quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Crônica Do Escritor Sem Vontade (Ou A Prosa Do Alquimista Preguiçoso)

Estou em meu quarto sozinho, na verdade acompanhado da minha velha e boa máquina de escrever — minha fiel escudeira —, a cortina fechada, que não impede que a luz do dia penetre em meus aposentos, deixando uma leve iluminação, exatamente perfeita — eu diria — para escrever um daqueles romances, que possuem uma beldade de cabelos cor de trevas, um belo herói — que seria uma personificação minha —, e sem esquecer de um enredo atroz e agonizante, que seria o verdadeiro antagonista da história.
Mas não acordei com tal disposição para escrever romances, e já faz algum tempo que ando assim, sem muita vontade de escrever, ou tudo que tento escrever acaba por não ter um fim. Talvez eu tente escrever mais tarde...

...O escritor, deitou-se em seu leito em uma tentativa de dormir, mas não conseguiu, ficou então observando o teto, pensando no que teria para almoçar, pensou também o quão lenta continuaria a sua vida até chegar ao fim, é ai que surge alguém, que pergunta:

— Quando você vai terminar a minha história? — Disse uma voz no fundo do quarto.

O escritor levantou em um pulo, e assustado disse:

— Que susto me deras criação minha, por onde andavas todo este tempo? Ainda guardo boas lembranças e inspirações dos nossos últimos diálogos.

— Então porque tu não escreves? E finalmente termina a minha história, me diga o que preciso para ter a pedra filosofal, ou para tornar chumbo em ouro.

— Mas já te disse... Você não sabe nada de alquimia, você nem ao mesmo abriu um livro se quer.

— Você é o meu criador, com uma borracha e um lápis pode mudar tudo isso, me fazer um erudito das artes alquímicas.

— Mas então como terminaria a sua história... Qual seria o clímax?

— Eu descobriria ser filho de Hermes!

 Risos foram ouvidos da platéia

— Que final ridículo para Kupfer Von Der Bleizinn, nunca escreverei tal coisa!

— Mas... — Logo calou-se sem resposta.

Ouve um silêncio mortal dentro da sala, o escritor estava com a cara franzida, pensava em uma solução — não-alquímica — para aquele problema...

— E que tal se eu... — tentou falar alguma coisa, mais pensou; "melhor não".

— Já sei um final, e trate de ficar calado! — Disse num tom imperativo, e começou a escrever na máquina, como se tocasse uma ópera em um piano.

Depois de muito tec-tec-tec...

— Aqui está o seu final! — Disse o escritor, orgulhoso.

— Deixe-me ver, deixe-me ver! — Os olhos de Kupfer reluziam como diamantes debaixo d'água. Ele pegou a folha, encheu o peito de ar e começou a ler em voz alta.

...Depois de ter finalmente lido e decorado milhares de livros sobre alquímia, desvendado os mistérios do planeta, transformado-se de chumbo para ouro, feito a pedra filosofal, finalmente alcançando a tão desejada imortalidade, a vida voltou a ser tediosa...

— Mas isto está quase péssimo! — Retrucou Kupfer

— Continue lendo, ainda não acabou...

...Queria agora ser uma pessoa normal, queria ser mortal, queria morrer. Leu em uma revista que cigarro era uma morte lenta, começou a fumar, — ele não tinha coragem de testar uma morte rápida. Alquímia foi abandonada, junto com um infinito número de livros que tinha, também tratou de explodir o laboratório. Se afundou na bebida.
Foi em um bar de-um-china-qualquer que conheceu um poeta, um desses tristonhos e sem muito dinheiro, ouviu dele as palavras: 
"Cada letra que escrevo,
 vai-se gotas do meu sangue, 
rubra tinta das m'nhas dores.
Que o ponto final lacre
outro coração sem amores."

 Desse dia em diante pensou que ser poeta era sentir a dor, era agonizar, era pior que morrer. Enfim tornou-se poeta.

— Você realmente não sabe escrever finais!

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