem
o mofo da minha cabeça

*
o culto só começa
com as cortinas cerradas
o altar está pronto
de natureza morta

*
viver é se decompor
não faço mais que o natural
prolifera na fruta
multiplica como pão

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

prece

eu me despedaço ao mar
que seja febre
eu me despedaço ao mar
meu corpo vira sal
as algas se despedem com cantos gregorianos
sou esquartejado do equador ao sul da cordilheira
eu me despedaço ao mar que seja
meu braço aporta corais de todas as cores
minha mão se liberta dos dedos os peixes os engole
eu me despedaço sobre o mar
ele me engole aos braços fortes de sua saliva
faço o que me pedes
eu me anulo
me despedaço sobre o mar
eu viro sal
o sol por instantes para o movimento das ondas
nesse momento mais vivo do que outrora
eu me estabeleço soberano
o mar me lambe cordial
minhas pernas agora ganham a forma de água viva
quando me recomponho de sal
eu me levanto junto a lua
justamente quando perdes o teu nome
me arrastando pela orla inteira procuro
tuas partes preferidas entre moluscos
encontro a pérola que és esfarelando-se
numa ultima partícula indivisivel
desconhecida de vestido
não há quem ouça minha prece
logo será completo
a tua mudez

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

o delírio de uma garrafa liberando o demônio amarelo melancólico numa segunda-feira gorda

patifes mornos de retalhos não aguardam pelo momento de se despirem da consciência
olhar vidrado explorando vosso mundo em cores de aço azul safira e branco-nada
 misturados como massa de óleos
brasa rouquidão burlesca e um microfone desligado em todos os vapores fazendo feedback
luz extraída de celofane amarelo esquerda para direita irradiado por
 neon verde as caretas no espelho de horrores deformidades
máscaras orientais rostos bestiais com dentes ascendentes chifres de marfim espiralados manchados
jovens taças ruborizadas pela cor rubro-vinho com dedos em anéis de esmeralda gemidos de será-o-fim?
velhos enrugados como maracujá balas azedinhas desenrugando a pele flácida com grampos de cabelo piranhas
o branco-gris da lava-escuma tsunami de insanidade estupor bêbado pra caralho ao marinheiro setes marolas de vodka
glup glup glup a garganta gargalo a gárgula hialinas em moto perpétuo num never ending again recomeço de necas
o cabaré imperativo finalmente chegou a cidade numa roda gigante de ofertas imperdíveis a preço de banana 
o desfile de zangões rainhas amarelo manguaça trevas breu noctambulo pela noite-sem-fim 
doce deleite batida de coco ao luar numa segunda-feira onde fantasias gritam pelas três cores da frança 
os ternos batizados se desmancham em areia que preenchem uma sala onde a porta se torna um pontinho no horizonte pupilas desAPARECENDO
caras pálidas plúmbeas rosadas em nupcias de olhares genderfluir plumas de pavão verde olhos de lince amarelo gema e azul plúmeo  
male-male as ondas plácida de nossas crianças em pragas aos passos cruéis dos ouropéis luxo nojento de misturado aos autógrafos anônimos de hieroglifos de aerosol
a onda sai pelo sulco da praia a onda entra pela greta na areia balançando a procissão de naus absortas no carpe de piche rochoso
rufiões ziguezagueando apitos caboclos de lança malabaristas de orgias em pólvora oxigênio explosão salpicando de tranças e fitas vermelhas sangue trovoa em olhos 
o sal a lua de três milhões de holofotes sonhos de luzes fluorescentes atraindo olhares de moscas pesadelo RGB tecnicolor 
sorteio de tragédias improvisadas pelo linhagem real de bastardos mães jovens e tias já adultas gosto sinistro cromo ar vazio ganhando pele
apelo monstruosidade em carniça de otários moleques cabelo cor de fogo malencarados saídos de spaghetti
malandros semideuses desgarrados num ultimo pito enquanto levantam os destroços da trupe mambembe 
metade marujo metade carranca em graça divina pose de ternura maternal com suas canções e desculpas cavernosas 
o mais violento dos paraíso num triangulo pubiano extração licoroso multinacional sem valor real o sangue canta olhos ardem
finalmente folia e terror de sair da casinha dura minutos ou meses acre odor de feras redemoinhos de ladainhas hálito quente em meu tornozelo permanece: 
permito a chave deste selvático desfile

