sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma dia da rotina de Ernesto Pereira

Passava horas e dias sentado, atendendo pessoas de todos os tipos, com as mais variadas dúvidas, as mais absurdas perguntas. Nenhuma vez, na verdade nunca, lhe faltou o sorriso no rosto e a boa educação. Tinha medo de ser mal educado, de não sorrir, de não ser simpático, de não fazer o seu trabalho bem (Mas é claro que com o passar dos dias...). Por sorte, ele havia encontrado sua musa inspiradora, e, ela estava logo ali; numa parede branca, onde um pincel pintou com tinta verde um retângulo, estava o rosto dela quase como colada na parede. Olhos azuis, cabelos loiros, um sorriso. Um sorriso, que em efeito dominó, criava o caos, fazia florescer outros sorrisos. O sorriso dele.
De mim um sorriso também surgia, junto com inúmeros suspiros dentro de devaneios. Gostava de imaginar, quando não havia ninguém para atender, que aquela moça que ficou como pintada, ou colada naquele meu muro, que não era meu. Custaria muito ela vir aqui ser atendida, pra quem sabe comprar alguma coisa, qualquer coisa. Pra mim você nunca vai sair da minha parede, mas bem que podia.
Quando entrava no ônibus, num estado semi-letárgico, e ouvia "próxima parada: Praça Bella Feitosa dos Santos", gostava de imaginar que aquela mesma moça que ele via na sua parede, era a mesma que falava, com ele no ônibus. Sentava-se numa cadeira qualquer, deleitava-se com a cadencia da melodia, tão bela. Si belle.
Pelas ventas entrava um cheiro, aquele cheiro acebolado que parecia exalar de todos e dele também. Sentado, caia no sono, se não sonhava com ela, sonhava com a coxinha que iria comer logo a seguir. Cosi gustoso. Se não dormia, gostava de observar as pessoas e imaginar o quão odiosa é a vida humana, pelo menos dentro daquela caixa metálica ambulante parecia ser, então, logo preferia olhar a janela, esvair o pensamento para bem longe do terceiro planeta do sistema solar e entrar em outra órbita. Mesmo sem querer dormir, acabava dormindo.
Acordou no ponto certo, no ponto de sair. Sempre que saia dizia tchau pra aquela loirinha, que sorria pra ele, eternamente na sua parede e que vivia dizendo tão sutilmente: próxima parada...

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