quarta-feira, 20 de julho de 2011

Denise, Estou Atrasado (De novo)

Estava saindo de casa, como sempre atrasado.
Me desculpe Denise, você sabe como sou... Acabei saindo em cima da hora, mas acho que não terá problema, afinal você tem que fazer alguns minutos de horas extras, para compensar aquela sua chegada atrasada do almoço. O ônibus sempre passa exatamente no horário que você já devia estar no serviço, não é culpa sua, eu sei Denise, não estou julgado... estou somente divagando, afinal chegarei atrasado mas chegarei antes de você sair.
Chegar antes de você sair me deixa contente, pois prefiro esperar do que fazer você esperar. De fato, já estou na frente da empresa, cheguei faz pouco tempo. Estou do lado do orelhão, observando dois irmãos, que estão a soltar pipa. É aquela velha história: O mais velho querendo cortar a pipa do mais novo, e o mais novo num tom choroso dizia:
— Ah, não faz cara! Não faz! Enquanto o irmão mais velho ria, um riso sátiro.

Nesse tempo o sinal da fábrica tocou alertando o horário de baterem o cartão-ponto. Foi ai que do outro lado da rua, dobrou a esquina uma mulher com uns quarenta-e-tantos anos, cabelo grisalho, baixinha, andando de mãos dadas uma criança que segurava firmemente a sua mão, e logo atrás um homem em um andar rápido, feroz. Eu podia perceber que algo ali iria acontecer. A senhora olhou p'ra trás, e assustou-se ao ver aquele pobre-diabo, que balbuciou alguns sons de ira e indignação. Era uma "simples" discussão de casal, uma cena atípica e desconfortante também. Engraçado era ver como a criança se comportava indiferente a tudo aquilo que acontecia a seu redor, com um sorriso contente. Então acreditei que eu era como aquela criança, que apesar ser oprimido pelo tédio, pelo ódio, por uma porção de sentimentos e sensações ruins, conseguia estar contente, apenas no meu mundinho, te esperando.
Entende agora por que eu me atraso Denise? Estás minhas divagações parecem que nunca findam, tudo me chama a atenção.
Por sinal, ai está você fechando o portão da empresa, de tão distraído quase não percebi. Após fechar o portão você amávelmente pergunta;
— 'Tá esperando muito tempo? — Pensei um pouco antes de responder, disfarçando um pouco.
— Não, acabei de chegar — disse com um sorriso infanto.

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