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

jogar

era a primeira vez
estava funcionado
era a primeira vez que estava funcionando
isso vale?
então o que
e dai?
vamos continuar
você decide está contente?
me dê a sua mão
tudo é superficie de toque
como o giz no tablado delimitando área
quando acaba o giz temos tijolo de construção
desta vez um circulo onde tudo está contido
até o vazio
uma bicicleta de aniversário
somos poucos vamos entrando na cartola
deixe me tentar é a primeira vez
desenho o sol que a chuva apagou
é o movimento que importa
é o que equilibra
o mergulho
pequena está funcionando
depois façamos uma cabana que abarque todo mundo
quanta gente
pensava que fosse é verdade
era apenas um boato
não preciso nem dizer mas você talvez
mergulhado procurando
talvez perdido
o coração rabiscado
é só um rumor que se espalha pela cidade
se não couber todo mundo
só falta você longe perdidamente do meu lado
neste naufrágio que eu não poderia perder
até desenhar teu nome na rua com sal
eu fiz depois de perder tempo

An Endless Dream

na camiseta do doutor era o aviso
estava escrito ao destino no consultório
tirei o sorriso da cara minha constante
intimidação não casual sei que sairei dali
com mais remédios mas ficará aquela
sala em mim como algo que não posso vestir
estaria preso perpetuamente a carne de meus fardos
sorte nenhuma não mudaria o acaso
eu não poderia nascer com outro corpo
mil que pudesse imaginar este que faz
parte do poema jaz deveria levar a vida
para consertar o zodíaco mil efeitos
de se viver imaginar outros mil sonhos
para se viver acreditar que este
já está sendo bom acordar com isso na cabeça
de que não pode estar errado ter plena convicção
de que nascera desta forma no meio disso tudo
para dizer uma palavra tolo quando vais despertar
desse apático sonho entorpecido dopado
em oceanos de pilulas e mais remédios
vamos levante a mão pedindo permissão
no meio da sala convoluta de transeuntes
e grite em plenos pulmões estes que lhe doam
a dor que não sentes pela necessidade destrutiva
finge que não foi nada puro desvario está só
em resumo não faz nada mais que soterrar em si
é isso que eu chamo de tolo an endless dream
na camisa do doutor acha que é um sinal
a felicidade jorra intravenosa por um sonho mediocre
meu figado aberto como repolho cozido aos urubus
me curvo perante a sarna primaveril
afundo na cama ruína e nada pensando eu não ligo
com o monocórdio da frase num inglês enrolado
a irritação de correr com olhos fechados
está tudo nos ossos do garoto num dia ensolarado

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

easy listening

recortei o alumínio da minha caixa torácica
como se abrisse uma lata de coca-cola
deu para os cachorros brincarem com meu
boneco alfinetado ainda quase por inteiro
os pássaros resolveram me fazer alvo
para suas palavras proferidas à miudos
algemado você tirou meus cavalos
da chuva e eu não pedi nada disso

não deixou sombra de duvida
marcada sobre os móveis
fazendo favor de arrancar o próprio mofo
partiu os pares de xícaras que ganhamos da sua
sogra para tomar porres e lembrar
que devia partir e eu não pedi nada disso
o muco negro que vomitou
na sala deveria voltar de onde veio

mas agora é tarde demais e eu perdi a melhor
parte quando em que cada vitória minha
tocaria she's got the jack admitindo assim
que nunca venci ou vivi algo nobre

você está certa destinou as moeda de 1 centavo
projéteis raros a dispensar avulsamente
como as chepas que herdam a caixa de areia
que ninguém mais chama de mundo

