terça-feira, 1 de novembro de 2016

tempo da colheita

é tempo da colheita
dos frutos suculentos da paixão da polpa adocicada
maduros da amarga espera dentro do vasilhame impúbere
morder os frutos doces e podres da melancolia geométrica
de olhos e dentes separados em éter como brotos de um vaso
bocas de cinzeiro servirão para nova palavra cinza que retorna
a carta suicída ditada de que não fui responsáveis pelos atos essa essência
o signo pélvico em moto perpétuo coberto como uma bicicleta fazendo música
as pernas como se fossem alicates tortuosos presos como ancoras
apague as luzes me arraste para debaixo das tuas renegadas asas e diga olá para nunca
a escuridão que tece teus lábios tão perto tão cego quanto uma aranha bêbeda
primavera no peito seco onde apenas o oco pode arpejar acordes bizantinos
meus lábios retem em película o gozo das luvas brancas brancas
a mão desenhando na areia dos cabelos a vigília o sonho a vida
os pés na farinha da cordilheira espinhal a epiderme arredia
narizes azuis da bebedeira deixarão saudades cantaremos o fado dos marinheiros
amantes sem braços de forte ligas de cromo na forja tempestuosa
passantes eternos da luxuria e eterna fome algo que coube afogar na banheira
de quem deve mais que um beijo um suspiro anterior a entonação tônica do amado
houvera o tempo esse tempo aquele tempo acola tempo e desdem
porque o pulso forte das horas já faz passar do tempo o fastio da espera
colhemos os frutos esculpidos em minero de núpcias o enigma em forma de face
temos ainda as pernas soltas como as baratas que se arrastam para fora
estamos na primeira ilha revertemos a criação não temos o instinto burguês
metáfora rasa é tempo da colheita de metáforas vazias e fáceis
que desenterram homens feitos em argila que num sopro
se desmancham sem sobrar mais nada
todas as costelas para poder respirar por outra boca
seguro meu prazer como tem as rédeas do puro sangue
fica por mais até do absinto sorver nossos sentidos
o campo verdeja de sintaxes imaginando a infância

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