terça-feira, 19 de março de 2013

Capítulo do Bar (no entremeio das páginas 3 e 96)

 Conheci Paulo no bar do Japa, não sei como ou porque, simplesmente, estávamos conversando. E sabe como é bêbado conversando com outro bêbado. Depois disso viramos amigos, pois era freqüente nos avistarmos (fora do bar). Os motivos que ele veio morar aqui? Alguns dizem que ele brigou com o pai e com mãe aos dezessete anos, foi morar na rua. Logo teve que voltar, mas não desistiu da idéia de sair da casa do pais, por isso encontrou um trabalho, caixa de mercado ou atendente de pseudo-fast-food-saudável. Guardou a grana e vazou pra cá. Adivinhe só qual foi o primeiro bar que ele parou? Não deixou tempo para um resposta e já costurou: Exatamente aqui! Esse bar tem histórias, lembro até do meu primeiro porre aqui, quando pedi pro Japa umas doses de cachaça; acho que ele tava usando uma camiseta do Misfits, chumbei demais e sujei a parede com gorfo; só lembro dele falando que eu tava parecendo um chafariz (— MAQUECARALHO! Comé que tu conseguiu vomitar no teto?) e que eu ia limpar tudo. Ah sim, o Paulo, não sei bem o que faz. Penso eu que ele vive de vender maconha, ele sempre pega um fumo daora e num preço camarada. Ele curte uma cocada boa, ficar ligadão, passar noites em claro gozando do ócio. William e Matilde dizem que Paulo é bicha, que ele é garoto de programa. Eu sempre digo: bom pra ele, tá trabalhando ganhando a grana. E passando pelo mercado antes do Bar, no ponto de táxi (o ponto dele?). Vou me aproximando, tentando ter certeza (a miopia é a grande vilã).

— Eae filho-da-puta!

— Fala Guilherme, tá indo no bar?

— Tô sim, jogar um sinuca; tomar uma bera.

— Maneiro, acho que mais tarde eu apareço lá.

— Belê.

Batia um vento frio, mas mesmo assim eu pedi uma cerveja. O hábito de beber e contemplar, seria quase como matear numa cadeira de balanço no quintal da casa, mas nada como abrir um caderno antigo, ou ver uma antiga foto. Sentei do lado de fora do bar, na sarjeta mesmo (FLASHBACK: — SARJETAAA, FALA COMIGOO!), fumando um cigarro. Provoquei o Japa pra um jogo de sinuca, não tinha muito movimento e quando se põem dinheiro na aposta, ele não recusa, da pra ver um olhar sanguinário do Jackie Chan nele. Apostei quatro reais, o preço de uma cerveja. Foi fácil ganhar dele.

1) Japa é um dono de bar descuidado, sempre tá molhando o bico num caninha ou numa cerva, a sorte dele que a galera lá bebe mais que o suficiente pra pagar até duas vezes sem saber. Mas ele não tava tão bebo assim, só suficiente pra ficar com os músculos moles e os cálculos lentos. Apesar disso ele jogava bem pa caralho, concentração samurai. Anos e anos fritando batatas fritas e cuidando do bar mesmo.

2) Infelizmente ele era o dono do bar, sendo assim era requisitado para pegar mais cervejas praquela insáciavel freguesia. Nesse momento eu aproveitava pra jogar uma bola minha na caçapa. Claro, fiz tudo num compasso devagar, porque ele é um desconfiado fodido, um chinês (não vou entrar em divagações e questionamentos do apelido). 

— Tu roubou, seu fia da puta!

— Vai aprender a jogar sá porra — Me fitou sério, eu querendo rir, disse: — vai pegar a bera!

Paulo apareceu mais tarde, contando uma história: tava ali sentado tranquilo, no meu ponto, fumando um cigas, esperando o Osmar chegar (um taxista que tens uns problemas com a família). Ai parou um taxi, pensei que fosse ele, já fui entrando. Percebi que era um velho careca, desses que puxa o cabelo dos lados pra disfarçar a careca, com uma cara pederasta fodida. Falou assim: tu sabe onde posso encontrar uma coca? Se sabe como é; entrei no carro e tava até agora fazendo um corre louco fodido. O cara me contou que tem uma esposa que ama e tudo mais, mas que não sente mais tesão por ela. Mas é que foda, comodismo respondeu Guilherme. É foda, só que dai ele prefere fazer troquinha com travestis. As vezes, eu acho que tu deveria escrever um diário com essas histórias. Deixa de ser tolo, diário é coisa de boiola. Mas tu não cheirou coca no pau dele? Eu não o pau dele tinha mais furo que uma flauta transversa. Ele riu da piada e eu continuei: por sinal, cê sabe a vida é uma relação de troca? Troca, como assim? Sou teu amigo, porque sei que tu me acompanha nas beras e principalmente que tu é um cara que eu vou contar algo e vai ter algo pra me contar de volta, como se a conversa se alimentasse, até o infinito das repetições (quando a gente não consegue mais desenvolver as idéias e elas ficam dando voltas). Tá querendo outra cerveja? Não cara, o que eu quero dizer é outra coisa, assim; você pode chegar em qualquer garota, mas se você só chegar pra querer pegar ela, ela só vai te querer pra pegar ela e ponto. Sem encheção de saco, sem compromisso. É  assim que tu ganha dinheiro? Ganho dinheiro de outro modo, mas também é uma troca. Tu é um puto mesmo. E tu és um canalha, que só vê um reflexo seu; se todas as mulheres são iguais pra você, é porque você é igual pra todas elas; se a tu acha a vida uma bosta, é porque você é um bosta e é só isso que você consegue ver. Cara, tu tá doidão? eu nunca falei nada disso. Mas pensou, que eu sei. Cara, se você pensou isso por mim, o que eu posso fazer? Tenho certeza, de que você e eu somos partes de uma mente esquizofrênica, que quando bebe demais. Vai lá pegar uma bera e cala a boca véi, pelamor... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário