terça-feira, 5 de março de 2013

Composição, seguido de uma valsa.

 O interior das paredes são finas e feitas de algum material sintético; entre o tecido e o plástico, o papel de parede é composto por linhas ciano que se alternam com as pretas. Não há móveis, nem relógios de parede, eletrodomésticos, quadros ou até mesmo luz (essa que as vezes entra sem querer). Existem pedaços de notas, bilhetes, contos, histórias, desenhos; todos inacabados ou ainda imaturos, que por tanto tempo parados estão se desfazendo em poeira ou em mofo no chão. Algumas partes da parede estão manchadas; é provável que algum dia tenha resolvido pintar um quadro, ou simplesmente cansado da monotonia das cores resolveu explodir canetas azuis. Não existem cômodos confortáveis, ou são pequenos demais ou estão cheios de tralhas inúteis, das quais segue a lista pela desordem do tempo:

Várias fotos 3x4, dentre elas; uma antiga; de um homem de cabelos castanhos penteados para trás, bem alinhados, ao melhor estilo italiano
Óculos de sol, de lentes arranhadas
Cartela que contém apenas dois (dos quatro) comprimidos contra gripe
Grãos de areia do litoral de Santa Catarina
1 Pena
1 Colar, sem pedra
1 Pedra
Pêlos de gatos
Isqueiro alaranjado, já sem fluído
2 Camisinhas
Manual de bolso como viajar sem ter onde dormir
Canivete Suiço (do Paraguay)
Brinco, sem par aparente
Incenso krishna quebrado na metade
Chave Inglesa
Inúmeros botões
Cartão de crédito de Teodoro
Lamina de barbear
[...]

 Aqui; se observado bem, é possível visualizar um buraco que dá para outro compartimento de uma escuridão imensa. Nunca descobriremos onde termina e começa a divisão desse, ou que coisas estão aqui e lá, ou se lá está aqui e o que está aqui é o que está lá, ou se estiveram aqui ou não. Cabe apenas informar que é impossível calcular e desvendar o que há, somente se ouve um barulho bastante similar a de um zíper sendo aberto, libertando(?): o mar e o vento conversando, o piano descendo serelepe a escala de ré, o ruído da agulha sobre o vinil (Pillow of Winds), o miado estridente de um gatinho manhoso, um pássaro cantando pela manhã, o som espacial emulado do console, o dialogo de dois amigos loucos que riem sem motivo aparente, o barulho de motor e de gente gritando, a CPU informando que não irá mais funcionar, o sinal para o recreio, a risada estridente de alguma moça cachorros latindo ruídos do rádio um arroto estrondoso vozes de apresentadores de TV choro de uma criança uma roda de samba um acorde de sétima menor e uma voz desafinada rufar de passos som de canudo no copo vazio talheres de metal no prato de cerâmica, o estilhaçar de um copo, o riscar da pedra do isqueiro, um grito de NÃO!, o barulho de beijos apaixonados, a ração caindo no pote, uma torcida inteira vibrando, o estalo de uma queda, a fórmula de Baskhara recitada por um homem, cigarras sinos grilos expressões idiomáticas que resumem tudo uma mão que pega o fechecler e o abre e etc. etc. etc.

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