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

flores de vênus

inverno é longo
para cada pétala
suada de esmero
bruta brota para seres
cada vez com força
nunca a flor que trazes
ou a que guarda
estas definham fácil
mas a lembrança
de que eres uma
perdura muito mais
versos de ricardo reis
a duração da palavra
flores sejam para quem for
sempre terei no peito
o espinho cravado
da rara beleza rara
inocência de garota
pinceladas sutis
a toalha sobre a mesa
os panos e o vaso
não dizem nada
teu retrato é outro
circular e permanente
querendo o imperene
a mão arrisca ser ela
sombra errarás obtusa
absurda colherei o erro

eu tive tempo pra pensar

mas gostei mesmo do avião
afinal já não penso tão bem

gêmeos

parindo silêncio
mão espasmódica
barulho bagunça

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

gorjeia

o vento faz das folhas
mais vivas do que são

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

cinco da tarde

os ursinhos costurado segredos
como contaria ao papai
ao pé do rio de ambrosia
ela se engasgava com i love you
pássaros caiam quentes
numa tarde de gozo gris
garganta fazia saara
pela nova inundação
preparava o ultimo disparo
teso o corpo negava
ao pé do rio de ambrosia
sua boca transbordava
container do suco sagrado
no ultimo suspiro
pássaros caiam quente

quarta-feira, 1 de junho de 2016

resíduo de blues em mercúrio

ao fogo dorminhoco os fogos
   q sobraram pro novo ano
                    molde chumbo
  meio dia          persiana
     longos          pestanejares
       sorrisos suspensos
resíduo de blues em mercúrio
 flecha impulsionada pelo fraco
      braço haste de relógio
 ao fogo dominhoco os olhos
  q sobraram ao novo mundo
   nomeando o ultimo verso
resíduo de blues em mercúrio
     pélvica caixa acústica
     derramada em cordas
      humana composição
    faísca ao matutino éter
a invenção     a desculpa
pé ante queda
                 porta diante orfeu
cheiro amarrotado de asas
                    civil fantasia
ao dorminhoco  (claro)  o ópio
acorrentado ao resíduo de blues

sábado, 14 de maio de 2016

gato branco e gato preto

adormece gatos entrecoxas repousa cabeça livro entreaberto acarinha carinhos caligráficos pelos pelo menos pés mãos dedos

quarta-feira, 6 de abril de 2016

sonhos em sonho (edgar allan poe)

já se desmancha o beijo sobre teus
olhos abrem até logo como tchau

dissidente com seu certo juízo
de que está morto em meu corpo
a esperança ou mesmo um sopro
dos dias divididos ou pouca porcaria!

minha vista diminuta nega ao regrar
(seria possível ser una nossa visão)
ao privar nossos sonhos em sonhos

curta fronteira entre a guerra e tormenta
que oceano em sua caótica frequência 
pode-me fazer segurar:
                                     punhado ínfimo
riquezas que mesmo querendo escapam

são míseros comparado ao que dorme no mar
entrededos desliza até o fundo da orelha-resposta
liquidando toda a certeza, perder, perder
até restar a oscilação d'uma plácida abstração

 visto e vendo ainda: antes de acordar

quarta-feira, 9 de março de 2016

detergente

físico efeito alquímico
quebradiça tensão superficial
tem-pestade em corpo liso                 
engolido por líquido
                      líquido
 sobre fio
                 dobra
     C que S'obra C'oumo Boros
condutiva aurarum boreal serpente
           escorrega péapercorrer hemplumada
grafa perspectivas em formas adorna
     # linhas (ponto barra vazio)
         ilhas sedimentado fundo (anexo)
                      efêmero moto pendular
impregna opaco pixe'traído à inércia
  câmarOscura: revela
           zoom in [  ]

1447

Vinhas, minha gana (meu vinho engano) sol dos dias nublados sorridentes melancias refresco com gengibre gelo para desidratado deso- lado
T. Waits de timbre subindo escada só dó
sus-
tinindo

Nectar

 coroa de mel
                           virginal peito
      suavidade evoca
 líquidos cores plural feminino
 sílabas suspensas destaca
 vírgulas consoantes desliza
                                        tactíl
 sopro rápido
                      beijo apanha
 mariposa desajeitada
                   beleza adormecida
notas: frag. 13 a 15 p 94
 h. de campos