sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Yadmastoff & A Máquina de Fazer Sonhos

Era uma vez uma garotinha que não irei citar seu nome, pois garanto que ela não gostaria de ter o seu devido nome citado, ou talvez eu esteja completamente errado, pois de uma coisa eu tenho certeza; dela eu nada sei, ou tudo que sei sempre parece pouco, confuso não? Ela é uma aquáriana... ou será que é pisciana? Não lembro, tenho uma memória fraca... Também não importa muito, sei bem que ela era uma boa sonhadora, era não... é uma boa sonhadora, disso eu posso afirmar, e é exatamente sobre isso que irei falar, sobre como foi criada a Máquina de Sonhos. O que essa garotinha tem haver com ela? TUDO!... Mas por onde eu devo começar? que tal do começo, assim ó...
Essa garotinha para existir, teve um pai, esse pai teve um pai, que seria o avô dessa garotinha. Ok, irei parar de chamar ela de essa de garotinha e vou chamar somente Ela. Um avô argentino com ascendencias ciganas, se eu me recordo bem, afinal faz tanto tempo que ouvi essa história d'Ela... Esse avô na verdade era um daqueles cientistas malucos, como todo o cientista, além disso ele era um ótimo avô, talvez melhor avô do que pai, mas disso eu não me atrevo a ter certeza. 
Esse avô tinha um nome, se chamava... Ya... Yadi... Yadi... Yadmastoff Krüen, grande cientista e pesquizador das áreas biológicas, também conhecido por seus estudos das artes herméticas e cabálisticas, mas isso pouco importa, certo? Yadmastoff adorava sua netinha, que vivia sonhando "coisas docês" como Ela mesmo dizia. Vocês sabem como são as crianças, todos vocês leitores já foram, não é mesmo? Ou será que ainda são? de qualquer forma... Ela contou um desses sonhos para o vôvô Krüen que era mais ou menos assim: Ela conhecia um homem bem, bem, bem balofo, que usava um terno azul-cor-do-mar que se chamava Ezequiel, esse moço vendia estrelas, tentava vender, ele tinha como meta vender todo o estoque, mas o pobre coitado não conseguiu vender nem metade das que tinha no céu.
Outro dia Ela contou que voou como uma gaivota por entre a nuvens, e, descobriu que elas eram feitas de algodão doce — Ela adora algodão doce, assim como jujubas — e assistiu deitada numa aconchegante nuvem o sol alaranjado ir embora.
Yadmastoff que adorava ouvir a sua netinha contar seus sonhos. Foi em uma bela manhã de sábado após ter ouvido com atenção outro sonho d'Ela, que ele teve uma brilhante idéia. Correu para sua casa-laboratório, e criou uma máquina para assistir os sonhos de sua netinha, na verdade ele queria gravar os sonhos d'Ela para que Ela nunca os esquecesse, "sonhos são importantes" pensava ele, pensava certo. Ele nomeou a máquina de: Máquina de Sonhos... tudo bem, diferente de sua netinha lhe faltava a criatividade em alguns aspectos.
O funcionamento da Máquina de Sonhos era simples; apenas apertar dois botões verde-cor-folha e outro vermelho-cor-de-fogo, botar as coordenadas, e aguardar o processador da máquina emular os sonhos, a máquina ainda não tinha uma tela pois ele tinha feito as pressas, havia apenas um lugar embaixo da máquina que criaria um objeto, esse objeto — que ele não tinha a idéia da forma — seria o sonho cristalizado, que ele teria que converter para uma fita VHS, que ele acreditava ser uma tarefa simples.
Era a grande noite, ele havia colocado as coordenadas, apertado os dois botões verdes-cor-de-folha e o outro vermelho-cor-de-fogo, esperou o processador de 128 ram emular os sonhos, tarefa que estava acontecendo numa velocidade muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...iiiitooooo devagar, tão lenta que o velho Yadmastoff acabou dormindo em sua cadeira de balanço. No outro dia pela manhã ele foi acordado por Ela, que havia entrado pela porta dos fundos que ele esqueceu de fechar de tão ansioso que estava para testar a sua máquina, ele abraçou a netinha e segurando ela nos braços perguntou se Ela já havia comido esta manhã, Ela balançou a cabeça pra cima e pra baixo como se dissesse "sim, vôvô".
— Eu comi todos aqueles sonhos que estava embaixo daquela máquina cinza-cor-de-tubarão — Apontando com o dedinho indicador para a máquina — Estavam realmente deliciosos, obrigada vôvô! — e Ela deu um grande beijo no vôvô Yadmastoff.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Convidado de Satã

