segunda-feira, 3 de outubro de 2016

prece

eu me despedaço ao mar
que seja febre
eu me despedaço ao mar
meu corpo vira sal
as algas se despedem com cantos gregorianos
sou esquartejado do equador ao sul da cordilheira
eu me despedaço ao mar que seja
meu braço aporta corais de todas as cores
minha mão se liberta dos dedos os peixes os engole
eu me despedaço sobre o mar
ele me engole aos braços fortes de sua saliva
faço o que me pedes
eu me anulo
me despedaço sobre o mar
eu viro sal
o sol por instantes para o movimento das ondas
nesse momento mais vivo do que outrora
eu me estabeleço soberano
o mar me lambe cordial
minhas pernas agora ganham a forma de água viva
quando me recomponho de sal
eu me levanto junto a lua
justamente quando perdes o teu nome
me arrastando pela orla inteira procuro
tuas partes preferidas entre moluscos
encontro a pérola que és esfarelando-se
numa ultima partícula indivisivel
desconhecida de vestido
não há quem ouça minha prece
logo será completo
a tua mudez

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