terça-feira, 1 de maio de 2012

Shoegazing

Ele finalmente havia chegado a uma conclusão, a vida realmente não tinha sentido algum. A vida era exatamente como a calçada das ruas, cacos brancos e pretos que juntos dão a ilusão de formar uma imagem quando na verdade são apenas cacos. Estava pesado de respirar, o caos sufocava a garganta, ele não tinha vontade de ir ou de ficar. De um segundo pra agora sentiu-se feliz, mas logo voltou a ficar triste.
Ele estava enjoado, cansado da monotonia das pessoas, da vida que já não tinha sentido, que nunca teve, mas só hoje, (novamente) só hoje compreendeu isto. Só hoje... queria não ter nascido.

O que então era ou é o ser humano? Um boneco de carne ambulante que apodrece enquanto vermes e bactérias se alimentam dele ainda vivo até ele definhar, apodrecer e morrer. A vida não se trata mesmo disso, não é mesmo? Se alimentar, viver, mas... para o que?
Com quem falo neste momento, você sabe o que é ser? Me responda... Me aflinge o teu silêncio, a tua apatia... Como é estar vivo e continuar morto? Me diga...
Nunca houve realmente um sentido, porque me questiono isso agora, parece-me muito mais interessando do que encontrar um sentido pra vida. Já faz mais de 32 horas que eu não durmo, estou cansado mas não tenho sono, quem dera descansar um pouquinho e acordar de outra forma. Simplesmente não acordar.

No caminho de volta para casa, enquanto refletia mais coisas absurdas, avistei uma moeda grande prateada, tinha o desenho um mulher muito bonita, como uma Deusa, Afrodite, Vênus. Quem se importa com isso afinal? Se a vida realmente não tem sentido, porque eu já não faço o que eu realmente quero, porque? O que você realmente quer? Talvez seja a grande questão da vida.
Mas novamente, quem se importa?

Durante o caminho de volta, houve uma ventania de pensamentos, em um fluxo constante de idéias que iam e vinham e se chocavam, mas de alguma maneira não existia interesse dele com as próprias idéias, pensava se ia conseguir dormir hoje a noite, ou o que faria amanhã: escrever mais uma música triste, ou mais uma dessas histórias surradas sobre um homem que um dia nunca mais se entendeu.

Já não posso me entender. Sou um fracassado. Estou rindo da minha existência patética e inútil. A pior coisa que poderia acontecer nesse momento seria ver meu próprio reflexo, não do que eu sou, mas do que estou me tornando, se eu fosse religioso eu pediria piedade para minha própria mente inquieta que anda tão atormentada, mas como não sou irei tentar ignorar, como todas as coisas que me atormentam que eu carrego, simplesmente carrego como se não fosse nada. Como realmente a vida é patética, queria que algum de vocês estivessem aqui vendo, o meu reflexo, ririam comigo, se sentiriam estúpidos comigo, e, de alguma maneira nós alimentaríamos algum vicio que temos, que sabemos que nós destrói lentamente, só como uma forma de auto-flagelação. Eu realmente estou a rir dessa idiotice, não descarto uma certa verdade irônica (e até mesmo cômica) nesses pensamentos. Como é ridículo, não me canso de pensar isso e de rir. Aquele riso de pavor. Um velho hábito e um brinde para as coisas desnecessárias.

Dentro dele algo reverberava um grito, um latido estridente, cortante, voraz, que fervia dentro de seu humor, queria sair da garganta mas era impedido. Tentou rosnar, mas a pressão que lhe segurava a voz que surgia do estômago. Ignorou aquele grito. Espirrou. Pegou a moeda com o rosto da Deusa em relevo, jogou ao ar, esperando uma cara ou coroa. A moeda cai ao chão. Não sentiu vontade de olhar, afinal o que havia apostado realmente não importa, tanto não importa que nem ao menos citei.  Deitou na cama e dormiu de bruços com a cabeça enfiada no travesseiro. Deitar era para onde a vida dele havia botado o sentido, pelo menos naquele momento. Amanhã, quem sabe olhar a moeda deixada com face ao chão.

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