Passo os dias sentado à mesa deste reino lúgubre, do outro lado da mesa está Satã, sou seu convidado, ele me oferece absinto e outros venenos que não recuso, também não é raro que me ofereça um pouco de ópio de sua imensa plantação ou até mesmo haxixe. Vou confessar para vocês que aqui não tem nada diferente de onde vocês vivem, aqui é tedioso e monótono igual ao teu lar, igualmente a tua vida, a unica diferença daqui é que diferente de vocês eu não sofro com o moralismo, de fato para mim nada aqui é profano, é tudo sagrado, é tudo divino; A Lúxuria, a Gula, a Ira, a Preguiça são todas minhas anfitriãs e, de cada uma já provei o mel em demasiado excesso.
— Aqui no inferno tudo é em demasiado excesso! — Retrucou Satã.

Me pergunto até quando vocês — miseráveis — ainda vão viver suas vidas, esperando algo divino acontecer, com estas ambições mediocres. Ainda lembro daquela madrugada de trevas, dia em que Satã deixou em meu umbral uma garrafa de vinho, com um singelo bilhete de bordas queimadas, que dizia: ÉS MEU CONVIDADO PARA TODA A ETERNIDADE. Passei boa parte da noite meditando, estava em dúvida, não sabia se deveria beber ou não, mas após ouvir o conselho de um corvo, sorvi três generosos goles daquele veneno delicioso — na verdade, a garrafa inteira — que certamente veio contrabandeado da adega do inferno. Cai no chão, e agonizei pela eternidade, me contorcendo, porquê como sabem; a alma é eterna e quando morremos angustiamos a eternidade até irmos para o Céu, ou para o Inferno, mas isto são só concepções ocidentais, concepções que abdiquei à muito, ideais ultrapassados. Eu vivo aqui o meu Éden.

Vocês talvez não entendam, mas aqui não existe o Sono e, somos por fim todos insones, sonâmbulos. Alguns malditos vivem vagando pela eternidade procurando algum lugar melhor do que este, mas só descobrem lugares iguais, alguns acabam por ficar nestas terras (que são iguais a esta) e nunca mais retornam, outros ficam no meio do caminho perdidos para sempre, eu — apesar de não ser prisioneiro, e sim um convidado — passos as horas aqui, escrevendo meu livro Negro, descrevendo vertigens, delírios, tudo que não for possível expressar, tudo de mais sublime, tudo que for etéreo, os eternos mistérios.
As horas aqui não passam, o relógio do tempo está quebrado...
— Morte ao Cronos! — Berra um dos malditos, que agoniza espetado pelo tridente de Satã. 
Deve ser por isso que aqui as horas são eternas, não existe o tempo... é sempre a mesma hora, a hora de esperar pelo que não há de vir...
— O que vai querer Senhor... haxixe, absinto, ópio, ou...
— Me traga de tudo! — Interrompi servo bruscamente.
— Sim senhor! — E ele foi daquela maneira meio curvada, como todo servo faz.
Finalmente algo vai acontecer.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Doce Sonho (Noite de Neblina)

Noites de luares, neblinas,
De idéias vagas, cristalinas,
És o conforto, o perfume,
Que em sonhos se resume.

Imagens de forma pura,
Distorcidas pelo leve pensar,
Exalam o cheiro de doçura.
— Já é hora de acordar?

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Crônica Do Escritor Sem Vontade (Ou A Prosa Do Alquimista Preguiçoso)

Estou em meu quarto sozinho, na verdade acompanhado da minha velha e boa máquina de escrever — minha fiel escudeira —, a cortina fechada, que não impede que a luz do dia penetre em meus aposentos, deixando uma leve iluminação, exatamente perfeita — eu diria — para escrever um daqueles romances, que possuem uma beldade de cabelos cor de trevas, um belo herói — que seria uma personificação minha —, e sem esquecer de um enredo atroz e agonizante, que seria o verdadeiro antagonista da história.
Mas não acordei com tal disposição para escrever romances, e já faz algum tempo que ando assim, sem muita vontade de escrever, ou tudo que tento escrever acaba por não ter um fim. Talvez eu tente escrever mais tarde...

...O escritor, deitou-se em seu leito em uma tentativa de dormir, mas não conseguiu, ficou então observando o teto, pensando no que teria para almoçar, pensou também o quão lenta continuaria a sua vida até chegar ao fim, é ai que surge alguém, que pergunta:

— Quando você vai terminar a minha história? — Disse uma voz no fundo do quarto.

O escritor levantou em um pulo, e assustado disse:

— Que susto me deras criação minha, por onde andavas todo este tempo? Ainda guardo boas lembranças e inspirações dos nossos últimos diálogos.

— Então porque tu não escreves? E finalmente termina a minha história, me diga o que preciso para ter a pedra filosofal, ou para tornar chumbo em ouro.

— Mas já te disse... Você não sabe nada de alquimia, você nem ao mesmo abriu um livro se quer.

— Você é o meu criador, com uma borracha e um lápis pode mudar tudo isso, me fazer um erudito das artes alquímicas.

— Mas então como terminaria a sua história... Qual seria o clímax?

— Eu descobriria ser filho de Hermes!

 Risos foram ouvidos da platéia

— Que final ridículo para Kupfer Von Der Bleizinn, nunca escreverei tal coisa!

— Mas... — Logo calou-se sem resposta.

Ouve um silêncio mortal dentro da sala, o escritor estava com a cara franzida, pensava em uma solução — não-alquímica — para aquele problema...

— E que tal se eu... — tentou falar alguma coisa, mais pensou; "melhor não".

— Já sei um final, e trate de ficar calado! — Disse num tom imperativo, e começou a escrever na máquina, como se tocasse uma ópera em um piano.

Depois de muito tec-tec-tec...

— Aqui está o seu final! — Disse o escritor, orgulhoso.

— Deixe-me ver, deixe-me ver! — Os olhos de Kupfer reluziam como diamantes debaixo d'água. Ele pegou a folha, encheu o peito de ar e começou a ler em voz alta.

...Depois de ter finalmente lido e decorado milhares de livros sobre alquímia, desvendado os mistérios do planeta, transformado-se de chumbo para ouro, feito a pedra filosofal, finalmente alcançando a tão desejada imortalidade, a vida voltou a ser tediosa...

— Mas isto está quase péssimo! — Retrucou Kupfer

— Continue lendo, ainda não acabou...

...Queria agora ser uma pessoa normal, queria ser mortal, queria morrer. Leu em uma revista que cigarro era uma morte lenta, começou a fumar, — ele não tinha coragem de testar uma morte rápida. Alquímia foi abandonada, junto com um infinito número de livros que tinha, também tratou de explodir o laboratório. Se afundou na bebida.
Foi em um bar de-um-china-qualquer que conheceu um poeta, um desses tristonhos e sem muito dinheiro, ouviu dele as palavras: 
"Cada letra que escrevo,
 vai-se gotas do meu sangue, 
rubra tinta das m'nhas dores.
Que o ponto final lacre
outro coração sem amores."

 Desse dia em diante pensou que ser poeta era sentir a dor, era agonizar, era pior que morrer. Enfim tornou-se poeta.

— Você realmente não sabe escrever finais!